Adriana Barbosa, fundadora do Festival Feira Preta, tem transformado o cenário cultural e econômico para a população negra no Brasil e além. Com um currículo impressionante que inclui ser uma das mulheres negras mais influentes do mundo segundo a Mipad e a primeira mulher negra reconhecida como Inovadora Social pelo Fórum Econômico Mundial, Adriana tem liderado iniciativas que promovem inclusão e diversidade de maneira sistêmica e impactante.
Ao realizar a 22ª edição do Festival Feira Preta, o maior festival de cultura negra da América Latina, trouxe novidades como a mudança de data e endereço. O evento estreou no Parque do Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo, e foi realizado no mês de maio, diferente das edições anteriores, que aconteceram no mês de novembro.
Com um evento maior, o festival alcançou um novo marco ao reunir 60 mil pessoas, um recorde de público, e gerar uma circulação monetária de mais de R$7 milhões. Além disso, este ano, o figital, conceito que combina a interseção entre o mundo físico e o digital, foi um dos grandes destaques tecnológicos com uma versão do Festival acontecendo no Metaverso.
“A gente olha a tecnologia como uma aliada e quando a gente resolveu fazer a feira no metaverso foi, sobretudo, numa perspectiva de acessibilidade e democratização para pessoas que estão fora da cidade de São Paulo poderem acessar. Então não tinha custo para as pessoas acessarem no formato do metaverso. Acho que a gente conseguiu transpor o máximo da experiência do físico para o digital”, afirmou Adriana Barbosa em entrevista para o Mundo Negro.
“A gente teve acessos não só do Brasil, mas sobretudo muitos acessos de fora do país. Gente de Miami, muita gente dos Estados Unidos, de outros países que acessaram, que ouviram a música, que gostaram, que se interessaram pelos conteúdos”, revelou.
Um dos aspectos notáveis do evento foi o investimento em práticas de ESG (ambiental, social e governança), sob consultoria e coordenação de Ari Couto, a partir da criação de indicadores. O trabalho também contou com a coordenação operacional de ESG e curadoria de profissionais dissidentes em acessibilidade e sustentabilidade, da Caroline Sampaio.
Adriana Barbosa conta que a construção do festival teve um olhar especial para a governança, com mais de 90% dos postos de trabalho ocupados por pessoas negras.
O festival firmou uma parceria com a ONG Ação Social e arrecadou alimentos durante o festival. Os donativos, que somaram mais de uma tonelada, foram enviados para as vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul.
“Do ponto de vista ambiental, a gente fez uma parceria com uma empresa que trabalha com resíduos, com coleta seletiva, com cooperativas, a gente fez neutralização de carbono, fez uma série de ações com esse olhar do impacto ambiental da Feira Preta acontecendo no Parque do Ibirapuera e do ponto de vista de acessibilidade, a gente fez parceria com organizações, sobretudo de surdo-mudo, de tradução em libras, de monitoria. Tinha uma série de ações”.
Em entrevista, Ari Couto afirmou: “Como esta seria a primeira edição com o ESG, definimos junto à diretoria da Feira que as mudanças seriam implantadas gradativamente. Então para 2024 nosso foco foi redução de danos”. A partir daí, uma extensa lista de ações foi definida e implementada, entre elas: redução do uso de descartáveis plásticos; coleta e triagem dos resíduos recicláveis; Compartilhamento das metas sustentáveis com a equipe de Heads produtores; distribuição de água gratuita para o público; distribuição de Manual do Festival, contendo Diretrizes de Sustentabilidade para todas as Marcas, expositores e produtores; ter mais pessoas negras na liderança das equipes; tornar a maior parte do evento e experiências acessíveis a pessoas com diversas deficiências.
O Festival Feira Preta também teve uma Tenda de Acolhimento e Prevenção às Violências para acolher e orientar eventuais casos de racismo, transfobia, lgbtfobia, capacitismo, violências sexuais e outras, acessível tanto para o público, quanto para os colaboradores.
“Acredito que o casamento da Feira Preta com o ESG já é uma realidade, já que a população preta é também a que mais sofre com as catástrofes climáticas no país. O Festival quer ver gente preta sendo feliz e isso passa pelo nosso entorno e por toda a pluralidade de corpos e pessoas! Somos um quilombo plural!”, destacou Ari.
Planos para o Futuro
Adriana também tem planos ambiciosos para internacionalizar o Festival Feira Preta. Já existem colaborações com festivais em Ruanda, Burkina Faso, Reino Unido e Portugal, e a criação de uma plataforma que conectará produtores de festivais da diáspora. Esse movimento promete expandir ainda mais o impacto do festival e fortalecer a conexão entre comunidades negras globalmente.
Resiliência e Impacto
Para Adriana Barbosa, ser uma mulher negra a liderar o maior festival de cultura negra da América Latina vem com uma grande responsabilidade: “É uma responsabilidade enorme e, ao mesmo tempo, muito feliz de manter a resiliência dessa realização de vinte e poucos anos,” compartilhou ela. “Transformar o festival num grande movimento de fortalecimento da população preta, de maneira sistêmica, que é um trabalho que a gente vem fazendo de formiguinha há duas décadas. O que aconteceu esse ano é um resultado de muitos anos de aprendizados, de idas e vindas, de experimentações, de acertos, de sucessos, de muitas histórias”.