O Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afrobrasileiras (Idafro) protocolou, nesta quinta-feira (30), uma petição no Ministério Público da Bahia (MP-BA) solicitando que a prefeitura de Salvador e o governo do estado proíbam a contratação da cantora Claudia Leitte para shows no Carnaval de 2024. O pedido ocorre após a artista ser alvo de críticas e processos por trocar a palavra “Yemanjá”, entidade de matriz africana, por “Yeshua”, referência a Jesus em hebraico, ao interpretar a música “Caranguejo”.
A alteração na letra, realizada durante um show em Salvador no final de 2023, gerou acusações de intolerância religiosa e racismo. Claudia Leitte, que é evangélica, justificou a mudança afirmando que preza pelo respeito e integridade, mas o Idafro argumenta que a atitude da cantora “promove a intolerância religiosa”. O instituto também citou o Decreto nº 10.932, de 2022, que promulgou a Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância, para embasar o pedido.
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“Os Estados comprometem-se a prevenir, eliminar, proibir e punir, de acordo com suas normas constitucionais e com as disposições desta Convenção, todos os atos e manifestações de racismo, discriminação racial e formas correlatas de intolerância”, diz trecho do documento enviado ao MP-BA. O Idafro reforça que a Constituição Federal proíbe a contratação de shows que promovam a intolerância religiosa.
Além da petição, Claudia Leitte responde a dois processos: um criminal, por racismo e intolerância religiosa, movido pelo MP-BA, e outro por danos aos direitos autorais, ajuizado pelos compositores de “Caranguejo”. A investigação no MP-BA foi instaurada após uma representação formalizada pela Iyalorixá Jaciara Ribeiro, sacerdotisa do Ilê Axè Abassa de Ogum, e pelo Idafro. O caso está sob análise da promotora Lívia Sant’Anna Vaz, da Promotoria de Justiça Especializada no Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa.
Dr. Hédio Silva Jr., advogado das partes denunciantes, afirmou que a mudança na letra “não é criação artística ou improvisação” e que a alteração não foi registrada oficialmente no Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD). Caso sejam comprovadas irregularidades, a cantora também poderá enfrentar acusações de falsidade ideológica.
O episódio reacendeu debates sobre racismo e intolerância religiosa no cenário do Axé Music. Pedro Tourinho, secretário de Cultura e Turismo de Salvador, criticou a postura da artista em suas redes sociais. “Quando um artista se diz parte desse movimento, saúda o povo negro e sua cultura, faz sucesso e ganha muito dinheiro com isso, mas escolhe reescrever a história, o nome disso é racismo”, escreveu.
Claudia Leitte, que ainda não se pronunciou sobre o pedido do Idafro, defendeu-se anteriormente afirmando que o racismo é uma pauta que deve ser discutida com seriedade. Enquanto o MP-BA analisa o caso, a polêmica promete influenciar as discussões sobre cultura, religião e liberdade artística no Carnaval de Salvador, um dos maiores eventos populares do país.
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