A economia digital também é negra. Discutir para onde queremos ir em um mundo onde se discute metaverso nem é mais novidade, é uma das propostas do “Festival Afrofuturismo – Por uma abolição econômica“ que acontece entre os dias 18 e 19 de novembro, em Salvador. O evento vai discutir o protagonismo afrodescendente e sua contribuição para a economia criativa, plataformas digitais, universo das criptomoedas e novas tecnologias como caminho para a inclusão tecnológica.
“O tema ‘Abolição Econômica’ tem a ver com uma análise sobre a necessidade de uma reparação econômica histórica para comunidade afrobrasileira, tendo em vista que a gente passou por mais de três séculos de escravidão e não tivemos a oportunidade de exercer nossos direitos econômicos”, disse Paulo Rogério, cofundador da Vale do Dendê e um dos idealizadores do Festival, em entrevista exclusiva para o Mundo Negro.
Promovido pela Vale do Dendê, o festival irá movimentar a capital baiana hoje e amanhã (19), em formato híbrido para ampliar o público. Desta forma, interessados em tecnologia no mundo inteiro terão acesso a atrações culturais e musicais, feira de empreendedores, palestras e atividades interativas com muita realidade virtual e aumentada, seguindo as trilhas subdivididas em temas como Inovação e tecnologia, Criatividade e negócios, Literatura e SCI-FI, Arquitetura e Urbanismo, Cinema e Games, Moda e Cosplay, Música e Podcast, Sustentabilidade e ESG.
Leia a entrevista completa:
O que significa o termo abolição econômica?
O tema “Abolição Econômica” tem a ver com uma análise sobre a necessidade de uma reparação econômica histórica para comunidade afrobrasileira, tendo em vista que a gente passou por mais de três séculos de escravidão e não tivemos a oportunidade de exercer nossos direitos econômicos, são direitos importantes, direitos humanos inclusive, para poder ter liberdade para empreender, para criar, para executar projetos e sonhos. A gente tá provocando esse ano com esse tema, para dar destaque a essa questão, novos ciclos econômicos estão surgindo. Novos ciclos econômicos estão surgindo com as criptomoedas, com a economia digital, com a economia do conhecimento, para que um dia a gente possa acelerar a inclusão das pessoas descendentes dentro da economia digital.
O evento antes era chamado de ocupação afrofuturista e agora é um festival. O que mudou?
A gente começou esse evento que tinha como objetivo realmente ocupar espaços públicos com inovação e tecnologia, mas a gente decidiu desde o ano passado virar um festival calendarizado, um festival com objetivo de atrair pessoas do mundo todo para Salvador para discutir o tema do futurismo, que é um tema bem delimitado e felizmente pelos grandes centros de inovação do mundo, são poucas pessoas que estão discutindo o futuro e a gente tem proposto abrir a discussão para a comunidade negra, para todas as pessoas que queiram discutir esse novo mundo que tá surgindo agora. No ano passado a gente fez um evento juntando Cabo Verde, Angola, Moçambique, Portugal e Brasil. Esse ano estamos recebendo já palestrantes de Gana, da Nigéria, Estados Unidos, com vídeos também, pela participação virtual da África do Sul e do Panamá. Tentar juntar toda a diáspora africana em torno desse tema tão importante.
Como você vê o desenvolvimento dos afroempreendedores agora com um presidente mais alinhado com pautas progressistas?
Esse novo ciclo político que o Brasil vai entrar em 2023 pode abrir novas portas para estimular o empreendedorismo negro, empreendedorismo periférico, a gente tá bem otimista com essas possibilidades, apesar de saber que para isso acontecer vamos precisar de representação real, de pessoas negras dentro dos Ministérios para que a gente tenha realmente a representação dentro de todos esses órgãos, mas a gente entende que é um grande possibilidade sobretudo para discutir linha de financiamento, linha de apoio e incentivo para o pequeno empreendedor, microempreendedor e pro nanoempreendedor.
Geralmente se pensa no Sudeste quando falamos de tecnologia. Quais projetos em Salvador você destacou, no quesito tecnologia e criatividade que o Brasil deveria estar de olho?
Quando se pensa em tecnologia e inovação quase sempre se fala do sudeste, justamente porque o sudeste foi protagonista do último ciclo econômico que nós vivemos no Brasil. O último grande ciclo foi o da indústria. Esse ciclo já está em sua fase final, pelo menos um protagonismo único, onde está sendo substituído pela economia do conhecimento, pela economia criativa e também pela economia verde. Nesse sentido, norte e nordeste se posiciona como grandes novas vetores desse desenvolvimento econômico do Brasil, podemos estabelecer uma nova geopolítica nacional porque a gente tem agora as áreas que são mais verdes no Brasil, são mais potencialmente sustentáveis que podem trabalhar com tema de contabilidade, economia verde, estão no norte e no nordeste. Então a gente vê que a longo prazo, a gente pode até mudar essa centralidade econômica brasileira, se a gente conseguir dar visibilidade a essas novas cenas econômicas que estão surgindo aqui no norte e nordeste. E aqui tem muita coisa acontecendo, na criatividade aqui na Bahia com empresas importantes na área de moda, de gastronomia, na área do audiovisual.
