“Historicamente sempre faltou um olhar do mercado para o segmento de beleza negra. Não havia investimentos nem produtos que contemplassem a diversidade de peles negras. Quando eu comecei esse trabalho, as pessoas negras não eram vistas nem atendidas nas suas particularidades”. Rosangela Silva, fundadora e CEO da Negra Rosa começa 2023 tendo muito o que comemorar.
Sua marca, uma das primeiras em maquiagem para peles negras no Brasil teve sua área de operações adquirida pela mineira Farmax, fabricante de produtos de beleza, saúde e bem-estar que teve um faturamento de R$373 milhões no ano passado e incluiu aquisições dentro do seu plano estratégico.
Negra Rosa, que começou com maquiagem, ampliou seu repertório sem perder o foco no consumidor negro e começou a oferecer também produtos para o cabelo. Com a parceria, a Farmax assume parte da produção da empresa que em poucos meses apresentará uma nova identidade visual e produtos para pele negra, que de acordo com Rosangela “já estão em fase adiantada de desenvolvimento”.
A previsão é de que os novos produtos sejam lançados em abril e estejam disponíveis aos consumidores, no ponto de venda, a partir de junho deste ano.
Conversamos com Rosangela Silva para saber mais detalhes sobre essa nova fase do seu negócio, que começou em 2016, no município de Angra dos Reis (RJ).
Como surgiu essa parceria entre a sua marca e a Farmax, quem procurou quem? Quais os produtos estarão disponíveis na loja? Serão vendidos apenas nas lojas físicas?
O primeiro contato foi feito pela CMO da Farmax, Bianca Pi, no ano passado. Ela buscou saber o que eu esperava para o futuro da marca. A partir daí nossa conversa avançou durante meses e a sintonia de expectativas foi muito grande. Meu cuidado era que a marca não se transformasse em algo sem sentido, diferente daquilo que sempre foi o nosso diferencial para o público negro. Mas logo percebi que tinha encontrado pessoas com o mesmo propósito. A Farmax vai potencializar a Negra Rosa mantendo a verdade que sempre carregamos desde a nossa origem, há sete anos, em especial porque ela continua com nosso time e nosso olhar. O mix de produtos Negra Rosa girava em torno de 60 SKUs (Unidade de Manutenção de Estoque) exclusivos para cabelo e maquiagem. Agora, além do rebranding, somente nesta primeira etapa, outros 10 SKUs para skincare já estão em fase adiantada de desenvolvimento. As revendedoras continuarão tendo papel fundamental. Elas são essenciais e grandes referências da marca. Só vamos potencializar o alcance dos produtos pelo país para ainda mais mulheres negras encontrarem de forma fácil um produto Negra Rosa em qualquer lugar do Brasil. Além das vendas pela internet e nas lojas físicas – hoje a Farmax está em 94% das farmácias brasileiras. Vamos chegar cada vez a mais pessoas e isso nos enche de alegria.
A parceria com a Farmax vai mudar alguma coisa na sua estratégia com as revendedoras de Negra Rosa?
Nossas revendedoras fazem parte da história da Negra Rosa e elas continuarão conosco tendo a mesma importância que sempre tiveram. Elas são parte de tudo que conquistamos. Vamos continuar valorizando aquelas pessoas que nos valorizaram desde o princípio, acompanhando todo o processo de crescimento da marca.
Quais tipos de produtos a Negra Rosa oferece ao público hoje, quais destes têm mais saída. Ainda sobre os produtos queridinhos, o que eles oferecem de diferente comparado aos similares do mercado?
Até o fim do ano passado, o mix de produtos Negra Rosa era exclusivo para cabelo e maquiagem. Com a Farmax, vamos ter condições de investir em pesquisa e desenvolvimento de novas linhas. Nosso grande diferencial é sermos uma marca feita por mulheres negras para outras mulheres negras. Nossos produtos mais reconhecidos são a base de maquiagem com tons específicos para peles negras, o gel ativador e o Creme de Pentear Merengue, lançado há pouco tempo, mas que já é um sucesso. Além de fundadora da marca, eu sou consumidora. Eu criei produtos que eu, minha família e minhas amigas não encontrávamos. Essa parceria com a Farmax é fruto do desejo compartilhado de promovermos cada vez mais o acesso da população negra a itens de beleza de qualidade e a preços acessíveis, o que era muito incomum quando comecei esse trabalho.
Quais são suas expectativas em médio e longo prazo com essa parceria?
A partir de agora passamos a não ter mais limite para crescer. Ainda é difícil dizer aonde podemos chegar, mas as expectativas são as melhores possíveis. A Farmax apresentou as condições perfeitas para alcançarmos o lugar que sempre sonhamos. Eu tenho a felicidade de seguir como curadora da marca, assim como meu time, acompanhando todos os processos, testando tudo, ajudando de pertinho a fazer todas as coisas acontecerem. A Negra Rosa segue sendo pensada e olhada por mulheres negras e isso é muito significativo, tanto para nossa marca se fortalecer, quanto para o próprio mercado que passa a dar visibilidade para essa demanda das consumidoras de forma genuína.
Dentro do seu ramo, quais são as maiores dificuldades em se fabricar e comercializar produtos específicos para comunidade negra, mas também o que torna esse tipo de negócio tão potente e especial?
Historicamente sempre faltou um olhar do mercado para o segmento de beleza negra. Não havia investimentos nem produtos que contemplassem a diversidade de peles negras. Quando eu comecei esse trabalho, as pessoas negras não eram vistas nem atendidas nas suas particularidades. Sendo que estamos falando de um segmento predominante na sociedade brasileira e que é altamente engajado no cuidado pessoal. Por isso existia um vazio a ser preenchido. O interesse era grande, mas não havia uma resposta do mercado. A história da Negra Rosa começou para ajudar a mudar essa realidade.
Como a fábrica trabalha para manter a satisfação dos clientes e responder às suas necessidades?
Esse é outro aspecto que temos para comemorar. Até aqui a Negra Rosa sempre trabalhou com fabricantes terceirizados. Agora temos a fábrica da Farmax, localizada em Divinópolis (MG), que vai absorver uma parte da produção. Ou seja, vamos ter ainda mais controle de tudo que entregamos para nossas consumidoras, aprimorando cada dia mais a qualidade dos nossos processos. Assim como a Negra Rosa, um dos pilares da Farmax é o foco no cliente. Aliás essa é uma preocupação transversal para todas as áreas. Exatamente por essa característica é que essa parceria surgiu tão forte.
Quantas pessoas sua empresa emprega atualmente? Há uma gestão com foco na diversidade e questões ambientais?
Eu e o time de três colaboradoras seguimos focadas na nossa marca. Agora, outros profissionais já foram contratados e outros ainda vão chegar, sempre com o olhar para a diversidade, garantindo nossa proximidade com nossas consumidoras. A atuação se dá em diversas áreas, entre elas a Digital, Marketing e Pesquisa (P&D), por exemplo. Uma equipe que vai somar aos aproximadamente 900 colaboradores da Farmax. Nossa gestão sempre foi e continuará sendo pautada pela diversidade. Diversidade é sinônimo da nossa história. É a nossa essência e também faz parte da essência da Farmax, se não, não estaríamos aqui. Foi para isso que comecei todo esse trabalho. A Farmax é participante do Pacto Global da ONU, com metas claras de avanço nas esferas ambiental, social e de governança, que são visíveis no plano estratégico da companhia e na gestão das pessoas. Realmente a convergência entre o propósito das marcas é muito grande.