Manu Dibango, morreu nesta terça-feira (24), aos 86 anos, poucos dias depois de contrair o novo coronavírus. O compositor de “Soul Makossa”, uma das músicas mais famosas dos anos 70, é o primeiro artista que falece devido à COVID-19. “Morreu durante a madrugada, em um hospital da região de Paris”, declarou à AFP Thierry Durepaire, representante e gerente das obras musicais do artista.
“Tenho a harmonia de Bach e de Handel no meu ouvido com as letras camaronesas. É uma riqueza poder ter pelo menos duas possibilidades. Na vida, prefiro ser estéreo do que mono”, disse ele em entrevista à AFP em agosto de 2019.
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“Seu legado, imenso, permanecerá. Sua criatividade era genial. Fazia as pessoas dançarem, com eficiência formidável”, comentou à AFP Martin Meissonnier, DJ e produtor.
O cantor Youssou Ndour tuitou sua “tristeza”: “Você foi um irmão mais velho, um orgulho para Camarões e para toda a África”.
OH NON PAS TOI MANU DIBANGO. J'ai pas les mots pour traduire toute ma tristesse. Tu as été un grand frère, une fierté pour le Cameroun et pour l'Afrique toute entière. Une immense perte ! RIP le Roi de la Makossa et Génie de la Saxo. YN pic.twitter.com/XRJAeVLdiF
— YOUSSOU NDOUR (@YoussouNdourSN) March 24, 2020
Trajetória
“Meu tio paterno tocava órgão, minha mãe conduzia o coral. Fui uma criança criada nos ‘Alleluia’. Ainda assim, sou africano, camaronês e tudo mais”, confidenciou à AFP.
Seu pai, funcionário público, o enviou à França aos 15 anos, na esperança de torná-lo engenheiro ou médico.
Após 21 dias de viagem de navio, Manu Dibango desembarcou em Marselha e seguiu para Saint-Calais, em Sarthe. Na bagagem, “três quilos de café” – uma mercadoria rara no pós-guerra e título de sua autobiografia – para pagar a família que o acolheu. Depois, estudou em Chartres, onde deu seus primeiros passos musicais no bandolim e no piano.
Nesse universo branco, o adolescente que “não conhecia a cultura africana” se identificou com as estrelas afro-americanas da época. Cont Basie, Duke Ellington e Charlie Parker se tornaram seus “heróis”.
“Papa Manu” descobriu o saxofone durante um acampamento de verão. Arrastando os estudos, fracassou na segunda parte do seu bacharelado. Seu pai, insatisfeito, interrompeu o envio de dinheiro em 1956.
Ele então partiu para Bruxelas, onde passou a tocar nos mais diferentes locais. “Na minha época, tinha que tocar em cabarés, bailes, circos. Tocar com um acordeonista como André Verchuren garantia algumas datas”, contou.
Sua estadia na Bélgica foi marcada por dois encontros: a loira Marie-Josée, conhecida como “Coco”, que se tornou sua esposa, e Joseph Kabasélé, maestro do jazz africano. Na eferverscência das independências, o músico congolês abriu as portas da África para ele.
Manu Dibango o seguiu até Léopoldville (antigo nome de Kinshasa), onde lançou a moda do twist em 1962, e então abriu uma boate em Camarões. Três anos depois, voltou à França, sem um tostão. Tornou-se pianista de rock para Dick Rivers, organista e depois maestro de Nino Ferrer.
Em 1972, foi convidado a compor o hino do Campeonato Africano das Nações de futebol, a ser realizado em Camarões. No lado B do disco, gravou “Soul Makossa”. DJs de Nova York se apaixonaram por esse ritmo sincopado. Outra vida começou.
O saxofonista foi convidado para tocar no teatro Apollo, templo da música afro-americana no Harlem, e agregou novas misturas fazendo turnês na América do Sul.
Em 1982, veio outra forma de consagração. “Soul Makossa” foi “sampleada” por Michael Jackson em seu álbum “Thriller”… sem autorização. Manu Dibango iniciou o primeiro de uma longa série de processos por plágio, que terminou em um acordo financeiro.
Mas a vitória está em outro lugar: o músico se tornou uma referência da World Music.
Soul Makossa, de Manu Dibango:
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