Por Juliane Sousa (*)
O racismo ambiental é uma forma de discriminação que afeta desproporcionalmente populações historicamente marginalizadas, especialmente negras, periféricas, indígenas, quilombolas e ribeirinhas. O termo surgiu na década de 1970, nos Estados Unidos, quando Benjamin Franklin Chavis, assistente de Martin Luther King, o utilizou para descrever a injustiça racial na escolha deliberada de comunidades negras para a instalação de indústrias poluidoras e descarte de dejetos tóxicos. Desde então, o conceito evoluiu para abranger a distribuição desigual dos impactos climáticos e ambientais entre a população, atingindo de forma mais severa os mais vulneráveis.
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No Brasil, o racismo ambiental reflete um longo histórico de desigualdades raciais e socioeconômicas. Comunidades periféricas e tradicionais frequentemente habitam áreas expostas a enchentes, deslizamentos, poluição e contaminações químicas. Foi que vimos, por exemplo, na recente catástrofe no Rio Grande do Sul, onde as áreas mais empobrecidas, ocupadas majoritariamente por negros, sofreram os maiores impactos. Esse cenário confirma a perpetuação desta injustiça no País.
Na COP 27, em 2022, no Egito, o Racismo Ambiental foi tema oficial da conferência da ONU pela primeira vez. O acordo criou um fundo indenizatório por perdas e danos aos países mais empobrecidos e vulnerabilizados aos efeitos das mudanças climáticas. Também decidiu que seria instalado um comitê para definir os critérios de distribuição ainda neste ano, tendendo a repercutir mundialmente ainda em 2024.
Mesmo sendo o segundo país com a maior população negra no mundo, o Brasil ainda possui grandes barreiras para reconhecer seus problemas raciais. Se continuarmos a negar essas injustiças, dificilmente solucionaremos os desafios ambientais, sociais e econômicos. Precisamos nos entender e, para isso, é necessário reconhecer nossos problemas e responsabilidades, dialogar sobre nossas questões e, principalmente, como podemos resolvê-las juntos.
No Sistema B Brasil, temos priorizado a justiça social em nossas ações. Em 2023, fortalecemos o coletivo Pretas B, firmamos parceria com o Pacto Global pela Equidade Racial e lançamos o Fundo B, um projeto que apoia empresas pretas e periféricas em suas jornadas de impacto. Exercemos, com isso, o papel também de influenciar e inspirar a Rede B, atualmente, com mais de 300 empresas, para buscarem soluções no tocante à questão racial e climática, com evento como o Café B, quando debatemos essa temática, além de iniciativas como a Amazônia Viva em parceria com a Economia de Comunhão. Essas iniciativas são exemplos de como o setor privado pode contribuir para combater o racismo ambiental, promovendo inclusão e reparação nos territórios onde atua.
Para enfrentar o racismo ambiental, também é fundamental visibilizar – ou contribuir para visibilização – das vozes das mulheres negras e povos tradicionais nos debates climáticos. Essas populações desempenham um papel central na preservação das comunidades tradicionais, mas muitas vezes não estão nos espaços que tomam decisões políticas sejam no âmbito público ou privado.
Outra questão primordial para a proteção da floresta, é o incentivo da permanência dos jovens quilombolas rurais em suas comunidades, com oportunidades de trabalho e renda. Para isso, é necessário conhecer essas comunidades e suas necessidades, além de mapear o os impactos que os negócios podem gerar nesses territórios, sejam positivos ou negativos. Pois, quando discutimos sobre a questão do racismo ambiental e impactos climáticos no país, estamos falando de cuidar da vida das pessoas, todas! Mas principalmente os que foram historicamente vulnerabilizados.
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(*) Juliane Sousa é jornalista quilombola e gerente de Comunicação e Marketing do Sistema B Brasil
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