Maioria das mulheres empreendedoras no Rio de Janeiro tocam seus negócios sozinhas; 60% delas são negras

Um levantamento feito pela Secretaria do Estado da Mulher do Rio de Janeiro mostrou que a maioria das empreendedoras na região tocam seus negócios sozinhas. O estudo preliminar traçou um perfil das participantes, constatando que 60% desse grupo é formado por mulheres negras.

Os dados revelaram que 86% delas desempenham todas as funções no seu empreendimento. Ao analisar o perfil das 1.700 empreendedoras, o levantamento identificou que 60% delas são negras, 72% tem 40 anos ou mais, 45% tem ensino superior, além disso, metade das mulheres empreendedoras são a principal ou única fonte de renda da família. 48% não tem CNPJ e apenas 13% empregam outras pessoas.

O levantamento, ainda em andamento, ressalta a solidão que mulheres enfrentam quando decidem empreender e também contribui para que seja possível identificar as motivações que levam essas mulheres a optar por tocar o próprio negócio. Recentemente, uma pesquisa inédita do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made), da USP, mostrou que 6,8 milhões de mulheres negras e 4,3 milhões de brancas não estavam no mercado de trabalho em 2022, elas abandonaram a profissão para se dedicar ao trabalho de cuidado dos filhos e da casa, mesmo desejando estar no mercado.

Ao todo, elas somam 11,1 milhões de mulheres que se tornaram mães e que se distanciaram do mercado formal para trabalhar apenas nos cuidados domésticos e na maternidade. A segunda edição da pesquisa “Parentalidade e Empreendedorismo”, feita pelo Sebrae, constatou que 67% das mães empreendedoras que moram no estado de Minas Gerais abriram o próprio negócio após terem filhos. 69% delas respondeu ainda que ter filhos influenciou diretamente na decisão de empreender para que pudessem ter autonomia e flexibilidade para conciliar a rotina profissional com a familiar.

Os dados trazidos aqui apresentam um ponto em comum que tem sido debatido constantemente entre as mulheres que se tornam mães, mas que ainda é pouco abordado de maneira ampla e honesta pela sociedade. A maternidade ainda afasta as mulheres do mercado de trabalho, ou melhor, o mercado de trabalho exclui as mulheres que se tornam mães, e aquelas que buscam empreender para ter sua própria fonte de renda e cuidar dos filhos, ainda encontram muitas dificuldades para impulsionar seus negócios, já que muitas delas se tornam a única fonte de renda do lar e conseguem empreender apenas para subsistir.

Em uma sociedade patriarcal, a maternidade e todos os pormenores que fazem parte desse universo, são totalmente ignorados pela maioria das empresas, que em muitos casos podem optar pelo home office para pais e mães, mas escolhem o presencial porque compram tempo e corpo e não o trabalho realizado. Também é ignorada por políticas públicas ineficientes, que dificultam que pais e mães encontrem vagas para seus filhos em creches e escolas próximas de casa ou do trabalho. Além de ser ignorada por amigos e familiares, que não colaboram formando a esperada aldeia necessária para criar uma criança, que tanto é mencionada por aqueles que leram ‘O Espírito da Intimidade’, escrito por Sobonfu Somé.

Empreender no universo da maternidade é um processo muito mais profundo e complexo do que imaginamos quando vemos algumas pessoas enaltecendo sua trajetória meritocrática de ‘número um’ disso ou daquilo. Se você chegou primeiro, é muito provável que sua mãe tenha, em algum momento, sacrificado (não no sentido santificado da palavra, porque pode ser muito doloroso e não existe virtude se não há opção) sua carreira, estudos ou desejos imediatos para cuidar de você.

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