Minha infância passou pela minha cabeça em quase todas as falas das palestrantes do “TEDxSão Paulo, Mulheres que Inspiram”, realizado nesse último sábado,23, no Hotel Unique com a colaboração da consulesa da França, Alexandra Loras. O evento, mundialmente famoso, por dar voz a pessoas com ideias que devem ser espalhadas, teve um formato inédito, onde mulheres negras foram a maioria das palestrantes.
De que forma o que eu ouvi, presenciei, assisti quando era criança me transformou no que eu sou? Como a falta de diversidade, presente na fala da atriz e empresária Kenia Dias, sobre o poder da identificação e da jornalista Nadja Santos, que diz que representatividade tem que existir, com relevância, influenciou na minha autoestima?
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Para Patrícia Santos de Jesus, sócia-fundadora da Empregueafro, por exemplo, o veto de seu pai ao sonho de ser médica, a tornou em uma consultora de diversidade em empresas multinacionais, realizando um trabalho pioneiro no Brasil.
Já Marta Celestino, diretora de Marketing e Novos Negócios na Ebony English tinha o hábito desde bem pequena, de pegar a mochilinha e ir para estação de trem, pelo desejo de explorar outros lugares. Isso a transformou em uma observadora da diáspora e pesquisadora da cultura africana nos vários países que ela conheceu.
O Hip Hop e a poesia deram a jornalista Daniela Gomes, a advogada Mayara Souza e a produtora cultural Mel Duarte, respostas para muitos dos seus questionamentos sobre raça, privilégios e violência. A escrita e a leitura, foram a válvula de escape de Stephanie Ribeiro, que presenciou durante a infância as mulheres de sua família fazerem o mesmo.
A repulsa com a sexualização do corpo infantil, tão precoce e nada subliminar, fez com que Nataly Neri, se tornasse uma das grandes vozes do feminismo negro online, usando o YouTube, como plataforma, para quebrar os estereótipos do corpo negro como fetiche.
Viviane Duarte, que recebeu, quando criança, incentivos até de vizinhas, quando empreendia vendendo os bolos de sua mãe, dedica seus conhecimentos adquiridos em um carreira bem sucedida em publicidade, à meninas que como ela, nasceram na periferia.
O racismo, tão presente na vida de nossas crianças, não é fator determinante para limitar as suas oportunidades, sobretudo quando você encontra alguém ou alguma coisa que te faça enxergar o mundo além das adversidades.
Sonhos reais
O sonho também é um privilégio. A violência, falta de instrução dos pais, preterimento por parte da escola, como aconteceu com a cientista da computação Glaucia Costa, que resistiu ao racismo dos colegas, faz com que muitos negros e negras limitem suas ambições. A Doutora em antropologia social Angela Domingues fez um importante alerta, durante sua palestra, de como podamos a criatividade e imaginação das crianças, reduzindo, por consequência a sua capacidade de imaginar e deslumbrar da possibilidade de ser o que quiser.
Eliane Dias, advogada e empresária, destacou muitos exemplos de como transformar nossos pensamentos em atitudes, para sermos o que quisermos e não termos medos de encarar as próprias escolhas.
Desconfortos necessários
Obviamente o tema racismo esteve presentes em quase todas as falas das palestrantes desse edição tão especial e necessária do TEDxSãoPaulo. A inspiradora juíza Mylene Ramos, mestre e doutora em Direito pelas Faculdades de Direito das Universidades de Columbia, em Nova Iorque e Stanford, na Califórnia, apresentou dados que mostram a importância de um sistema judiciário diverso, que represente a comunidade de forma efetiva, para que diminua o número de pessoas negras presas injustamente.
A empreendedora inspiradora Monique Evelle, do Desabafo Social também provocou o público com seus apontamentos certeiros, de como as vezes o empreendedorismo surge na vida de muitos negros e negras, por uma questão de sobrevivência.
As palestrantes brancas, presentes num evento majoritariamente formado por mulheres negras, provaram porque estavam ali. Lia Vainer Schuman mostrou que a “branquitude” está presente até entre os moradores de rua, onde brancos têm acesso aos banheiros de shoppings e ganham mais gorjetas que os negros.
Mariana Barros encerrou a grande noite, com uma fala sobre interculturalismo, nos levando a reflexão de como o mundo seria melhor, se nós uníssemos pelas nossas semelhanças ao invés de criarmos guerras por nossas diferenças.
O TEDxSãoPaulo, o das mulheres negras, foi uma experiência única que, entre várias reflexões, inquietações e questionamentos, a pergunta mais feita por todos, durante os breaks, era: porque não aconteceu antes?
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