Brasil, ano de 2022, século 21…
Prezado Sr. futuro Presidente do Brasil,
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Te desejo saúde, humildade, planejamento, foco e equilíbrio, nestes próximos anos. Pra você e pra sua administração, certamente. O destino, mais uma vez, lhe delegou a missão de conduzir o nosso país para o lado justo da História e esta carta ecoa as palavras de liberdade e justiça um dia pronunciadas por Dandara e Zumbi dos Palmares.
Somos um país com a vocação para a pluralidade, mas ainda não somos exatamente uma nação justa e igual.
Sou a semente de uma árvore nascida na África e que sempre reflorescerá no Brasil. Os meus antepassados foram sequestrados pra este lado do oceano, para construir uma nação que até então não existia. A mão de obra dos meus ancestrais, sem salário, oprimida e injustiçada, financiou a economia e a concentração de renda das elites brasileiras por quase 400 anos! Ao longo destes quase cinco séculos de existência no país nós, pretas e pretos, temos sobrevivido sob uma coexistência pautada pelo racismo, pela discriminação, pelo preconceito, pela segregação, pela desigualdade e pelo descaso generalizado. A desvalorização de seu próprio povo torna um país um derrotado de si mesmo! A África e toda a sua descendência é parte indivisível da fundação do Brasil como Pátria, Nação, Estado e País!
Sr. Presidente, a melhoria dos índices de qualidade de vida das pretas e dos pretos do Brasil, através de uma estratégia de educação qualitativa e de nossa inserção sistematizada no mercado de trabalho, trará benefícios significativos para o Estado brasileiro a médio e longo prazos: robustez em nosso portfólio intelectual, circulação de capital entre as comunidades, consolidação de um P.I.B. nacional forte e sustentável, competitividade frente a outros centros protagonistas do mundo.
Contudo, ainda vivemos sob os maus ventos do negacionismo, da intolerância e do ódio não mais camuflado; manifestações essas que, no mundo virtual e no mundo concreto, e em tempos bem recentes, saíram dos bueiros da sociedade brasileira e que fizeram de nossa jornada, das pretas e pretos desta região do mundo, uma caminhada ainda mais dolorosa de se vivenciar. Vivemos, até a sua eleição, o pesadelo de uma nação atingida por um vírus mortal e por um desgoverno nefasto que transformou o Brasil em um país como uma espécie de “persona non-grata”, aos olhos do mundo. Foram quatro anos que pareciam quatro séculos! Longos, angustiantes e intermináveis!
Caro Sr. Presidente, agora chegou a hora de ajustar o tempo presente e de nos prepararmos para os tempos futuros. Nós, pessoas pretas do Brasil, seguimos firmes com o nosso projeto legítimo de dignidade humana e existência de primeira classe. Não aceitaremos mais esmolas de cidadania! Sua Excelência foi eleita graças aos votos das famílias de baixa renda, dos nordestinos, das mulheres e das pessoas pretas do Brasil, quase que em toda a sua totalidade. Você tem a chancela de metade do país para fazer com que essa população seja respeitada e representada nas rodas de decisões estratégicas e que possam justificar a legitimidade de exaltarmos a nossa cidadania brasileira, quase sempre tão afetada e fragilizada por várias razões.
Estaremos atentos à sua gestão, Senhor Presidente. Nós também temos propriedade sobre os destinos do Brasil. Cada milímetro quadrado do território nacional tem o dna dos nativos da terra e de muitas civilizações africanas que aqui desembarcaram.
Que a sua gestão seja pautada pela ordem democrática, pela justiça, pela correção das desigualdades, pelo respeito ao meio ambiente e, sobretudo, pela valorização da diversidade que atesta o Brasil como sendo um território plural até mesmo antes de sua ascensão como país, no concerto das nações.
Com respeito a Vossa Excelência e fé no futuro do Brasil…
Uma pessoa preta brasileira com título de eleitor!
Por: Durval Arantes
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