Assistir mais de uma vez o filme Pantera Negra é uma tarefa e tanto quando falamos em colocar os neurônios para trabalhar.
Diante de inúmeras referências, esta tragédia épica Shakespeariana, onde por traição irmão mata irmão, está um manancial de fundamentos feministas e humanos.
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A começar que o nosso Pantera Negra é salvo pela ajuda das mulheres Ramonda, a mãe do protagonista, intepretada por Angela Bassett, Nakia, a irmã mais jovem do herói, feita por Letitia Wright, Zuri, personagem de Forest Whitaker e claro sua quase esposa Nakia, interpretada pela maravilhosa Lupita Nyong’o, que inclusive abdica o cargo de rainha para cuidar de sua vocação.
Na jornada desse herói, tão humano, percebemos um Pantera Negra, que erra, escuta de verdade as mulheres à sua volta, que não é dono da razão, tem compaixão, afeto, generosidade e que acima de tudo respeita e valoriza as mulheres negras.
Tudo o que nós mulheres por motivos óbvios buscamos ainda no século XXI: O reconhecimento e valorização da nossa importância na sociedade.
Não vemos no Pantera Negra um homem – “herói” machista, que não dá valor a mulher, que não “sabe” esperar a mulher terminar a fala sem cortá-la ou estar atento a ela, um homem não íntegro ou desonesto, diferente do que presenciamos no dia a dia, nos relacionamentos afetivos e no ambiente corporativo.
Não vemos isso no Pantera Negra. Essas características estão para o vilão, até porque um homem que age com qualquer uma dessas atitudes com uma mulher é acima de tudo um homem que tem problemas sérios de auto estima, desconfia de sua própria capacidade e por isso necessita colocar-se como “superior”.
E esse viés feminista conduz a narrativa desde o início do filme quando a personagem Zuri, diz para o Pantera Negra não vacilar, e após alguns takes, ele não só vacila como tem a vida salva pela própria personagem.
A lealdade da relação do Pantera Negra com essas mulheres é tamanha que garante a confiança e a fidelidade das outras tribos Wakandan – como o Jabari, um grupo de pessoas que vive na região norte montanhosa do país, onde são liderados por M’Baku.
É emocionante e fantástico que este grupo de personagens femininos sejam mulheres guerreiras, intuitivas, objetivas, que sabem o que querem, generosas, inteligentíssimas, sagazes, cuidadosas, poderosas e com espaço para usar o seu lugar de fala.
Entendeu meu caro homem branco? Nós mulheres negras não somos objetos sexuais ou de fetiche por conta de nossas características físicas.
Compreendeu meu caro homem negro? Nós mulheres negras não toleramos mais sua falta de afeto ou busca desenfreada por várias mulheres enquanto mantém um relacionamento, quando mantém, apenas pela sua falta de amor próprio.
Não posso deixar de descrever o tamanho do meu impacto que ao pesquisar quem roteirizou o filme, percebi que foram 3 HOMENS. Com certeza de grande sensibilidade, inteligência e sabedoria.
Outro ponto positivo e que não pode passar desapercebido no filme é a família.
Numa inversão do que a gente no Brasil está “acostumado” a assistir, quem não tem família e que é alvo inclusive de provocação é o personagem do homem branco: O colonizador.
Diferente de quase, 100% dos filmes produzidos no Brasil por exemplo, presenciamos neste longa metragem negros COM FAMÍLIA. Fiz questão de colocar em caixa alta porque chega a ser irônico que num país com mais de 54% da população negra, pouco temos até hoje a oportunidade de ver esse tipo de inclusão no cinema e na TV.
Neste momento estou gravando a novela “As Aventuras de Poliana”para o SBT e quando estrearmos possivelmente seremos a única novela inédita brasileira no ar que terá uma composição familiar negra, no qual esses 54% da população brasileira poderá se identificar.
Bem, eu não vou me aprofundar neste assunto pois acredito que ele por si só merece um texto a parte, mas é essencial fazermos uma reflexão do quanto esse racismo além de ser desumano é um câncer para a nossa economia.
Enfim, não tem como embarcar no universo do Pantera Negra numa única sessão. É sem dúvida um filme que trás muitos benefícios para nossa mente, corpo e alma.
PARA SEMPRE WAKANDA!
Com vários trabalhos no teatro, cinema e na TV a atriz Maria Gal atualmente grava a próxima novela do SBT, As Aventuras de Poliana e através de sua produtora capta recursos para projetos de audiovisual sobre empoderamento negro e feminino.
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