Recomendações pós Carnaval para o mundo corporativo: “Corra” ou “Wakanda Forever”?

Texto Viviane Elias Moreira

E eis que piscamos, fevereiro passou e com ele se foi o mês do Carnaval, do agito e das purpurinas. Podemos dizer que este Carnaval inclusive ficou muito parecido com o mundinho corporativo: pessoas negras em posições relevantes bem perto dos mesmos números de pessoas negras em posições de CEO nas empresas brasileiras. A arte imitando a vida ou a vida imitando a arte?

Pois bem: 2023 começou! A largada oficialmente foi dada e chegou a hora de tirar os planos do papel, ser disruptivo, traçar novas ideias e metas, aquele famoso meter marcha. Mas, não só de potencialidades, jargões em inglês e ideias mirabolantes sobrevivem nossas carreiras corporativas ou nossas iniciativas de empreendedorismo, qualquer que seja a nomenclatura, cargo e status que você adote no seu dia a dia para negócios.

Quando se é uma pessoa negra, a premissa de adotarmos estratégias corporativas é determinante. Não é opcional e nem tão pouco uma tendência. É sobrevivência. É garantir a continuidade das nossas carreiras e jornadas corporativas que já estão marcadas por armadilhas visíveis e invisíveis que o racismo estrutural nos coloca e que temos que enfrentar desde o primeiro “bom dia” corporativo diário.. 

Durante toda a minha trajetória, acompanhei muitos profissionais negros com conhecimentos técnicos excepcionais e com características hoje determinadas como “soft skills” tão incríveis que poderiam tranquilamente estar em rankings de profissionais do ano. Muitos deles se perderam por diferentes fatores, mas um fator era claro para todos: falta de direcionamento na adoção de estratégias corporativas. 

O diretor Jordan Peele no filme eita-atrás-de-vixe chamado “Corra”, aborda diferentes problemáticas relacionadas ao racismo, e entre elas, a necessidade de pessoas não negras se apropriarem das potencialidades de pessoas negras, como um instrumento de protagonismo, ascensão e excelência. Uma das frases mais marcantes do filme é: “Um dia você revela fotos no quarto escuro, no outro, vive na escuridão para sempre.”

CNPJS para pessoas negras são grandes quartos escuros e peço licença com toda a minha humildade corporativa adquirida em mais de 12 anos de atuação em empresas, para propor algumas dicas de estratégias um pouco mais assertivas para que você adote em 2023, adaptando ao seu mercado de atuação única e exclusivamente com o objetivo de que você não tenha que correr e viver na escuridão para sempre.  

E o que Wakanda Forever tem a ver com isso? Quando estratégias assertivas são adotadas e de forma coletiva, temos o sucesso de uma nação unida em valores reais e tangíveis. Como T’Challa nos ensinou: “Em tempos de crise, os sábios constroem pontes, enquanto os tolos constroem muros” 

Corra: 

  • Representatividade importa, mas pense se o bônus e o ônus de ocupar este espaço é viável para você:  a ascensão de profissionais negros que ocorreram nos últimos anos (poucas eu sei), criaram uma demanda massiva nos CNPJS de ocupação de alguns espaços com o selo de “representatividade importa e você precisa estar lá”. Bino, pode ser uma cilada! Coloque a sua segurança psicológica em primeiro lugar, avalie os prós e contras do que poderá demandar antes, durante e após “ocupar” estes lugares e valide se não é mais uma ação para você se tornar um “token” ou uma ação real e legítima que permita que você exponha as suas potencialidades e conhecimentos. Vai por mim, já passei por isso e depois a solitude para a reconstrução é pesada…
  • Tecnologias emergentes estão em construção e, portanto, tenha uma análise crítica: nem toda tecnologia emergente será “abraçada” por todos os cnpjs de forma rápida como imaginamos e, portanto, antes de investir em capacitações que prometerão posições corporativas de destaque e com salários “zerei o game”, faça uma análise crítica de diferentes pontos de vistas. Um grande exemplo disso em 2023, o ano que a “demissão em massa” foi consolidada definitivamente como lay off, foi o impacto em profissionais negros que investiram recursos financeiros em formações em áreas de tecnologia do futuro e que foram descontinuadas e hoje estão com um nível surreal de dificuldade para reposicionarem no mercado. Analisar de forma crítica a sua jornada profissional pode te ajudar a estar preparado para oportunidades sim, mas de forma estratégica, como por exemplo, investir inicialmente em capacitações técnicas mais demandadas pelo mercado, como a fluência em inglês. 

Wakanda-se:

  • Participe e atue ativamente em grupos de profissionais negros:  Wakanda, como já devem ter visto nos filmes, é como um quilombo contemporâneo, especializado e acolhedor, com a sua própria tendência. Temos vários minis Wakanda que podem nos ajudar na construção das nossas carreiras. Exemplos: Conselheiras 101, para mulheres negras executivas que querem se aprimorar para atuação em conselhos; Instituto Pactuá: programa para  desenvolvimento de profissionais negros de média e alta gestão; Blackrhbrasil: grupo com foco em desenvolvimento de carreiras de profissionais negros em áreas de gestão de RH; Blck.hour plataforma para reunir profissionais negros que atuam no mercado financeiro criado pela Conta black e Black Swan; Pretahub que é um hub de criatividade e inventividade para profissionais e empreendedores negros; Movimento Black Money Experience que é um evento de negócios e novas tecnologias para nós. Isso sem falar dos grupos de Whats que nos fortalecem e podem ser criados a partir de profissionais negros mais próximos de vocês (Salve Herdeiras da Oprah). Estes são somente alguns exemplos…
  • Cuide da sua imagem para fortalecimento pessoal e também coletivo: se posicionar é necessário, mas precisa ser estratégico. Não estamos falando sobre silenciamento, mas estamos falando sobre a forma e não o porque, sobretudo quando falamos sobre redes sociais e postura corporativa. Lembrem-se que rótulos são colocados o tempo inteiro para nós profissionais negros e muitas vezes o posicionamento sobre uma situação de adversidade corporativa ou mesmo de racismo corporativo, se não muito bem estruturado,  pode causar mais danos para você (risco de imagem) e para o coletivo. Um posicionamento muito nem estruturado e com os devidos suportes necessários, inclusive jurídico, conforme a situação é uma forma estratégica para cuidar da sua imagem pessoal e do novo povo também. 

DESCORPORIZE: o espaço desta coluna para você entender que a carreira também se faz com momentos de ócio: divirta-se com o conteúdo gerado pela Wakanda Gossip no insta. Diversão, polêmicas e reflexões na medida certa;

CONHEÇA E INSPIRE-SE: o espaço desta coluna para você conhecer novos nomes do mundo black dos cnpjs: 

Mônica Marcondes: Executiva do segmento financeiro e de energia, conselheira de empresas, com formação que inclui USP e Mackenzie e um papo reto que só nos engrandece como comunidade. Linkedin: https://www.linkedin.com/in/monica-marcondes-b2a01b13/ 

*Viviane Elias Moreira é C-level em uma edtech, conselheira, palestrante, professora de MBA e uma realista esperançosa pela igualdade racial e de gênero. 

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