Ator, diretor e roteirista, Junior Vieira fará parte do elenco de “Madame Durocher” depois de protagonizar filme do diretor português Leonel Vieira, exibido no Festival de cinema de Gramado
No último final de semana, o ator Junior Vieira estreou o longa “The Last Animal”, em que atua como protagonista, no Festival de Gramado. O ator, diretor e roteirista também está preparando um novo trabalho, que deve estrear em 2023 nas telonas brasileiras. Ao lado de um grande elenco, Vieira vai participar do longa “Madame Durocher” que contará a história da primeira mulher reconhecida oficialmente como parteira no Brasil. E é através de trabalhos de grande relevância e repercussão nacional que ele vem construindo seu legado.
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Natural do Maranhão, Vieira se divide entre os trabalhos que realiza no Rio de Janeiro e em São Paulo. O artista, que já acumula 20 anos de carreira, contou ao Mundo Negro sobre como chegou o convite do diretor português Leonel Vieira para protagonizar o filme The Last Animal. “Felipe Bretas é um diretor e produtor carioca, que se tornou um grande amigo e foi um dos co-produtores do ‘Quero Ser Feliz’, obra que dirigi. Já tinha feito um filme dele e uma série da Amazon que ele também dirigiu. Ele achava que eu era bem potente e acima da média como ator. Por conta disso, disse que ia tentar me colocar em um longa que ele estava co-produzindo. Um dia, ele me levou pra conversar com o Leonel Vieira (diretor e dono do projeto), que ficou bem surpreso positivamente com o conteúdo do ‘Quero Ser Feliz’ e até onde ele chegou. Eu já estava no filme, mas o Bretas disse que eu poderia conseguir fazer um dos papéis principais, a questão é que o diretor queria porque queria o Raphael Logam, mas Logam estava disputando o Emmy de melhor ator e o personagem do longa tinha uma linha narrativa parecida com o Evandro do dendê (personagem de Logam em Impuros) e ele estava muito em dúvidas se faria ou não. E eu estava em um momento de crise existencial, triste com alguns acontecimentos. Precisava de um bom personagem para continuar a acreditar. Como sou muito amigo do Raphael, liguei pra ele e expliquei a situação. Ele foi super generoso e disse que saía com prazer se fosse para eu fazer. No mesmo dia, Leonel me chamou para trocar ideia pessoalmente, porque ele só me via como um bom moço e não sabia se eu segurava a segunda parte mais dramática de virada do personagem. Contei um pouco da minha vida e ele disse: ‘Parabéns, você é o Didi!’”, contou o ator.
Junior Vieira nos contou como vê a chegada de um convite para ser protagonista de um longa internacional, considerando o pouco reconhecimento que atores negros recebem nacionalmente. “É importante, ainda mais que falo inglês no filme e contracenei com atores que fizeram ‘Ultimato Bourne’, ‘Velozes e Furiosos’, ‘A Balada do Pistoleiro’ e ‘Exterminador do Futuro’. Mas sinto que o ator preto, quando ligado a obras internacionais e até nacionais, ainda está ligado ao olhar marginalizado, inserido na periferia ou em lugares subalternos. Existe uma necessidade gigante da presença de autores e diretores pretos para que isso aconteça de maneira mais natural e sem estereotipar alguns perfis. Temos visto o protagonismo preto em ascensão e precisamos e queremos mais. Uma questão é a representatividade outra a quantidade. Obviamente minha participação abre portas, mas ainda precisamos escancara-las, mostrar que somos plurais, diversos e podemos interpretar qualquer tipo de personagem. Não sou um personagem de uma realidade apenas, sou ator e sou muitos!”, afirma.
