Café das Sócias: encontro de mulheres negras quer acolher quem está desenvolvendo a carreira, mas sonha grande 

Quando pensamos no mundo corporativo ainda tão branco e masculino, muitas vezes é fora deles que temos que reabastecer nossas energias, encontrando com quem se parece com a gente quando queremos planejar o futuro. Se nosso objetivo é crescer e liderar, não é em espaços embranquecidos que vamos encontrar os incentivos que precisamos. 

Giovana Alves, 26, é estudante de economia de Osasco (SP) e sempre sentiu uma grande distância entre quem está construindo a carreira e quem já está no topo. Não se enxergar no seu ambiente de trabalho, o mercado financeiro só complicou ainda mais a situação. Por meio da sua conta no Instagram, ela então criou uma persona de CEO do Futuro e suas seguidoras seriam suas sócias. Não demorou muito para que isso se tornasse em um encontro de 100 mulheres. 

Gioavana Alves – Foto: divulgação

“No Café nós dividimos ferramentas, trocamos mentorias, leituras, dicas para lidar com os desafios do dia a dia e nos acolhemos na sensação de ser a única naquele espaço”, diz Giovana.  Conversamos com ela para conhecer mais o projeto que terá uma terceira edição em breve. 

Mundo Negro –  Por que Café da Sócias? 

Eu comecei no meu Instagram uma persona de CEO. Sempre acreditei em liderança mas, ainda existia uma vontade de ressiginificar esse lugar e de dizer às pessoas que liderança não era sobre cargo. Eu sentia uma lacuna grande entre as lideranças e as pessoas em construção de carreira. 

Então, comecei a dividir o meu dia intenso de trabalho e estudo, meu desenvolvimento no inglês e dizer para minhas seguidoras que eu sou a CEO do futuro e que todas as meninas mulheres que me seguirem seriam minhas sócias. 

Daí surgiu o Café. Durante os desafios da minha carreira de CEO do futuro que nada mais é, que uma junior em desenvolvimento no presente, eu decidi reunir os meus desafios e os meus acessos e dividir com algumas das que me seguiam. 

Eu estava em um programa de trainee, acessando o inglês pela primeira vez e encarando uma curva alta de desenvolvimento que muitas vezes me dava certa frustração. Eu queria um lugar seguro, com pessoas que me entendessem e que eu pudesse dividir além dos desafios, as ferramentas que eu encontrei até esse momento da minha carreira. 

No final do dia, o Café virou um ambiente seguro. 

Foto: Divulgação

Qual o tipo de mulheres que esse evento busca trazer e com qual objetivo? 

O objetivo é reunir mulheres negras de diferentes níveis de carreira, de mercados diferentes mas que estão no mundo corporativo. A gente sabe o quão distante é o tópico carreira para nós e o quão desafiador é o dia a dia nas grandes corporações. Começar e desenvolver nesse ambiente, sem nenhum histórico familiar, é um desafio gigante. 

No Café nós dividimos ferramentas, trocamos mentorias, leituras, dicas para lidar com os desafios do dia a dia e nos acolhemos na sensação de ser a única naquele espaço. Ao reunirmos “a única de cada espaço”, encontramos 100 meninas nesse propósito. 

Nosso encontro é para dizer para todas essas mulheres que carreira também é para nós mulheres negras e que não importa o cargo, o momento de carreira, os desafios ou a empresa – todas são pessoas muito importantes que estão fazendo o máximo com o recurso que têm para dar conta dos desafios postos nesse processo. 

Como são selecionadas as participantes?

Não estipulamos muitas regras. O principal objetivo é reunir mulheres negras em nossas pluralidade. Nosso Café não tem divulgação em massa. Nós compartilhamos nas redes um formulário de inscrição, eles se inscrevem, pagam até a data estipulada e a confirmação está feita.  Na última edição tivemos 215 inscritas e nós selecionamos as 100 primeiras por ordem de inscrição e de pagamento. 

Como é a programação do evento e quem organiza e banca os custos desses encontros?

A programação é feita a partir de tópicos discutidos com as sócias durante todo o ano nas mídias.  Na primeira edição, falamos sobre os desafios do retorno ao escritório, da síndrome da impostora e do acolhimento. 

Na segunda, dividimos narrativas de mulheres em começo de carreira  versus mulheres com carreiras consolidadas , compartilhamos histórias, falamos de possibilidades de acesso, meios de desenvolvimento, cura, dicas de como lidar com o dia a dia e próximos passos para a carreira. 

O evento é organizado e custeado por mim e pelas próprias sócias, onde cada uma contribui com um valor determinado para subsidiarmos nosso café. 

Nós temos um grupo de trabalho com sócias que contribuem voluntariamente com a organização, decoração, identidade visual e planejamento. Eu lidero o grupo, monto a agenda e aprendo a delegar. 

No primeiro evento, você consegue citar algo que te marcou? Que fez brilhar seus olhos? 

No primeiro Café eu estava tomada de uma síndrome impostora muito latente. Me sentindo fraca frente aos desafios e que não daria conta do processo. Ver 50 mulheres negras saindo de suas casas num sábado de sol, quase nenhuma delas me conhecendo pessoalmente, para me ouvir falar, foi um presente. Ver tantas mulheres negras interessadas no tópico carreira, dispostas a se abrirem para isso. Quando vi aquele espaço lotado, ninguém no celular, todo mundo me ouvindo. Aquilo foi um ar!!

 Além disso, outras mulheres dividiram suas vivências, compartilharam sua potência e ouvir como o café reverberou fortaleza nelas, foi uma vitória. Elas diziam: “eu precisava tanto disso, eu só não sabia!!”. 

Um mês depois, uma recrutadora conhecida me ligou e disse: “Gi, estou entrevistando algumas meninas e elas te citaram com referência. Eu chorei, confesso. E entendi que o Café seria meu jeito de devolver para o coletivo, tudo de bom que eu tenho acessado nos últimos anos.

Mais informações sobre o Café das Sócios no perfil do evento no Instagram @cafedassocias

Comments