Editora de VejaSP ataca manifesto e Dendezeiro responde : “mídia vê a criatividade nordestina como combustível barato”

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Editora de VejaSP ataca manifesto e Dendezeiro responde : “mídia vê a criatividade nordestina como combustível barato”
Foto: Reproduçãoo dendezeiro

Nesta quinta-feira passada (21/01), a Revista Veja São Paulo lançou uma capa especial em comemoração ao aniversário da cidade com o seguinte título: “A capital do Nordeste” e a Dendezeiro, marca baiana de moda*, ofereceu uma contraproposta para o discurso presente na capa.

Capa veja lançada em comemoração ao aniversário de São Paulo

Após esse fato, o editor chefe da revista Veja SP, Raul Juste, emitiu um discurso de superioridade nas suas redes, ignorando as diversas críticas que a capa recebeu e querendo mostrar, o quanto estava certo em sua edição. A Dendezeiro falou um pouco mais sobre isso em um artigo exclusivo para o Mundo Negro:

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“Nesta quinta-feira passada (21/01), a Revista Veja de São Paulo lançou uma capa especial em comemoração ao aniversário da cidade com o seguinte título: “A capital do Nordeste”. Não é um fato desconhecido que a migração de nordestinos para o Sudeste ocorreu em peso no início do século 19 e repercute nos dias atuais. Enxergando um discurso estereotipado e romantizado deste processo migratório para São Paulo, nós da  Dendezeiro, marca baiana de moda, oferecemos uma contraproposta para o discurso presente nesta capa.

Nós entendemos que o Nordeste é uma região vasta, multicultural, com diversas etnias e nosso objetivo com esta capa não foi representar, em sua totalidade, a nossa diversidade. Nenhum editorial foi desenvolvido para esta capa. Nós utilizamos um editorial nosso antigo focamos no discurso proferido. Chamar São Paulo de “A capital do Nordeste” é romantizar um processo violento e excludente que diversos nordestinos passaram ao longo dos anos, deixando suas terras de origem pela escassez de recursos e oportunidades de trabalho, devido à centralização do capital no Sudeste.

Dito isso, sabemos que as mãos nordestinas foram umas das principais mãos que construíram a cidade de São Paulo e a alimentam culturalmente até hoje. Mais uma vez, de forma cruel e irresponsável, este fato foi lembrado no início da matéria através da frase: “Não é mais com calos nas mãos e sacos de cimento nas costas que muitos migrantes nordestinos constroem uma nova São Paulo.”

Sabemos que uma capa representativa e correta, contaria com a presença não somente de pessoas negras, mas de pessoas indígenas, brancas, de diversas idades, gêneros, sexualidades e diferentes corpos. Nossa ação teve o objetivo de mostrar que não permaneceremos calados enquanto a mídia transforma a criatividade e o trabalho nordestino como combustível barato e abundante para movimentar São Paulo. De nada responsabilizamos as pessoas presentes na capa. Respeitamos suas histórias e entendemos que elas não possuem poder de decisão dentro das circunstâncias apresentadas.

Logo o lançamento, fomos atravessados pelas falas perversas do editor chefe da Revista Veja de São Paulo, na rede social do Twitter, ao postar nossa capa e dizer: “O mundo da lacração acha que “diversidade” é muita gente igual, “cool”, todos da mesma idade (sempre muito jovens, claro), mesma maquiagem e quase uniformizados…”.

 Disse também no decorrer dos comentários: “São muitas das pessoas mais violentas que eu conheço. Prejudicam as supostas causas que dizem defender (em muitos casos, a finalidade é só autopromoção), com tanta vontade de avacalhar, mas estão sempre com uma pedra na mão.”

A Dendezeiro acredita, acima de tudo, que a nossa geração encontra diversas formas de se comunicar e de lutar pelas causas sociais. Em nada nos alegra, desenvolver uma arte digital que explique o óbvio em pleno 2021: chamar São Paulo de capital do Nordeste é um ato irresponsável e desumano com o povo nordestino. Contudo, a estética, especialmente para pessoas negras, indígenas e de diferentes corpos, é também uma ferramenta política contra o padrão social que subjuga suas características, forçando um processo de aproximação da estética branca.

É preciso tomar cuidado ao associar as pessoas da capa à “muita gente igual” ou “ as mais violentas”, pois este discurso favoreceu e favorece a desigualdade social presente entre a população brasileira. Estas falas, como outras presentes na publicação, revelam a necessidade de um novo direcionamento na mídia brasileira.

A proposta da nossa capa não tem o objetivo de atacar nenhum veículo ou o Sudeste, e sim trazer uma nova perspectiva para a população nordestina, para que estas sementes que nos colocam em uma posição de inferioridade a outras regiões, não criem raízes. Nós temos memórias e construímos a nossa história a cada dia. Através desta capa, convidamos não somente o nosso povo, mas todo o Brasil, a escrever uma nova narrativa.”

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