Texto: Luciano Ramos – Especialista em Masculinidades Negras e Diretor do Instituto Mapear
Ainda não consigo acreditar que Vini Jr. não levou a ‘Bola de Ouro’ como o melhor jogador da temporada europeia. Me soa como um soco no estômago. Vini Jr. é o grande vencedor dessa temporada no futebol europeu. Ele ganhou no campo várias batalhas e vários jogos. O racismo nos maltrata de muitas formas. O que mais me vem à cabeça hoje é a frase de Conceição Evaristo: “Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer.”. O psicólogo maranhense Rômulo Mafra nos diz que a violência racial tira a nossa força e sem ela não é possível se movimentar. Hoje, todos nós somos a força de Vini Jr..
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Mais uma vez os europeus tiram algo que é do homem negro. Mais uma vez a branquitude subtrai algo do homem negro. Muitos poderão dizer que ganharemos muito mais, mas não. É dessa forma que, ao longo da história, nos retiram tudo. Nos saqueiam, nos ferem, tiram nossa autoestima e tentam tirar a nossa dignidade. O homem negro é aceitável quando faz o jogo da branquitude. Se ele denuncia, se coloca duramente contra, coloca-se como um igual ele é punido.
Muitos poderão dizer que é falta de vergonha dos que não deram o prêmio a Vini Jr.. Eu lhes perguntarei: Quando a branquitude teve vergonha? Quantas vezes você se calou com uma piada racista no seu trabalho para não ser demitido? Ou teve que aturar aquele comentário racista do seu chefe? Quantas vezes você foi alvo das micro violências racistas e engoliu seco por depender daquele trabalho Quando Vini Jr. verbaliza a violência sofrida ele dá voz à todas as pessoas que não conseguem falar sobre o racismo diário sofrido. A denúncia do jogador o fez ser retaliado. Que Vini é maior do que tudo isso, nós sabemos! Mas precisamos falar de justiça. Desde sempre o homem negro é injustiçado. Se o jogador tivesse se calado, saído de campo em silêncio e não se manifestado, é possível que tivesse sido premiado pela branquitude.
Os negros escravizados tinham que apanhar, silenciosamente, no pelourinho e depois não podiam criar as revoltas, ao contrário, açoitados, voltavam para a labuta. “Aceite, meu filho. É assim mesmo!”. Quantas vezes você, enquanto pessoa negra, já ouviu essa frase? Vini Jr. decidiu não aceitar. E ao não aceitar, ele é lido pela branquitude como um “preto insolente” e os insolentes precisam de punição. E a punição é não entregar ao jogador o que é dele. O que o mundo inteiro sabe que é dele. Fomos dormir nessa segunda-feira com o gosto da violência do racismo na boca e a dor do soco no estômago.
Se esse texto chegar até você, Vini Jr., receba um abraço com muito afeto, meu irmão! Não vamos desistir de lutar!
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