O negro tem que ter nome e sobrenome, senão os brancos arrumam um apelido…. ao gosto deles (Lélia Gonzalez)
Esses dias, a minha irmã, Alessandra, chegou espumando de raiva em casa após a aula na faculdade. O estopim foi o racismo que bateu pesado na paciência da preta, mas ela não recuou e mandou umas verdades para o racista.
Notícias Relacionadas
Saudade do tempo em que a TV era branca? Um chamado à diversidade e inclusão na teledramaturgia brasileira
Masculinidades negras: a armadilha da hipersexualização
No início da aula, o professor disse que tinha uma aluna em outra turma que era a cara dela. E, como não foi a primeira vez essa observação, ela perguntou: “A moça é negra e de tranças?”. O professor respondeu: “Sim! Você tem alguma irmã que também estuda aqui?”. Ela explodiu: “Sabe qual o nome disso, professor? RA-CIS-MO!”. E continuou: “Vocês têm a péssima mania de achar que todos os negros são iguais!”. Ele sentiu o impacto e tentou se desculpar, mas ela nem deu atenção. Pegou o material e saiu pisando firme.
Eu já passei várias vezes por situações parecidas. Além disso, tinha outra coisa que me irritava muito. Era quando apareciam personagens negros em programas de TV. Os brancos adoravam fazer comparações e colocar apelidos em nós, negros. Chamavam a gente de Mussum, Jorge Lafond, Buiú, Tião Macalé, Pelé, etc. Mas o que causava êxtase nos racistas eram personagens estereotipados. A maldade escorria pelos lábios deles, gritando e rindo da nossa cara.
Naquela época, as crianças e jovens negros não tinham uma formação crítica para a defesa da própria dignidade. O contato com o debate racial acontecia somente se os pais participassem de organizações políticas e levassem a educação racial para dentro de casa. Não era o caso da minha família, nem das famílias dos meus colegas. Essa ausência de educação impactava a saúde mental, tanto que até hoje a autoestima de muitos negros se encontra fragilizada por conta do passado. Porém, os tempos mudaram. A informação está disseminada por diferentes meios de comunicação, os negros de várias idades estão conscientes e conseguindo se defender do “racismo recreativo”, termo cunhado pelo Doutor em Direito e especialista em Direito Antidiscriminatório, Adilson Moreira.
Eu mesmo não alivio para os racistas. Faço igual à minha irmã, constranjo, e ainda coloco o dedo em riste. Assim, posso dormir tranquilo.
Notícias Recentes
Mostra que homenageia Léa Garcia estreia no CCBB Rio com exibição de 15 longas e curta-metragem
Aisha Jambo, Lua Miranda e Tony Tornado estrelam especial "Hoje é Dia das Crianças" na Globo