A única coisa que separa mulheres negras de outras é oportunidade. – Viola Davis, 2015
Antes de mais nada, pouco me importa o lance de amor à pátria, discursos exaltando o país e conversas nesse sentido. O Brasil não faz nada para que os negros sintam orgulho da nacionalidade. Há um processo permanente de genocídio contra nós desde a construção deste país. Então, o verde e amarelo não me comove. Esse é um ponto.
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Em segundo lugar, eu não sou daqueles que curtem esportes. Antigamente, até acompanhava partidas de futebol na televisão, mas, ao longo dos anos, percebi que os jogadores tornaram-se submissos a contratos milionários, e assim os espetáculos nos gramados ficaram totalmente comprometidos. Juram amor ao clube num dia; e no outro, trocam de time e repetem a farsa.
No início dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, li reportagens sobre atletas brasileiros que eram cotados para conquistarem medalhas na edição, e como se tratava de pessoas negras, decidi dar uma olhada. Na realidade, qualquer pessoa negra, consciente das questões raciais, compreende a importância de ter negros nos representando.
Destacar-se num país racista é exaustivo, existem muitos obstáculos tentando nos derrubar. Mas, Bia Souza, Rafaela Silva, Rebeca Andrade e Rayssa Leal conseguiram superá-los, participaram das olimpíadas e demonstraram um desempenho invejável. A comunidade negra explodiu de alegria. As redes sociais foram inundadas de homenagens a cada conquista.
Isso é demasiado significativo quando pensamos no quão sofrem as mulheres negras, como bem sintetizou a intelectual Lélia Gonzalez: “a mulher negra é o grande foco das desigualdades (sociais e sexuais) existentes na sociedade brasileira. É nela que se concentram esses dois tipos de desigualdade, sem contar com a desigualdade de classes. O que percebemos é que, na nossa sociedade, as classificações sociais, raciais e sexuais fazem da mulher negra um objeto dos mais sérios estereótipos”. Atletas sendo ovacionadas, e com certeza deixando raivosos uma horda de racistas e machistas, foi maravilhoso.
Mesmo assim, é fundamental reconhecermos que elas são exceções. Isso precisa ser dito antes que os brancos potencializem o discurso da meritocracia, como se o esforço fosse determinante para o destino das pessoas. Nós sabemos que é enorme o número de pessoas negras que ficam pelo meio do caminho sem a possibilidade de construir uma carreira profissional. Em nós, nunca faltou competência e determinação; é o racismo que impede o nosso crescimento. Portanto, celebremos essas mulheres, entre outros irmãos e irmãs que participaram do evento. Mostrar ao mundo que estamos lutando não é pouca coisa.
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