Por Ivair Augusto Alves dos Santos
África gloriosa
África das seculares injustiças
acumuladas neste peito efervescente e impaciente
onde choram os milhões de soldados
que não ganharam as batalhas
e se lamentam os solitários que não fizeram a harmonia numa luta unida
(Agostinho Neto)
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O poeta Agostinho Neto no Brasil, durante muitos anos na minha juventude, era declamado em saraus no velho clube Coimbra, na Av. São João, quase em frente a um dos cinemas mais amados de São Paulo: Cinerama.
Mas quando ouvíamos o intelectual e genial Hamilton Cardoso declamar poesias angolanas, a platéia vibrava e batia palmas, isso nos anos da década de 1970. Era maravilhoso ver aqueles homens negros discursando e criticando a democracia racial, e no meio as poesias de Agostinho Neto.
Desde cedo, Agostinho Neto, ao interpretar a história de luta de libertação de Angola, enunciaria num poema dedicado a todas as mães angolanas: “Minha Mãe, tu ensinaste a esperar, mas a vida matou em mim essa mística esperança, eu já não espero, sou aquele por quem se espera. A esperança somos nós, Mãe”
No início da década de 1980, conheci e vivi em Angola e me aproximei do pensamento político e revolucionário de Agostinho Neto. É impressionante como suas ideias panafricanistas tiveram um impacto em toda África, ao definir que a luta contra o Apartheid na África do Sul era fundamental para libertar todo o continente do colonialismo.
Agostinho Neto dizia: “Não podemos considerar o nosso país verdadeiramente livre se outros povos do continente se encontram ainda sob o jugo colonial”. Esta convicção levou Angola a ter um papel chave na luta para o fim do regime racista do Apartheid na África do Sul e para as Independências do Zimbabué e da Namíbia.
Agostinho Neto declarou: “Angola é e será, por vontade própria, trincheira firme da revolução em África”.
E o envolvimento de Angola em guerra durante décadas foi uma das demonstrações mais vivas do ideal panafricanista. A figura de Agostinho Neto ultrapassa o simples nacionalismo angolano, tinha uma visão abrangente a todos os povos oprimidos do mundo. Como homem, poeta e político com qualidades indiscutíveis, o Presidente António Agostinho Neto é um filho de África e um cidadão do mundo.
Precisamos colocar essa liderança africana entre os grandes homens do século XX, e incorporá-lo nos estudo sobre África, como pretendemos com a Lei 10.639 de 2003. Conhecer Angola e sua luta pela independência deve fazer parte dos currículos de nossas escolas no Brasil. Para além da cultura angolana que faz parte da formação do ser brasileiro, é fundamental entender o colonialismo português e a vitoriosa luta dos angolanos.
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