(*) Por Juliane Sousa e Priscila Konce
A transição de carreira é um percurso desafiador para qualquer pessoa, mas para mulheres negras, esse caminho é marcado por obstáculos que vão além das questões profissionais. Enfrentar e superar essas barreiras exige não apenas força, mas uma resiliência que é forjada na luta diária contra desigualdades históricas e estruturais. Neste contexto, as histórias com final feliz vão muito além do que uma inspiração. A superação serve de guia para as demais mulheres que buscam mudar trajetórias.
Quais chances existem para quem cresceu em uma família de baixa renda, cuja mobilidade social é quase inalcançável? Desde cedo, muitas de nós começamos a trabalhar ajudando nossas mães, ora nos afazeres domésticos, ora nos serviços de entrega de costura, por exemplo. A vivência da mulher pobre e negra nos faz compreender cedo que, para alcançar um futuro diferente, é preciso romper com um ciclo que se repete por gerações.
Nessa constante busca por oportunidades, organizações como a Educafro, que apoia jovens negros e negras em situação de vulnerabilidade social, podem fazer toda a diferença na vida de uma pessoa. São elas que ofertam vagas em cursos pré-vestibulares e fazem a ponte para as instituições de ensino superior por meio de bolsas de estudo. Investir em educação é quase sempre uma escolha estratégica para a transformação da realidade.
Mas não basta apenas chegar à faculdade. Durante nossa trajetória acadêmica os obstáculos são muitos, desde a necessidade de conciliar estudos e trabalho até os desafios de sustentar os custos do curso escolhido sem uma rede de apoio tradicional. Não é nada fácil, e a persistência em se formar na profissão é o que sobra diante de um dia a dia de adversidades.
Com o diploma em mãos, chega o momento de pensar em estratégias. Além de aceitar todas as oportunidades que surgiam, é preciso planejar cada passo com cuidado. Quando ingressamos no Sistema B Brasil, por exemplo, soubemos construir uma rede de contatos para nos oferecer apoio e abrir novas portas. É um lugar onde fomos acolhidas por mentores e colegas que acreditaram no nosso potencial.
Além da estratégia, o investimento acadêmico é outro pilar para uma boa carreira. Precisamos adquirir novas habilidades, sempre buscando um constante aprendizado para alcançar novos patamares. A educação não apenas transforma, mas também empodera, oferecendo as ferramentas necessárias para navegar por ambientes que impedem o avanço das mulheres negras no mercado de trabalho.
Fica claro, portanto, que a transição de carreira para mulheres negras não é apenas uma mudança de emprego. Ela é um ato de resistência contra um sistema que historicamente as marginalizou. Educação, persistência, estratégia, rede de apoio e autoconfiança são as chaves para transformar essa realidade.
A cada amanhecer, precisamos buscar a capacidade de nos recuperar rapidamente das dificuldades do dia anterior e seguir em frente. Que as brasileiras mulheres negras tenham sempre a capacidade de acreditar em si mesmas. Que a nossa autoconfiança guie a nossa carreira chamada vida, assim como a de todas que pavimentam o caminho para as próximas gerações.
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(*) Juliane Sousa é jornalista quilombola e gerente de Comunicação e Marketing do Sistema B Brasil e Priscila Konce é analista da área de Educação e Comunidades do Sistema B