“Amor de mãe” e a banalização da morte negra

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“Amor de mãe” e a banalização da morte negra
Imagem/Reprodução: Rede Globo

Quando Amor de Mãe foi anunciada como a próxima novela do horário nobre foi grande a celebração por conta do grande número de atores negros. Porém conforme a novela vai chegando ao fim, fica a sensação que representatividade quantitativa não é tudo. As formas com que a trama explorou os corpos negros foram lastimáveis e agora nesse segunda fase da novela é penoso assistir tanta violência com gente que se parece com a gente.

No capítulo de segunda-feira (6) o público presenciou a morte de mais uma pessoa preta em sua trajetória. O personagem Lucas, interpretado pelo ator Nando Brandão, foi assassinado de forma cruel e incoerente nessa parte final da trama.

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O rapaz levou um tiro à queima-roupa disparado por Penha (Clarissa Pinheiro). O momento acontece quanto ele atravessa a rua depois de entregar Álvaro (Irandhir Santos) para Vitória (Taís Araújo) por meio de uma ligação. Um dos maiores problemas da cena foram as outras milhares de alternativas que Lucas poderia escolher, já que tinha visto a capanga de Álvaro lhe encarado. O rapaz poderia ligar para a polícia, não sair do bar, avisar a Vitória que estava sendo vigiado ou até mesmo pedir ajuda a qualquer desconhecido do local.

https://twitter.com/betaoprazeres/status/1379244216027611140

É preciso saber do contexto mais afundo, antes da cena ocorrer, em uma conversa com sua ex-chefe, Lucas disse estar arrependido por ficar do lado “cruel” da situação e ouviu dela um relato de quando ele a pediu um emprego pela primeira vez. “Eu lembro de você, Lucas, um rapaz pobre e de periferia que queria mudar o mundo e tinha acabado de se formar”.

Um rapaz pobre, negro e nascido em um local periférico, que alcançou coisas incríveis em sua jornada profissional, mas se deslumbrou com aquilo que sempre quis alcançar, mas mesmo assim, não conseguiu ter uma morte justa. As novelas ainda são meios grandiosos de construção do intelecto da massa popular e deveria humanizar os corpos pretos e produzir imagens em que os personagens possuam alguma dignidade e possibilidades, uma delas a de redenção.

A morte desnecessária do Lucas, levantou uma questão interessante nas redes sociais, a quantidade de pessoas pretas que estão morrendo/sofrendo na última fase da novela. A primeira delas, sendo a última cena da primeira fase, foi a morte da Rita, ainda obtendo uma explicação lógica para o assunto, pois nesse momento os telespectadores começavam a entender o quanto Thelma (Adriana Esteves) chegaria longe para defender seu segredo.

Em alguns capítulos anteriores assistimos a morte do personagem Marconi, que foi executado pela polícia. Agora, a morte do advogado, que poderia ter tido um final poderoso e transformador, conversando muito melhor com todas as suas outras cenas e história, ao invés de ser baleado no meio da rua.

Enquanto esperamos o aneurisma de Thelma estourar, desde a primeira aparição da mesma e o ativista Davi Moretti (Vladimir Brichta) leva vários tiros – um deles na cabeça, deixando a bala alojada nela– mas sai sem sequelas de seu coma de 2 meses, presenciamos a morte de mais um personagem negro na narrativa.

A televisão não pode esquecer que tem o papel nítido de mexer na realidade e deveria usar esse poder para demostrar o quanto o homem preto também pode ser bom.

Edição: Silvia Nascimento

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