“Cresci acompanhando a briga entre o Tupac e o B.I.G., a genialidade dos artistas empreendedores Run-D.M.C., Puff Daddy, Dr Dre, Jay Z, Beyoncé, Spike Lee.
Acompanhei a carreira de Martin Lawrence, Vivica Fox, Halle Berry, Queen Latifah, Eddie Murphy, Wesley Snipes, Denzel Washington, Will Smith, Samuel L Jackson, Loretha Devine, Ice Cube, Cuba Gooding Junior, Jada Smith, etc. A lista é MUITO grande”. Licínio Januário, ator angolano, residente no Brasil, gosta de falar sobre suas referencias negras, de como elas foram importantes para sua formação não somente como artista, mas como homem negro.

A importância da representatividade pode ser uma via de duas mãos e Licínio, já sabe da sua responsabilidade como modelo para crianças negras. “Tio, quando eu crescer eu quero ser como você”, foi uma das frases que ele escutou e que foi fundamental para sua mudança de carreira.

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O ator angolano Licínio Januário (Foto: Facebook)

Seu lado artísticos, já explorado por meio de alguns trabalhos. Januário vinha de uma fase intensa, depois de ter acumulando vários empregos, “entre bicos em bares, animação e personagens vivos em festas, vendendo empanada argentina na Pedra Sal” , para pagar a mensalidade de 2 mil reais, do seu curso de Engenharia, aqui no Brasil.

“Mestra Magali, minha mestra, me ensinou a gingar dentro e fora da roda de capoeira. Ela foi é a minha maior inspiração na busca dos meus sonhos. Denzel Washington disse uma vez que “sonhos sem objetivos são apenas sonhos”. Juntei isso a minha quase formação em engenharia Civil e decide começar a escrever e produzir eu mesmo. Escrever aquilo que eu queria ver. Meu primeiro espetáculo eu dei o nome de “Todo Menino é um Rei”, com ele fui nomeado melhor ator no “Festival de Teatro do Rio de Janeiro”, isso logo após trancar a faculdade. Para mim foi um sinal”, descreve o ator.

Pantera Negra e o bom momento do cinema negro

“Eu me tornei um assíduo frequentador de teatro e vi que pelo menos no Rio de Janeiro, não tinha em cartaz peças que humanizam o corpo negro e desmistificassem a imagem que a televisão e o cinema passam sobre nós. Sendo eles uma das principais ferramentas para formação da sociedade, os 52% da população, que é negra não era representada”, detalha Licionio que junto com sua companheira, Sol Menezzes escreveu o seu segundo texto teatral, que se transformou no espetáculo “Lívia”.

Lívia conta a história de um casal, negro, da adolescência à velhice, sem permear diretamente pelo racismo. “Buscamos escrever o que não escrevem sobre nós: encontros e desencontros, amor, sonhos, família. Uma produtora assistiu ao nosso espetáculo e lançou a ideia de fazer um filme, desde que escrevesse apenas o argumento e deixasse o resto nas mãos de terceiros. Na hora pensei: os nossos irmãos nos estados já escrevem, produzem e dirigem há muito tempo. Me botei no lugar deles e disse não”.

Para o Angolano em tempos de “Pantera Negra”, quebrado recordes, “Corra” ganhando Oscar de melhor roteiro original, “Moonlight” ganhando melhor roteiro adaptado e melhor filme, sem falar do número elevado
de atores negros ganhado os prêmios mais aclamados mundialmente, embranquecer o seu texto, por meio da produção de pessoas brancas, não era uma opção.

Rafael Yoshida, um jovem diretor de cinema, branco paulistano, descendente de Japoneses foi convidado para assistir Lívia. Além de gostar da peça ele percebeu o potencial do roteiro para o cinema, e agora em Brasil, ele e a produtora Movioca estarão no evento Rio Creative Content, uma das maiores feiras de audiovisual a nível mundial para apresentar, juntamente com Januário o projeto do longa metragem Lívia para uma grande produtora.

“Para a Huawei e para a Decia Films (produtores de “O sal na Terra, indicado ao Oscar) apresentaremos o projeto de longa metragem de “Lívia” e para o Netfllix, o projeto da série “Malandragem”, meu primeiro roteiro audiovisual. Onde irei
contar a história do final do século XIX sob o nosso ponto de vista”, comemora o ator.

“Ás vezes eu penso que tive sorte nessa caminhada, mas sei que não é isso. Fiz tudo sem pressa, com trabalho árduo, fechando com as parcerias certas, sem grandes expectativas. Não sei o qual será o fruto dessas reuniões, e busco não premeditar isso. A única coisa que tenho certeza é que independente do resultado dessas reuniões eu não vou parar. O meu objetivo é que ver o Laranjinha e o Acerola se tornem reis de verdade, onde eles se formam na faculdade, se tornam empreendedores e passem isso para seus filhos. Mas sei que quem escreve cidade dos Homens nunca irá escrever isso, nunca irá entender a importância do Laranjinha e do Acerola para abrir a mente de quem mora em comunidade
Sei que se nós negros não escrevermos e reescrevermos as nossas histórias as coisas não irão mudar”, finaliza o ator.

 

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