Um dia desses, estava conversando com minha prima e ela me contou sobre estar cansada do trabalho e que uma colega de trabalho dela foi chamada de “macaca” por um cliente. Pelo que ela relatou, o cliente teria ficado insatisfeito com o atendimento e teria gritado: “aprende a trabalhar, macaca”. Logo depois disso, a vítima foi desencorajada pelos seus superiores a denunciar. Além disso, os superiores não tomaram nenhuma atitude contra a cliente racista. Minha prima ainda me contou que sua colega de trabalho disse já estar acostumada com esse tipo de xingamento, inclusive vindo de parentes. Essa história ficou reverberando na minha cabeça. Lembrei-me de outra história, dessa vez contada por um amigo de que seu filho estava sofrendo “bullying” de outros garotos que zoavam seus cabelos crespos. A diretora aconselhou meu amigo a cortar o cabelo do filho para “evitar os problemas”.
Ainda hoje escuto vários detratores do conceito “racismo estrutural” dizerem que é uma tese sem explicação objetiva. Estes casos justificam o conceito, uma vez que o racismo estrutural é o entendimento do racismo não como exceção, mas sim como regra. Portanto, nosso dia a dia é permeado por violências raciais que ganham aspecto de coisa banal, corriqueira e sem importância. Somos, o tempo todo, desencorajados a tratar o racismo como algo grave pela “turma do deixa disso”. Geralmente, a “turma do deixa disso” é formada por pessoas brancas, e até por pessoas negras, que mediam este tipo de conflito de modo a tornar a violência racista algo menor, sem importância, proferida por uma “pessoa louca”, não valendo a pena render.
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Mesmo quando tomamos coragem de denunciar, as autoridades não sabem como lidar com este crime. Quem já procurou uma delegacia para denunciar um crime de racismo sabe bem. Os policiais e delegados não são treinados para lidar com este tipo de situação, pois assim como grande parte da população não entendem as formas de racismo. Quando procurei uma delegacia para denunciar um crime de racismo ouvi do delegado “você tem certeza que quer denunciar essa pessoa, porque se não provar pode dar problema para você”. O detalhe é que eu já havia comparecido àquela delegacia algumas vezes com as provas do crime.
Mesmo que o racismo seja considerado crime e que existam leis para punir os autores, devemos pensar que muitos crimes de racismo e muitos criminosos nem chegam a ser punidos pois há todo um aparato argumentativo que visa coibir as denúncias. Pensando nos danos causados pelos crimes de racismo na saúde mental, na autoestima, na moral das vítimas, e de como as pessoas estão mais inclinadas a conciliar um conflito destes do que repudiar, só posso constatar que vivemos sob a banalização do mal.
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