“Quem diria que eu com todas as características de alvo – mulher, preta, periférica, bissexual, do funk chegaria aqui. O palco sempre foi o meu lugar preferido e hoje eu faço do Sunset, o meu Mundo”.
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O espetáculo não poderia começar diferente: relembrando um pouco da trajetória da cantora desde a época em que ainda era a tímida Mc Beyoncé (nome artístico escolhido em homenagem a uma de suas maiores referências). De lá para cá são dez anos de uma carreira consolidada, cheia de hits e sucesso. Ludmilla evoluiu artisticamente diante das câmeras. No funk, ela se estabeleceu como um dos principais expoentes do gênero e escreveu seu nome na história da música brasileira. Mas a cantora já provou que sustenta qualquer estilo musical.
Numa época em que os números de streaming são considerados a principal métrica de sucesso, a artista tem mostrado sua força na alta demanda do público por seus shows. No Numanice Salvador, por exemplo, ela cantou para mais de 30 mil pessoas, já em fortaleza foram 15 mil. Mas mesmo no streaming, Ludmilla é gigante: Recentemente ela recebeu uma placa de comemoração aos mais de 5 bilhões atingidos nas plataformas digitais, sendo a maior cantora negra da América latina em números absolutos.
Com o Ludsessions, numa era em que a maioria das faixas de sucesso tem pouco mais de dois minutos de duração; ela colocou o Brasil pra cantar, chorar e viciar num medley inteiro em parceria com Gloria Groove. Não bastasse o sucesso no funk e no r&b, no Numanice a cantora se destacou com um projeto de sucesso no pagode, gênero com ainda pouco espaço para representantes femininas, emplacando hits como a faixa “Maldivas” onde canta abertamente sobre amar outra mulher preta num país que ainda é extremamente lgbtfóbico e racista como o Brasil.
Para o palco Sunset Ludmilla convidou a funkeira Tati Quebra Barraco, as gêmeas Tasha e Tracie, Majur e Mc Soffia; que apresentaram suas músicas. E mostrou como fazer um bom uso do espaço do festival para potencializar os nossos.
Com um repertório carregado apenas por hits, o público se espremeu para ver a a artista, cantando junto absolutamente tudo. O show nada deixou a desejar em relação as atrações internacionais que se apresentaram no festival, na verdade, muitas atrações internacionais decepcionaram, evidenciando um certo viralatismo nas escolhas dos artistas principais do festival.
Desde a edição anterior, na qual já poderia ter se apresentado no palco principal, Ludmilla tem mostrado o seu potencial como performer e a sua força para animar multidões. Evidenciando mais de uma vez que consegue – e entrega – um espetáculo digno de palco mundo. Vale lembrar que em mais de 30 anos de Rock in Rio só em 2022 uma artista negra brasileira se apresentou como atração principal do palco mundo, a cantora Iza.
Mulher preta e uma das maiores representantes de um gênero ainda marginalizado, o funk, Ludmilla sabe que precisa se esforçar diversas vezes mais para obter o reconhecimento que merece. E assim tem feito. Caminhando a passos largos numa trajetória ascendente de sucesso e excelência artística que evidenciam que não só ela merecia o palco mundo, mas que o palco mundo perdeu muito sem a presença dela.
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