“Por que uma mulher negra deixaria de comprar um cabelo liso natural para comprar um crespo?”, ouviu a CEO da De Benguela, Thais Ramos, de diversos players de mercado, ao anunciar a sua ideia de negócio em 2016. Mas com o sucesso inegável da primeira loja do Brasil especializada em diferentes texturas de cabelo crespo e cacheado natural para alongamentos e apliques, só neste ano, o faturamento deve chegar a R$ 10 milhões.
“Até a De Benguela nascer no final de 2016, você poderia encontrar no Brasil todo e qualquer tipo de cabelo que você imaginasse: humano, orgânico, sintético, liso, loiro, vermelho, ondulado, permanentado… TUDO, menos cabelo crespo e cacheado natural. Isso simplesmente não existia!”, disse a fundadora, em entrevista ao Site Mundo Negro, em especial ao Julho das Pretas.
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Além da sua fiel cliente Taís Araujo, a marca hoje conta grandes clientes como Globo, Netflix e Amazon para caracterização de personagens, como a Sol, interpretada pela Sheron Menezzes, na novela ‘Vai na Fé’. “Ligar a TV e ver os cabelos da De Benguela nas novelas e filmes, além de nos dizer, sim, crespo é lindo, é até de novela… Traz um aumento em vendas mas principalmente branding para marca, por conta dessa confiança e da representatividade que traz para o nosso público”, destaca a COO, Viviane Ferreira.
Leia a entrevista completa abaixo:
1 – Em sete anos, desde a fundação, vocês certamente já fizeram história e se tornaram um case de sucesso. Como é cuidar de um negócio afro inovador no Brasil?
Desafiador e Gratificante. Desafiador porque a De Benguela se propõe a vender produtos únicos de uma forma totalmente diferente, o mercado de cabelos humanos no Brasil praticamente não contempla cabelos crespos naturais (não permanentes) e é 95% paralelo, ou seja, sem NF, sem procedência, sem pagamento de impostos etc. Fazer as coisas da forma correta, pagar todos os impostos e emitir NF de cabelo humano, vender produtos que ninguém queria em vender, abrir loja e fábrica e priorizar a contratação de mulheres negras, todas no regime CLT, é ir em totalmente contra o fluxo deste mercado, por isso um enorme desafio.
Gratificante porque em poucos anos nos tornamos referência, a De Benguela chegou de forma muito natural a lugares que muitas empresas investem milhões para conseguir chegar. A marca, que é uma DNVB (Digitally Native Vertical Brand), se tornou sinônimo produto, crescemos de forma orgânica com 0 investimento google ads, somos a maior importadora de cabelos naturais do Brasil e já ultrapassamos a marca de 30.000 clientes em todo o país e até exterior. Abrimos a nossa primeira loja física no ano passado, que já se tornou um sucesso em vendas. Tudo feito sem investimento, pasito a pasito, (risos). A cliente De Benguela (nossas Rainhas), reconhece e se apaixonam justamente por este esforço.
2 – Os cabelos e apliques podem ser facilitadores no cotidiano das mulheres negras, além de esbanjar beleza. Mas como era esse cenário da compra dos produtos antes de estrear De Benguela?
Até a De Benguela nascer no final de 2016, você poderia encontrar no Brasil todo e qualquer tipo de cabelo que você imaginasse: humano, orgânico, sintético, liso, loiro, vermelho, ondulado, permanentado… TUDO, menos cabelo crespo e cacheado natural. Isso simplesmente não existia! Um cabelo de textura tipo 4, tipo 3, naturalzão, que não perdesse a sua textura após 3 meses de uso. Enfim, nada, não existia.
Todo o mundo nos disse: vocês não conseguirão vender cabelo crespo natural porque o público alvo não vai querer/poder pagar pelo que custa, pois sim, se trata de um investimento em um produto mais escasso. Não existe uma máquina de cabelo crespo natural! (risos).
Muitos players do mercado nos diziam: porque uma mulher negra deixaria de comprar um cabelo liso natural para comprar um crespo?Afirmavam contundentemente que essa minha ideia de negócio era uma autêntica loucura.
