Ostentar significa “alarde, exibição vaidosa, vanglória”. Qualquer um pode ostentar. Mas o sentido da palavra ganha novas texturas quando analisamos à questão simbólica da ostentação das pessoas negras. E ela incomoda.
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Escravidão. Palavrinha tão esquecida quando falamos de racismo, mas tão fundamental para contextualizar a “ostentação negra”. A avó da minha avó foi escrava, ou seja, ela não era livre (tem que frisar porque tem gente que romantiza escravidão). Ela comia restos, não tinha folga, rezo para que ela nunca tenha sido espancada e estuprada, mas muitas foram, e provavelmente, ela nunca comprou nada, já que não recebia salário ou qualquer tipo de benefício.
Os anos se passaram, pessoas negras trabalham, ganhando menos, mas trabalham e o poder de compra, para nós negros, é o que nos torna visível. A publicidade não nos reconhece como povo que representa metade da população, mas qualquer ameaça a boicote à uma marca, fazem os publicitários correrem para redes sociais para esparramar o mais “sincero” senso de diversidade étnica. Somos visíveis de acordo com a conveniência (deles).
Dinheiro é poder. Se é certo ou errado não é a proposta desse texto, mas é assim desde que o mundo é mundo. Beyoncé na canção Formation profetiza “a melhor vingança é o dinheiro”, o que me retorna à memória da minha tataravó que possivelmente via suas donas todas elegantes e cheirosas e ela provavelmente nunca comprou um sabonete.
Correntes de ouro, diamante nos dentes, Givenchy, Prada, Louis vuitton. Comprar e ostentar essas marcas para nós negros, significa que apesar da dívida história que a humanidade tem conosco, nós vencemos. Eu compro porque eu trabalho. Eu compro porque eu posso. E eu uso porque meus antepassados foram privados do consumo. Eu ostento para mostrar aos meus pares menos afortunados, de que assim como eu consegui, eles também conseguem.
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