Nesta semana, assistimos à polícia do Rio de Janeiro abordar cinco jovens, em Ipanema, de forma truculenta. Entre os jovens estavam três rapazes negros, filhos de diplomatas, que sequer falavam o português. Sem nenhuma razão, os policiais desceram do carro com a arma na cara dos jovens.
Obviamente, sabemos que o fato só aconteceu pela presença dos jovens negros no grupo. Certamente, os policiais imaginaram que se tratava de sequestro, roubo, ou invasão de domicílio orquestrado pelos jovens negros contra os amigos brancos. Depois do ocorrido, não foram poucos os comentários acusando a polícia brasileira de despreparo. Discordo deste argumento com veemência.
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Dizer que a polícia brasileira é despreparada é sugerir que ela trata com truculência todas as pessoas sem distinções de raça. Acredito no contrário, que a polícia é muito bem preparada para identificar “suspeitos” que quase sempre são negros. Uma identificação lombrosiana baseada no fenótipo. Devemos lembrar a orientação que a polícia de São Paulo recebeu para conduzir uma abordagem nos Jardins e outra nas periferias.
Discutir segurança pública é discutir racismo. Precisamos denunciar que as polícias são ideológicas; elas agem de acordo com o que os brancos consideram importante, não por acaso têm um apoio grande dentro dessa população. O sentimento de muitos brancos ao verem abordagens violentas contra negros é de segurança. Neste sentido, a sociedade é um corpo e as minorias são as doenças que ameaçam esse corpo.
O estado governa a vida, decidindo quem deve viver, é isso que Foucault chamou de “biopoder”. Provavelmente, aqueles jovens negros nunca experienciaram tamanha violência racial em seus países de origem. Nossa polícia é hábil em identificar supostos criminosos e aplicar-lhes sanções violentas.
O estado de exceção é outro conceito que se verifica na sociedade brasileira. Mesmo que a pena de morte seja algo vedado pela constituição em tempos de paz, para negros, entendidos como ameaças, ela é válida. Cria-se um cenário de guerra onde o “inimigo” mora ao lado.
“Ah, mas são só algumas maçãs podres na corporação”. Como bem disse Chris Rock, algumas profissões não podem ter maçãs podres. Imagina se uma companhia aérea tivesse entre seu quadro de pilotos “maçãs podres”, você voaria com eles? Insistir em um despreparo policial é sugerir aulas de moral e ética. O que precisamos é de um trabalho antirracista dentro desta instituição.
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