Por Ivair Augusto Alves dos Santos
“Leve um recado pros meus amigos Vinícius de Moraes, Fernando Lobo e Reinaldo Dias Leme. Diga a eles que é pra não chorar, porque eu tenho um encontro marcado com Pixinguinha, Stanislaw Ponte Preta e Benedito Lacerda. Eu não bebo há dois anos e agora vou tomar o maior pileque da minha vida”. Disse Cyro Monteiro depois de ficar internado 10 dias, em 1973, ano de sua morte.
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Cyro Monteiro nasceu em dia 28 de maio de 1913, na cidade do Rio de Janeiro. Nasceu no subúrbio carioca do Rocha, em uma família de nove irmãos, todos com nomes começados com “C”. Seu pai era dentista, capitão do exército e funcionário público. Sobrinho do grande pianista de samba Nonô (Romualdo Peixoto, conhecido como o “Chopin do samba”), também primo de Cauby Peixoto, de Araken Peixoto, de Andyara Peixoto e do pianista Moacyr Peixoto.
Cantor e compositor marcou gerações e deixou um grande legado segundo o músico, filósofo e historiador Nei Lopes que deu o seguinte depoimento a respeito do cantor, em reportagem do jornal O Globo: “É o sincopado, o deslocamento das tônicas, do tempo forte. Apesar de não ter sido o primeiro nessa linha, ele foi fundamental. E além de ser um excelente intérprete em termos rítmicos, associou a isso uma enorme simpatia, um charme no canto, vindo de uma pessoa bem-humorada, de bem com a vida”.
Muito querido no mundo musical, esquecido pelas novas gerações, segundo Vinicius de Moraes que escreveu na contracapa do LP “Senhor samba”, lançado pela Columbia em 1961: “Uma criatura de qualidades tão raras que eu acho improvável qualquer de seus amigos não se haver dito, num dia de humildade, que gostaria de ser Cyro Monteiro. Pois Cyro, pra lá do cantor e do homem excepcional, é um grande abraço em toda a humanidade.”
Seu samba era sincopado e acompanhado por uma caixa de fósforos, e graças à internet podemos recuperar gravações magistrais. O poeta e compositor Vinicius de Moraes o considerava “o maior cantor popular brasileiro de todos os tempos”. Era chamado de “Formigão” pelos amigos (recebeu o apelido do compositor Frazão) e de “O cantor das mil e uma fãs” por todos os seus admiradores. Era torcedor do Flamengo. Por ocasião do nascimento da primeira filha do cantor e compositor Chico Buarque de Holanda, enviou-lhe uma camisa do Flamengo. Chico que é fluminense aceitou a brincadeira e compôs uma canção: “Ilmo. Sr. Cyro Monteiro ou Receita para virar casaca de neném”.
Nos anos da década de 1960, quando do surgimento do movimento da jovem Guarda, Cyro deu uma entrevista em que disse. “Quando apareceu a televisão, ela tomou conta de tudo. E eu procurei me adaptar (…) Eu até hoje tento. Só falta cantar o iê-iê-iê. Mas, se for preciso, cantarei, eu adoro iê-iê-iê. Eu adoro a mocidade, essa rapaziada sadia, a rapaziada que tem e está na sua época. Muita gente mete o pau, mas eu não. Eu também já fui jovem, usei a moda da minha época, que era calça larga de flanela, sapato branco, paletó curtinho de mescla…”. Em 2015, essa entrevista foi publicada pelo jornal O Globo. Cyro gravou uma música de Roberto Carlos e Erasmo: Dela.
Cyro Monteiro fez diversos sucessos ao longo da carreira de cantor, tais como “Falsa baiana”, de Geraldo Pereira, “Beija-me”, de Roberto Martins e Mário Rossi, e “Se acaso você chegasse”, de Lupicínio Rodrigues. Suas gravações no programa “Bossaudade”, da TV Record, apresentado pela cantora Elizeth Cardoso são antológicas.
O compositor, instrumentista e cantor Wilson das Neves compôs “Um samba pro Cyro”. Com versos que sintetizam a beleza e maravilha que foi Cyro Monteiro:
“Você tá falando do Ciro
O cantor que eu prefiro
E mais gosto de escutar
O Formigão canta manso
Mas tem um balanço
Que tem que apreciar
Fora o vibrante sorriso
O elegante improviso
Que faz ao batucar
Quem trata o samba direito
Tem que ter respeito e lhe homenagear
Por isso é que na galeria do samba eu diria
Sem medo de errar
Eu vou me lembrar, companheiro
Do Ciro Monteiro em primeiro lugar”
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