Quais na sua opinião são os maiores destaques do Festival esse ano?
Os destaques desse ano eu diria que são: a presença do Kamil Olufowobi, que é o criador do prêmio MIPAD Global, que é o maior prêmio global de reconhecimento da centralidade africana e da conexão dos afrodescendentes no mundo. Ele criou esse prêmio e tem gente conectada em todo planeta, da Índia, China, Paquistão, Brasil, Estados Unidos, Angola, Gana. Então é muito forte esse prêmio. Ele é o representante, primeira vez aqui no Brasil chegando em Salvador. A gente tem também a presença do Aaron Mitchell, que foi diretor global de RH da Netflix, criou toda a política de inclusão na Netflix globalmente e o Aaron é realmente um nome muito forte na questão de inclusão. Ele foi responsável pela política de financiamento da Netflix de bancos negros nos Estados Unidos. Por fim, Juliana Vicente, a diretora do filme “Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo” da Netflix e também estará no painel.
Confira a programação completa
O Festival Afrofuturismo Ano IV está especial e vai acontecer em cinco espaços do Centro Histórico de Salvador!
Confira a programação em cada local:
*Programação sujeita a alteração sem aviso prévio.
Casa Vale do Dendê
Rua das Laranjeiras, nº 2 – Terreiro de Jesus (Pelourinho)
18/11/2022
10h: Workshop: Adote um(a) Explorer – Programa de Aceleração de Carreira para Jovens de Baixa Renda . Ministrante: Andressa Tairine (O que Aprendi na Engenharia – empresa acelerada pela Vale do Dendê). Lotação: 40 pessoas.
11h: Mesa: Como gerar mais impacto social (de verdade!) com a tecnologia? Palestrantes: Danilo Lima (Trace Academy); Reginaldo Lima (Invest Favela). Lotação: 40 pessoas.
14h: Workshop: Blockchain para Mulheres. Ministrante: Glória Tellez (Especialista – Blockchain pela Universidade de Nova York). Lotação: 40 pessoas.
19/11/2022
10h: DemoDay Incubação de Produtoras de Áudio da Vale do Dendê. Atividade para convidados, com transmissão online no canal do YouTube da Vale do Dendê.
15h: Painel de experiências Internacionais de inovação e inclusão econômica. Palestrantes: Rodrigo Faustino (Cofundador da Ebony English); Carol Silva (Talento Total Eua/Colombia); Melina López (Product & Inclusion Marketing Manager na Google). Transmissão online no canal do YouTube da Vale do Dendê. Lotação: 40 pessoas.
Teatro Gregório de Mattos
Praça Castro Alves, s/n
18/11/2022
09h – Abertura oficial do Festival Afrofuturismo Ano IV. Apresentação: Luana Assiz (Jornalista). Convidados: Sebrae, Qintess, Acelen, Prefeitura de Salvador (Secretaria de Cultura e Turismo), Banco do Nordeste, Ideia3, Agogô e Vale do Dendê. Lotação: 150 pessoas.
11h – Palestra Magna: O Mundo em 2050: Seremos Wakanda ou Blade Runner? Palestrantes: Bárbara Carine (escritora, empresária e produtora de conteúdo) e Grazi Mendes (professora, executiva e ativista). Lotação: 150 pessoas.
14h – Mesa: “Afro – Futurism: imagining an afro-centric world through the power of technology and identity”. Palestrantes: Nana Baffour (CEO Qintess) e Alexander Smalls (chef de cozinha internacional). Mediador: Eliezer Silveira Filho (CEO Roost).
15h30 – Mesa: Dados Importam: como os algoritmos impactarão cada vez mais nossa vida. Palestrantes: Lucas Reis (CEO Zygon); Nina da Hora (pesquisadora em tecnologia); Alana Cardoso (Qintess); Carlos Sales (New Creator IBM). Mediador: Luter Filho (Co-Fundador, CMO/CCO em LinKapital). Lotação: 150 pessoas.
17h – Mesa: Code or Die: Como o Brasil pode formar mais pessoas para áreas de tecnologia? Palestrantes: Celso Kleber de Souza (Qintess); Andressa Tairine (OQAE); Prof. Igor Miranda (UFRB). Mediação: Tata Ribeiro (Aimó Tech). Lotação: 150 pessoas.
18h30 – Caminhada percursiva com grupo Os Negões, da estátua de Zumbi (Praça da Sé) até a Casa Vale do Dendê.
19/11/2022
8h30: Mesa: Web 3: como podemos incluir a população negra neste cenário? e Lançamento da NFT “Pega Visão”. Palestrantes: Aaron Mitchel (Ex-diretor Global de RH – Netflix); Javonté Anyabwelé (VP Carnival Cruise); Tata Ribeiro e Daniel Neiva (Aimó Tech). Mediação: Paulo Rogério Nunes (Cofundador Vale do Dendê). Lotação: 150 pessoas.
