As novelas com personagens negras nos envolvem de tal maneira, que de repente, estou de novo diante da TV assistindo a mais um capítulo de “Volta por Cima”, nova novela das 19h da TV Globo. Passei a planejar todos os meus compromissos para antes ou depois do capítulo e, se perco, vejo a reprise de madrugada. Às vezes vejo mais de uma vez o capítulo, tal é a beleza e a grandeza dos atores e atrizes.
A história é contada de um lugar que nos identifica, nos traz lembranças do nosso dia a dia de viver na periferia. Os atores nos comovem, nos alegram e impactam em nosso quotidiano. Por quê?
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A luta do dia a dia no trabalho nos traz aborrecimentos, desgaste, sonhos e esperança. Ser assalariado é sinônimo de dinheiro contado para passar o mês e para estar com que a gente com quem amamos: mulher, filhos, mãe e amigos,
Ao ver a atuação de Fabricio Boliveira, protagonista no papel de Jão, depois de 20 anos na Globo. Não posso deixar de lembrar de sua representação de Wilson Simonal no cinema: uma bela e altiva encenação. No papel de Jão, ele é a personificação de nosso galã brasileiro. Uma imagem que nos orgulha de sermos pretos.
Diariamente no papel de fiscal de ônibus, Fabricio Boliveira define Jão com uma declaração: “Esse personagem é o retrato do brasileiro que acorda cedo para trabalhar, que é ético com as pessoas, que é honesto, que a gente vê no nosso pai, num vizinho, em um irmão, e não no sentido de bondade, mas de ter uma trajetória digna.”
Amaury Lorenzo, no papel de Chico, atua ao lado de um gigante da dramaturgia da TV: Tonico Pereira, seu Moreira. Formam uma parceria maravilhosa entre pai e filho. Cada cena é um acontecimento, uma troca maravilhosa. Como não curtir? É muito brilho de dois atores que têm uma química mágica que nos toca fundo.
E a atriz Valdineia Soriano, no papel de Neusa mãe de Jão… quantas mães pretas, tias, avós ela representa. Com uma fala sempre cheia de alegria e resiliência traz no seu orgulho a história de milhões de mães que criaram seus filhos sozinhas, com muita raça, amor e alegria.
Jéssica Ellen, no papel de Madá, forma o par romântico com Jão. A beleza dessa atriz faz o tempo parar e ficarmos olhando com admiração. Ela é o retrato da mulher negra batalhadora, independente e otimista em relação ao futuro.
A existência de um elenco negro em uma novela desperta a atenção, a imaginação e a reflexão de milhões de pessoa no país. E contribui para discussão sobre inserção do ator negro no mercado de trabalho.
E levanta muitas questões sobre o conjunto de profissionais que estão envolvidos no trabalho da dramaturgia negra. Como garantir a continuidade da presença negra na televisão? E as outras mídias que continuam a ignorar a existência de atores negros, será que a iniciativa da Globo não poderia também ser estendida para a toda programação das TV abertas?
Quando falamos sobre a participação de elencos negros podemos ampliar o debate e discutir democratização do acesso aos meios de comunicação.
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