
Os jornalistas esportivos, na sua maioria brancos, estão sendo obrigados a falar de racismo com uma frequência maior do que habitualmente se expressam. O caso mais recente aconteceu no dia 6 de março, na vitória do Palmeiras sobre o Cerro Porteño, por 3 a 0, pela Libertadores Sub-20, aos 36 minutos da segunda etapa. Luighi ao ser substituído, foi chamado de macaco pelos torcedores presentes. O jogador alertou, os policiais e a arbitragem da partida sobre o ocorrido, mas o árbitro Augusto Menendez ignorou e deixou o jogo seguir normalmente.
Luighi deu um dos mais importantes depoimentos sobre racismo que marcou o mundo de comunicações. “Dói na alma. E é a mesma dor que todos os pretos sentiram ao longo da história, porque as coisas evoluem, mas nunca são 100% resolvidas. O episódio de hoje deixa cicatrizes e precisa ser encarado como é de fato: crime. Até quando? É a pergunta que espero não ser necessária ser feita em algum momento. Por enquanto, seguimos lutando”, publicou o atleta palmeirense no Instagram.
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Tenho acompanhado diariamente os programas esportivos e as manifestações dos jornalistas, que têm sido obrigados a se manifestarem sobre o episódios de racismo. O que impressiona é que são falas rápidas de indignação. Alguns mostram sua ignorância e despreparo em relação a complexidade do racismo, e outros sempre falantes se refugiam no silêncio ou na fala de obviedades.
O fato novo é o envolvimento da Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL), que é uma instituição esportiva internacional que organiza, desenvolve e controla competições de futebol como o torneio da Libertadores. Uma entidade que tem um histórico de inação e omissão em casos de racismo em torneios desportivos. E a última declaração do presidente da Conmebol dá uma ideia de como o racismo faz parte do cotidiano.
Após um discurso em português em que condenou o racismo, mas não anunciou nenhuma medida para combatê-lo, o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, fez uma analogia envolvendo um macaco ao citar a possibilidade de a Libertadores não ter clubes brasileiros. Perguntado na segunda-feira à noite se imaginava como seria uma Libertadores sem os clubes brasileiros, Domínguez respondeu da seguinte forma ao site BolaVip: “Seria como o Tarzan sem a Chita”. E deu uma risada sarcástica.
É inconcebível a analogia com o chimpanzé que atuava nos filmes de Tarzan. Não há como ele ignorar que uma das manifestações racistas mais frequentes nos estádios são torcedores imitando macacos. Em vez de punir os racistas, Domínguez se uniu a eles. Os mais velhos vão se lembrar de que o clássico personagem das selvas africanas, Tarzan, era sempre acompanhado de sua fiel escudeira, a chimpanzé Chita, em uma jornada com claro viés colonialista e racista.
A forma sarcástica e racista que o dirigente se comunica dá uma nítida noção de desprezo pelas vítimas do racismo bem como aos dirigentes de clubes brasileiros. O racismo fere a dignidade humana, e não pode ser contemporizado com declarações de desculpas e alegadas brincadeiras.
A América do Sul está sendo levada a discutir ações contra o racismo, e rever como cada país trata do tema em suas legislações. O Brasil passa a ser a referência. Fruto de lutas do movimento negro e lideranças, que desde o século XIX lutam por direitos para a população negra. Estamos em um momento favorável a uma articulação dos negros na diáspora na América do Sul. O Brasil poderia financiar e promover um encontro dos negros na América do Sul para juntos promover uma ação coletiva contra o racismo.
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