O que é equilíbrio para você? Não existe uma receita única para conciliar todas as responsabilidades na vida, mas é fato que o desequilíbrio entre pilares da nossa vida prejudica a qualidade de vida e bem-estar.
Maternidade e carreira são um dueto complexo e real. Trabalhar e ser mãe não são mundos separados, mas dimensões da vida que se complementam. Quando pensamos em maternidade no contexto profissional, o que vem à mente? Talvez licença-maternidade, salas de amamentação e horários flexíveis. Mas será que isso é tudo sobre esse tema?
De acordo com um estudo da Rede Mulher Empreendedora (RME), para 87% das mulheres empreendedoras, a motivação para empreender e buscar independência financeira é justamente ter mais tempo no cuidado dos filhos e da família. E essa tendência tem crescido nos últimos anos. Dados do Sebrae mostram que mais de 10,1 milhões de negócios no Brasil são comandados por mulheres, sendo que 52% delas são mães.
Mães no mercado de trabalho: motivação e sensibilidade
Assumir as responsabilidades do lar já é um desafio por si só, que se torna ainda maior quando precisa ser conciliado com as exigências profissionais. Mesmo diante dessas dificuldades, aproximadamente 85% das mulheres no país enfrentam uma dupla jornada, dividindo-se entre o trabalho remunerado e as obrigações domésticas e de cuidado com os filhos. Além dos desafios inerentes a essa realidade, muitas ainda lidam com o preconceito no ambiente de trabalho.
Um estudo conduzido pelo LinkedIn em fevereiro deste ano apontou que 44% das mulheres nunca solicitaram um aumento salarial ou negociaram uma promoção, apesar de se sentirem merecedoras. Esse fenômeno reflete a cultura machista predominante, na qual questões sobre maternidade ou desejo de ter filhos são levantadas durante processos seletivos, mulheres são subvalorizadas, enfrentam olhares críticos durante a gravidez e, em alguns casos, são injustamente demitidas após o término da licença-maternidade.
Contrariando a ideia de que a maternidade pode limitar as capacidades profissionais das mulheres, para muitas, ter filhos serve como um estímulo adicional para se destacarem em suas carreiras. Pesquisas indicam que mães adquirem habilidades únicas e desenvolvem uma maior empatia, o que as torna especialmente aptas a gerenciar relações interpessoais no ambiente de trabalho.
O maternar da mulher negra
A jornada de ser mãe varia significativamente de uma para outra, como mães negras enfrentamos desafios adicionais devido a nossa posição na estrutura social. Nós frequentemente ocupamos os empregos mais instáveis e temos menos liberdade para escolher passar tempo em casa com nossos filhos, além de enfrentar a falta de garantias trabalhistas. Com rendimentos inferiores e escassas opções para obter suporte externo, muitas acabam interrompendo os estudos e se voltando para o setor informal, buscando maneiras de se sustentar. A ausência de políticas públicas que assegurem direitos trabalhistas adequados, salários justos, representatividade em diversos campos profissionais – não somente nos mais vulneráveis – e acesso a creches públicas, complica ainda mais a capacidade dessas mulheres de equilibrar as responsabilidades profissionais com a maternidade.
De acordo com o estudo da economista Janaina Feijó, pesquisadora do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), as mulheres negras ainda convivem com uma taxa de desemprego mais elevada do que os demais grupos analisados.
No primeiro trimestre de 2023, a desocupação foi de 13,1% para elas. Enquanto isso, a taxa de desemprego ficou em 8% para as mulheres brancas e amarelas.
Entre os homens, o indicador foi de 8,4% para os negros e de 5,7% para os brancos e amarelos. Ou seja, somente as mulheres negras tinham uma taxa de desemprego de dois dígitos no país.
Como mãe preta de dois, executiva, empreendedora, destaco alguns pontos que julgo essenciais para seguirmos em frente:
- Não carregue a maternidade como culpa;
- Tente organizar seu tempo, de forma que você se cuide;
- Tente manter uma rede de apoio próxima, peça ajuda;
- Tenha rotinas facilitadas, não tente fazer tudo ao mesmo tempo;
- Sua família precisa estar junto com seu propósito, tente não culpabilizar seus filhos.
É fundamental debater e tratar dessas questões para fomentar a igualdade de gênero e racial, além de apoiar mulheres que buscam conciliar a maternidade com suas trajetórias profissionais. Mantendo o diálogo aberto sobre esse tema, temos a oportunidade de elevar a conscientização, estimular alterações nas políticas e procedimentos nos ambientes de trabalho e promover uma distribuição mais equitativa das obrigações familiares entre homens e mulheres, bem como na sociedade como um todo.
*Kelly Baptista, Mãe, Diretora executiva da Fundação 1Bi, Gestora Pública, membro da Rede de Líderes Fundação Lemann e Linkedin Top Voice.