Mulher preta, periférica, gorda e feminista, catou latinhas para complementar sua renda e não se envergonha disso, Bruna Braga, aos 25 anos é um dos nomes em ascensão na comédia brasileira e faz parte do Coisas de Preto, primeiro grupo de Stand Up Comedy Black do país, ao lado de Micheli Machado, Tia Má, Nelly Coelho, Yas Fiorelo, Hélio de la Peña, Thiago Phernandez, Yuri Marçal, Gui Preto e Edson Duavy.
De maneira inteligente, fala sobre suas vivências, transtornos psicológicos, distúrbio alimentar, relações frustradas por consequências dos transtornos, brincadeiras de infância, relação com a própria imagem, empoderamento e “heranças”, sobre a relação com a mãe, entre outros assuntos.
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“Eu falo sobre as minhas experiências e meus pontos de vista sobre as coisas. […] sobre os meus traumas e preconceitos (tipo com homens que usam camiseta de vereador num encontro, rs), sobre o machismo, sobre o quanto a gente às vezes se pega reproduzindo falas e atitudes que não gostaríamos. Eu tento desconstruir a imagem de “fada sensata” para mostrar que sou real, porque sou mesmo! Acho que o mundo já está cheio de gente fingindo ser o que não é, e isso é um desserviço. Eu acho mais graça em quem se veste de si e grita pro mundo. Só evoluímos quando nos assumimos. E tem funcionado muito dessa forma“.
Em outubro de 2018, Bruna, Hélio de la Peña, Thiago Phernandez, Yuri Marçal, Gui Preto e Edson Duavy, estiveram no programa de Fábio Porchat. Falaram sobre representatividade na arte e sobre como começaram a perceber o racismo existente na sociedade.
“Eu sou a minha própria causa, muito mais que só dizer, eu sou todas as bandeiras que carrego. Quem diria que eu poderia entrar pela porta da frente da TV um dia? Às vezes nem eu acredito! Parece pouco e bobo pra muita gente, mas pra mim e pros meus não é. E eu vejo o brilho nos olhos dos que me veem como uma fresta nessa porta injusta que é a desigualdade que limita os sonhos de tanta gente“.
A humorista conta que aprendeu a lidar com tudo o que passou rindo de si mesma, usando-a como sua própria narrativa, já que antes era inferiorizada pelos outros. “Quero que outras mulheres não se sintam sozinhas sobre suas confusões, seus tabus, seus preconceitos, seus cotidianos. Exponho o melhor e o pior de mim pra trazer tudo isso á tona, de que não sou e não quero ser heroína, perfeita e de que ninguém é. Eu sempre quis fazer rir, mas hoje eu sinto uma responsabilidade maior que essa, mas fazer isso sendo real, de coração. E isso é o que me move“.
No Brasil, ainda temos pouco espaço de representatividade no humor e, principalmente, de pessoas pretas. Assim como Tia Má, Yuri Marçal, João Pimenta e tantos outros talentos que ganham o país empoderando pessoas pretas, Bruna faz parte de uma geração que está revolucionando o humor e deixando de lado piadas fúteis e depreciativas, tratando de questões raciais e sociais, que possuem discussão necessária e com o objetivo de trazer reflexão ao público.
“Por onde tenho passado, sinto algo que vai além da Comédia acontecendo, sabe? Ver meninas negras se identificando com a minha imagem, se descobrindo e se amando por serem negras. De pessoas que aprenderam a rir de si mesmas e se enxergaram com mais amor através do riso, a pessoas que decidiram correr atrás de um objetivo que parecia distante porque me viram ali, ocupando um espaço que a vida inteira disseram não ser pra mim. Eu sou uma mulher, negra (ainda que com passabilidades por não ser retinta), criada na periferia, que já catou latinha pra fazer um troco. Não falo isso pra causar pena, são fatos“.
Bruna tem quase dois anos fazendo comédia. “Tive a sorte e como consequência do esforço alcançar coisas incríveis, mas eu ainda sou um bebê nisso tudo. Ainda dá tempo de desistir e entrar em esquema de pirâmide, rs. Falando sério, eu descobri que era isso que eu queria MESMO desde a primeira vez que pisei num palco“.
Apaixonada pelo trabalho de Anjelah Johnson e Wanda Sykes, Bruna as têm como referência. “São figuras potentes no palco, irônicas e ao mesmo tempo muito leves, independente do peso do assunto. E no Brasil, minha maior referência é Paulo Vieira. Ele é ator, humorista, canta, escreve, empreende e tem uma coerência entre o que faz e fala que me fez querer andar com ele no recreio da vida“.
Como muitas mulheres pretas, cresceu com o auto-ódio e passou anos negando sua própria imagem. Detestava o próprio cabelo, os traços e corpo.
“Usava o fato de não ser retinta e ter a pele mais clara pra tentar me clarear ainda mais. Eu era confusa sobre mim mesma, me faltaram referências próximas, reais. Ter me entendido e aprendido a me amar, com tudo o que me compõe (inclusive com todas as vergonhas e fracassos que já passei, rs) faz com que eu queira mostrar isso pra outras mulheres pretas. Estamos num processo de cura e não estamos sozinhas. Vai ter uma e cada vez mais, muitas de nós em todos os espaços. E a gente pode se culpar menos e rir mais, SEMPRE“, reforça.
No início do segundo semestre, ela estreia com um novo show na próxima temporada do Stand Up No Comedy no Comedy Central, além disso tem a estreia de Comediantes Resolvem os Problemas do Mundo, prevista para julho, também do Comedy Central, onde comediantes resolvem problemas com soluções absurdas e engraçadas.
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