3 – Thais, no dia da Mulher Negra, Latino Americana e Caribenha também se comemora o dia da Tereza de Benguela, nome inspirado para o negócio, depois que você revelou ter sonhado que deveria abrir uma loja com esse nome, mas não conhecia a sua história. O que você pensou ou sentiu quando descobriu de quem se tratava?
Em 2015, em meio à uma fase de queda capilar pela química e baixíssima autoestima e em paralelo acompanhando o sofrido processo de big chop da minha melhor amiga, descobri que nos Estados Unidos e Canadá existiam lojas que vendiam diferentes texturas de cabelos crespos e cacheados naturais e que eles eram LINDOS! Fiquei emocionada e pensei em mandar um e-mail pra essa galera informando: olha só, no Brasil precisamos de algo assim. Eu sou formada em direito, não tinha nenhuma relação com a área da beleza, portanto era mais um alerta pra eles do que um intuito de abrir algo da minha parte.
No dia seguinte eu recebi uma mensagem da minha mãe que não mora no Brasil e com quem não tinha me dado nem tempo de conversar, ela dizia: “a loja para mulheres negras que você deve abrir deve se chamar Tereza de Benguela, este foi o sonho que eu tive com você essa noite”.
Naquele momento pesquisei o nome e descobri que tivemos uma Rainha negra no Brasil chamada Tereza de Benguela, meu mundo virou, pois em menos de 48 horas tinha despertado para as duas coisas mais reveladoras da minha vida: ‘o meu cabelo não é ruim’ e ‘eu descendo de Rainhas, assim como todas nós!’.
4 – Com Taís Araujo e a Sheron Menezzes usando seus produtos, Sheron inclusive na novela ‘Vai na Fé’, vocês tiveram um aumento nas vendas? Como está essa repercussão?
A primeira vez que a Taís Araujo entrou em contato com a De Benguela foi em 2019 de forma muito genuína, desde então ela é uma ótima cliente assim como muitas outras mulheres. Quando artistas deste porte compram, usam e te marcam é um aval muito grande de cara ao que estamos fazendo. Hoje atendemos a Globo, Netflix e Amazon para caracterização de personagens, uma vez que a dificuldade de encontrar cabelos crespos no mercado é geral, inclusive para estas empresas.
Ligar a TV e ver os cabelos da De Benguela nas novelas e filmes, além de nos dizer, sim, crespo é lindo, é até de novela… Traz um aumento em vendas mas principalmente branding para marca, por conta dessa confiança e da representatividade que traz para o nosso público, muitas clientes dizem com orgulho: “eu compro cabelo na mesma loja que a Taís Araujo”.
5 – Com a missão sendo cumprida de elevar a autoestima de mulheres negras com cabelos crespos e cacheados, qual o objetivo atual do De Benguela, para continuar em expansão?
Um dos maiores desafios da marca sempre foi ajudar e ensinar o seu público com os cuidados dos cabelos crespos. Tendo em conta que muitas das nossas clientes têm contato com cabelo crespo/cacheado pela primeira vez através dos nossos alongamentos, para muitas os cuidados ainda é algo novo.
Hoje, sendo acelerados pelo Grupo Boticário e com a entrada da alta executiva Viviane Ferreira como Diretora de Operações da marca, estamos trabalhando fortemente no desenvolvimento e desenho de canais de distribuição cosméticos verdadeiramente testados em cabelos crespos e cacheados. A primeira linha lançada no mês passado levou 2 anos de testes e já se introduziu com pé direito no mercado, sendo vendida somente nos nossos canais de vendas e Magalu market place.
6- Viviane, como tem sido a experiência como COO para impulsionar o crescimento da De Benguela?
Assumir a área de operações na De Benguela tem sido uma experiência incrível, pois sempre atuei na área de tecnologia no mercado B2B. E agora ter a possibilidade de trabalhar no mercado de beleza, com venda de produtos B2C me agrega muito aprendizado além de ser maravilhoso para minha trajetória profissional.
Me juntar à De Benguela e unir forças com a Thaís para fazer esse negócio ainda mais grandioso, em um mercado focado em elevar a autoestima de mulheres negras, é algo que me conecta com a minha ancestralidade e é isso que me move todos os dias!
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