10h – Mesa: Diversidade e Mídia. Palestrantes: Sandra Regina Boccia (Diretora do Segmento de Negócios- Editora Globo) e Juliana Vicente (cineasta e diretora do documentário “Racionais: Das ruas de São Paulo para o mundo” da Netflix). Mediação: Sara Barbosa (atriz/apresentadora). Lotação: 150 pessoas.
11h: Mesa: Como conectar a Diáspora Africana com a Internet? Palestrantes: Kamil Olufowobi (CEO MIPAD Global) e Bayinna Black (Executiva de Mídia). Apresentação: Paulo Rogério Nunes (Cofundador Vale do Dendê). Lotação: 150 pessoas.
Palacete Tira Chapéu
Rua Chile esquina com Rua Tira Chapéu, Centro
Exposição: A exposição ESTÚDIO ÁFRICA – COLEÇÕES ATLÂNTICAS apresenta 10 portraits de personagens brasileiros de Salvador e senegaleses de Dakar, em fundos decorativos que recriam cenas de cidades negras e simulam o deslocamento dos retratados. A Coleção Salvador, 2017 e Coleção Dakar, 2018 inspiram-se na história e nas práticas da fotografia na África Ocidental e realiza uma experiência que mescla antropologia estética e artes visuais para produzir uma arte diaspórica afro-brasileira. Uma terceira Coleção Mali – Bahia, com a participação luxuosa e presencial da fotógrafa malinesa Fatoumata Diabaté, está em processo de realização.
Idealização e Curadoria: Goli Guerreiro
Fotografias: Arlete Soares + Eder Muniz + Goli Guerreiro
18/11/2022
10h – Preto Pode Talk – Arte & Entretenimento é Caminho para Ascenção Econômica. Convidados: Dayane Oliveira /As Minas Content e André Cosca / KALIFA XXI.
16h – Mesa: Mulheres pretas e o mundo digital: como usar as mídias e tecnologias a nosso favor?. Palestrantes: Carla Akotirene (escritora e intelectual); Samira Soares (Doutoranda em Literatura – UFBA e produtora de conteúdo)
e Ashley Malia (jornalista e influenciadora digital). Mediação: Sara Barbosa (atriz/apresentadora). Lotação: 60 lugares.
19/11/2022
10h – Preto Pode Talk – Afro Empreender é Poder a Solução Econômica. Convidados: Com Cinara Santos e Mario Nelson de Carvalho / Economista e Empreendedor.
16h – Mesa: Novas narrativas para a mídia e tecnologia brasileira. Palestrantes: Letícia Frias (AsMinas Content); Tiago Rodriguez (Agência Ayóubà); Lula Rodrigues (Escola 42). Lotação: 60 pessoas.
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Largo Tereza Batista
Rua João de Deus – Pelourinho
18/11/2022
19h30 – Show: Ministereo Público + Mad Professor (atração internacional). Lotação: 500 lugares.
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Casa do Benin (programação parceira)
Rua do Taboão – Ladeira do Carmo
Exposições:
Galeria Pierre Verger – Acervo permanente do acervo da Casa do Benin. Peças coletadas por Pierre Verger em expedições aa Benin em 1980.
Galeria Lina Bo Bardi – Exposição temporária “Onde as cobras (não) dormem: Imagem e Re-territorios” em parceria com o grupo de pesquisa Balaio Fantasma do IHAC-UFBA. A exposição faz parte da ocupação Fantasmagorias Dahomeanas.
Visitação: terça a sábado, 10h às 17h. Gratuito.
18/11/2022
15h-16:30h – Roda de conversa: Uma nova era na diplomacia cultural? O museu na berlinda com Emi Koide (África nas Artes – CAHL – UFRB)/ Vilma Santos e José Eduardo (Acervo Laje) / Rebeca Carapiá (Irê arte, praia e pesquisa -SSA-BA). Lotação: 60 pessoas.
19/11/2022
14h-16h – James Codjo Awononnou (multiartista beninense) apresenta a cultura Vodoun a partir de peças do Acervo da Casa do Benin. Mediação: Beatriz Gonzalez (PPGDAN-UFBA) e Paola Barreto (IHAC-UFBA). Lotação: 60 pessoas.
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* OS PONTOS DE CREDENCIAMENTO SÃO O TEATRO GREGÓRIO DE MATTOS E CASA VALE DO DENDÊ. TODOS OS EVENTOS DEVERÃO SER ACESSADOS MEDIANTE APRESENTAÇÃO DE CRACHÁ E RESPEITANDO A LOTAÇÃO DOS ESPAÇOS, CONFORME INDICADOS NA PROGRAMAÇÃO.
** AO SE INCREVER NO FESTIVAL AFROFUTURISMO, VOCÊ AUTORIZA O USO DA SUA IMAGEM ATRAVÉS DE FOTOGRAFIA E FILMAGEM PARA FINS PROMOCIONAIS DA VALE DO DENDÊ E SEUS PARCEIROS.