Três alunas do Ensino Fundamental da Escola Estadual Profª Leila Mara Avelino, em Sumaré (SP), notaram que diversas jovens negras recorriam ao alisamento de seus cabeços para escapar de alguma maneira de comentários racistas e decidiram dar um basta nisso através do projeto “Cabelo, autoestima e construção da identidade da menina negra“, um dos 11 premiados da 4ª edição do Desafio Criativos da Escola.
O programa Criativos da Escola, do Instituto Alana, apresenta oito projetos transformadores de estudantes do ensino fundamental ou médio que promoveram reflexões sobre a luta que as mulheres negras enfrentam dia a dia em todos os seus ambientes (escola, trabalho e família), sendo impactadas por um preconceito duplo, de gênero e de raça.
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A iniciativa veio a partir da aplicação de uma pesquisa entre colegas e os dados levantados entre os 317 estudantes do colégio deixaram as meninas surpresas: 48% dos alunos afirmaram ter feito piadas sobre o cabelo das colegas, e 30% das alunas declararam ter sido vítima dessas situações.
A negação da própria identidade entre os jovens foi outro dado que chamou a atenção. Mesmo sendo a maior parcela dos estudantes, apenas 18% se declararam pardos e 23% pretos. Paralelamente às pesquisas, as jovens criaram o clube juvenil “Naturalmente Cacheadas”, um espaço de diálogo sobre autoestima, empoderamento e incentivo para que as garotas assumam a beleza natural dos seus cachos.
As idealizadoras conseguiram tanto sucesso com o projeto, que têm sido convidadas para palestrar em universidades e em seminários nas cidades vizinhas, além de firmarem parcerias com grupos como “Ponto de Cultura e Memória Ibaô” e com a “Pastoral do Negro“. Recentemente, o grupo soube que inspirou uma escola em Campinas (SP) a realizar ações semelhantes.
A pesquisa, que inicialmente era um projeto escolar, virou um projeto de iniciação científica com direito a financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), e foi expandido para outras quatro escolas de Sumaré.
Conheça outros sete casos protagonizados por crianças e jovens que abordam a valorização da mulher negra na sociedade e que também foram destaque nas premiações do Desafio Criativos da Escola:
Minas na Ciência: alunas de São Miguel das Matas (BA) criaram um aplicativo, jogo da memória e outros materiais para evidenciar o trabalho de mulheres cientistas (inclusive brasileiras e negras). Agora, ocupam diferentes eventos e espaços na cidade disseminando conhecimento.
Meu cabelo é um ato político: alunas negras de Maracanaú (CE) se reúnem mensalmente e promovem ações contra o racismo dentro e fora da escola.
Lugar de mulher é onde ela quiser: estudantes do Rio de Janeiro (RJ) utilizam a arte para educar a comunidade escolar sobre os direitos das mulheres.
Bonecas Negras, Cadê?: estudantes de Serra Preta (BA) produzem e distribuem bonecas negras, elevando autoestima de alunas e fomentando o debate sobre racismo na escola.
Danças Ancestrais: para valorizar cultura quilombola, estudantes de comunidade em Candiba (BA) criam grupo de dança de ritmos africanos.
Crespianas: estudantes de Senador Pompeu (CE) provocam discussão sobre representação negra e questionam estereótipos de beleza.
Solta esse Black: alunas do Rio de Janeiro (RJ) formam um coletivo para empoderar garotas e combater machismo e racismo dentro da escola.
A 5ª edição do Desafio Criativos da Escola, em 2019, recebeu 1443 inscrições de todos os estados do Brasil. A divulgação dos sete projetos selecionados será feita até agosto, após um grupo de jurados selecionar as experiências que mais se destacarem pelos seguintes critérios: protagonismo, empatia, criatividade e trabalho em equipe. A novidade desta edição fica por conta da premiação deste ano: uma viagem para Roma, na Itália, onde as crianças e jovens premiados participarão da Conferência Global “Eu Posso”, com a presença do Papa Francisco, de artistas e demais lideranças mundiais, em novembro.
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