Desemprego entre mulheres negras no Brasil: um retrato da interseccionalidade e da luta por oportunidades

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou Dados da Pesquisa por Amostra a Domicílios (Pnad) que apontam que mulheres negras ocuparam os piores índices de desemprego no Brasil em 2023.

No último trimestre do ano passado, a taxa de mulheres negras desempregadas foi de 9,2%, enquanto a média nacional foi 7,4%, cerca de 2,2% acima do percentual médio.

A população negra (soma de pretos e pardos) apresentou taxas acima da média nacional de desemprego em relação à população branca, que alcançou 5,9%. Em comparação, os pretos apresentaram 8,9% e os pardos 8,5%.

Para homens, os números também representam uma superioridade de 53,3% entre a taxa de desemprego, que alcançou 6%. Sendo assim, essa é a maior discrepância em 12 anos.

Os dados ainda revelaram diferença entre empregabilidade e escolaridade, pessoas com ensino médio incompleto, o índice de desemprego foi de 13%, a pior taxa de estudo. Já pessoas com o superior incompleto alcançaram a porcentagem de 7,6%.

Para Cristiane Machado co-fundadora do ‘Negras na CX‘ e mentora no programa #ContrateUmaNegra, criado dentro da comunidade para fortalecimento de mulheres negras, com histórico de assédio moral nas empresas anteriores que afetam a autoestima desta profissional, muitas relatam que não conseguem colocar suas conquistas no currículo, porque eram sempre criticadas pela gestão direta, mesmo em projetos que foram extremamente bem sucedidos na empresa.

A dificuldade de reconhecer e contar sobre seus pontos fortes. Seja pela questão do assédio sofrido anteriormente ou porque não sabem “se vender”, não foram orientadas e preparadas para fazer seu próprio marketing, além da síndrome da impostora que cobra que sejam melhor em tudo que faz e portanto nada é tão bom, mesmo que muitas outras pessoas reconheçam seus feitos como excelentes.

Quando falamos em interseccionalidade, o etarismo tem sido o mais cruel de todos. Mulheres acima dos 40 anos são as que levam mais tempo para se recolocarem. Mesmo com currículos incríveis relacionados a tempo de experiência, passagem por grandes empresas e uma coleção de diplomas de pós graduação e MBA, essas mulheres são preteridas nas entrevistas e existem sinais claros de que é por causa da idade.

Muitas mulheres negras são únicas nas empresas e por vezes ainda são isoladas pelas equipes o que faz com que sua rede de networking seja muito pequena ou inexistente, como sabemos que o fator indicação é essencial para conseguir pelo menos a entrevista de emprego, essas mulheres encontram mais dificuldades porque não tem uma rede de pessoas que possa indicá-las

Cristiane ressalta que como comunidade é dentro do programa #ContrateUmaNegra,  o que fazem é dar apoio emocional, ajudar para o autoconhecimento, orientação para desenvolvimento do currículo, orientação para se concentrar em candidaturas que façam mais sentido com a carreira.

Uma rede potente de networking onde as quase 350 mulheres que atualmente existem no grupo se ajudam mutuamente e por meio de parcerias com empresas de eventos, escola de formação e empresas que estejam em busca de profissionais, “Nós temos ajudado nesta recolocação e tido sucesso, com menos de 6 meses de programas já conseguimos auxiliar cerca de 20 profissionais a se recolocar e a serem promovidas ou a mudarem de empresas”, finaliza a executiva.

A falta de oportunidade de  trabalho é um dos pilares da opressão para nós negros, num país como o Brasil que tem uma herança escravagista, que todos os dias nos coloca em zona de risco. Uma herança muito dolorosa, onde até hoje temos consequências e dados extremamente pesados sob a população negra, e o trabalho e a educação são as únicas coisas que podem virar esta chave.

Para saber mais sobre o #ContrateUmaNegra: https://www.negrasnacx.com/contato

*Kelly Baptista, Mãe, Diretora executiva da Fundação 1Bi, Gestora Pública, membro da Rede de Líderes Fundação Lemann e Linkedin Top Voice.

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