Em mais um dia de trocas no “Festival Afrofuturismo”, no Centro Histórico da capital baiana, a “Vila Ifood Acredita” recebeu, na manhã desta terça-feira, 21 de novembro, um time de profissionais experts no painel “Os desafios da saúde da população negra e como a comunicação em escala pode ser alavanca chave de políticas de prevenção“.
O encontro, que integrou uma das sessões do Festival abertas ao público, contou com a presença da biomédica baiana Jaqueline Goes, uma das pesquisadoras responsáveis pelo sequenciamento do genoma do coronavírus na América Latina; Igor Rocha, um dos sócios-fundadores da plataforma AfroSaúde; e Deh Bastos, publicitária e criadora do perfil “Criando Crianças Pretas” (@criandocriancaspretas). O encontro foi mediado por Angel Vasconcelos, diretora de equidade do Ifood.
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Para Jaqueline, doutora pela Universidade Federal da Bahia no Programa de Patologia Humana e Experimental, parceria entre a UFBA e a Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Bahia (PgPAT/UFBA-Fiocruz), o ambiente científico reproduz a estrutura do colonizador que vem para explorar um território. “Crescemos nessa estrutura, todo mundo que faz mestrado e doutorado passa por isso. A gente não envolve as pessoas como atores das pesquisas. Até o parâmetro de pressão arterial é baseado num modelo americano. Cadê o estudo brasileiro de base populacional?”, questiona.
Ela destaca que a consciência de diversidade dentro do mundo científico e acadêmico só virá quando pessoas pretas, trans e indígenas também estiverem circulando por esses ambientes. “Quando você faz o letramento racial, pelo menos, busca não reproduzir o preconceito. Eu faço, constantemente, muitas críticas ao método científico como está posto. Muito do que se sabe hoje foi roubado da África. Infelizmente, muitos de nós precisam passar pelo sofrimento de ser o primeiro para pavimentar o caminho para outras pessoas”.
Já Igor Rocha, formado em jornalismo com experiência em comunicação corporativa, conta que a ideia da criação da plataforma AfroSaúde veio do seu companheiro e sócio, Arthur Lima, graduado em odontologia. “A inquietação nasceu de uma discriminação racial em consultório. Uma paciente procurava por um dentista negro porque tinha passado por um episódio de racismo”.
Assim, Arthur e Igor perceberam as lacunas no ambiente de saúde e fizeram um mapeamento de profissionais e pacientes. “Eu, que moro em Salvador, nunca tinha sido atendido por um médico negro. Isso abriu um universo para a gente que precisava ser preenchido”. Hoje, a maioria dos usuários da plataforma AfroSaúde busca por profissionais negros nas áreas de dermatologia e psicologia.
“A saúde mental deve ser vista pelas empresas como investimento fundamental. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a cada dólar investido em saúde mental, voltam quatro dólares em produtividade”, completa Igor.
A publicitária Deh Bastos, que recentemente virou personagem da “Turma da Mônica”, encorpa o debate sobre as especificidades do campo da saúde, reforçando que comunicação é uma ferramenta de poder, principalmente para escalar “business” de pessoas pretas. “A comunicação é uma ferramenta de poder. Se a gente não consegue dissociar classe e raça, é claro que a comunicação é elitista”.
Por isso, o pilar fundamental do seu trabalho é: comunicação leve para assuntos complexos. “A comunicação para saúde é acesso. Minha mãe conseguiu compreender o que era sobrecarga emocional numa campanha publicitária que participei. Então, quando estiver em um consultório, lidando com médicos ou profissionais de saúde, sempre façam as perguntas. Tenha coragem para ser essa ponte entre a saúde e a ponta, que é onde os nossos estão”.
O Festival é realizado pelo Vale do Dendê como parte da programação do Salvador Capital Afro. Confira a nossa cobertura nos stories do Instagram @sitemundonegro.
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