Por trás das câmeras
Na frente e por trás das câmeras, Junior Vieira também está entre os roteiristas de um novo longa dirigido por Fernando Meirelles, diretor do premiado Cidade de Deus. Mesmo sem revelar muitos detalhes sobre o filme, Vieira comentou a alegria de trabalhar com o diretor. “Fernando Meirelles é um dos meus ídolos. Cidade de Deus é o meu filme favorito. Sei todas as falas (risos). O cara disputou o Oscar, cara! Quando você o elogia, ele diz que é superestimado, ele é mó maneiro. Então, Rene Belmonte, tinha sido convidado para escrever essa história. E somos amigos e conversamos muito sobre tudo. Quando chegou essa demanda, ele sabia a propriedade e vivência que tenho desse território, e ele não tem nenhuma. Tanto que nunca tinha nem subido um morro. Eu levei ele no morro do São João para ele entender um pouco da cultura, topografia e questões práticas da vivência em um morro. E ao invés de me chamar apenas para consultoria, me chamou para escrever junto e dividir os créditos. Fernando ficou feliz em me conhecer, não só como roteirista, mas também como diretor e ator e em breve estaremos juntos em outro projeto. Posso falar bem pouco do filme ainda, mas é um filme de ação que se passa em duas favelas cariocas e que se passa em um período de 24 horas”.
No mês de setembro, Vieira começa a rodar um filme sobre a primeira mulher parteira no Brasil. Onde interpretará um personagem de destaque na trama. “Nesse filme, serei ator e com um papel de destaque com o personagem Abayomi (nascido para trazer alegria), reforçando minha parceria com os diretores Andradina Azevedo e Dida Andrade. Estamos indo para o terceiro projeto seguido em 1 ano, reforçando a confiança de ambos. Mas ajudei muito na escalação do elenco e em questões de narrativa e potencialização de personagens negros no roteiro. Com muito carinho e troca com João Segall, que assina o roteiro e produção do longa. A história de Durocher é importante para que a sociedade conheça e reconheça questões humanitárias e urgentes, pois as parteiras são as responsáveis pela saúde reprodutiva das mulheres. Embora seja a única alternativa em diversos lugares do nosso Brasil, o parto normal e domiciliar auxiliado por parteiras ainda é cercado de mitos e desinformação, infelizmente. O papel do filme é tentar de alguma forma mostrar a realidade, importância da resistência e potência dessas mulheres”, conta.
Junior Vieira está trabalhando em projetos conhecidos do grande público, como o longa que contará a história da dupla Claudinho e Bochecha. Ele também trabalhou na direção do projeto Negritudes 2022, no Globoplay, além da série Impuros e também da novela ‘Nos Tempos do Imperador’. “Posso dizer que sou privilegiado, por estar à frente de tantas obras importantes. Mas são 20 anos de estrada também, que consolidam o profissional que sou. Eduardo Albergaria e Leo Edde, os frentes da Urca Filmes e da cinebiografia sobre Claudinho e Buchecha, entenderam a importância de ter um diretor negro á frente, com o Eduardo. Pela vivência, pelo lugar de fala e por se tratar de um elenco majoritariamente negro, com uma história que se passa na favela e daí surgiu o convite para direção, além da colaboração que dei ao roteiro há alguns anos. Hoje entendem que nossas histórias precisam ter o nosso olhar para que a gente se identifique e queira compartilhar algo que se assemelha a nós. O Negritudes 22 foi coordenado, dirigido e apresentado por pessoas negras, fico feliz de fazer parte disso. E isso surtiu um efeito positivo notório para os espectadores, para os participantes e para o interno Globo”.
Sobre como vê a participação de artistas negros nos grandes trabalhos, Vieira diz que estamos ganhando espaço, mas vê que ainda é preciso aumentar a participação em cargos de liderança. “Acredito que sim, estamos ganhando mais espaço! Representatividade é importante demais, porém precisamos também do quantitativo! Somos 57% da população. E ver apenas 1 ou 2 negros no meio de 10, 20 não negros é nossa triste realidade. Ainda não temos os donos de produtora negros, autores de novelas (não digo roteiristas, mas os autores principais) negros, produtores de elenco, só lembro de 2 no meio de 30 produtores de elenco. Diretores de grandes produtos. Enquanto essa pirâmide hegemônica continuar dessa forma, a gente vai ter que remar essa maré cada vez com braços mais fortes para que consigamos de fato falar sobre igualdade, enquanto isso vamos promovendo ela. E estou remando firme!”, finaliza.
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