Texto: Ivair Augusto Alves dos Santos
Ter uma professora negra nas primeiras séries do ensino fundamental faz muita diferença no futuro de milhões de jovens. A Educação foi e sempre será o lugar desejado para a transformação e as professoras negras, retratadas por diversas pesquisas – Nilma Lino Gomes escreveu sobre a temática – foram essenciais na trajetória de pessoas negras em todo território brasileiro.
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Há certos espetáculos artísticos da telenovela brasileira que passam desapercebidos pela maioria da população, mas a produção de modelos de ser, de sentir e de pensar marcados por gênero e racismo é uma contribuição relevante no que tange à criação dos personagens da novela “Amor perfeito”.
Ver a professora Celeste, interpretada pela atriz Cyda Moreno, é um acontecimento gigantesco. Ela trata a educação como ação libertadora e criativa para as crianças. E a professora da novela existiu e existe! Representa a legião de professoras negras – conhecidas e anônimas- que sustentam a luta pela democratização da educação brasileira.
As crianças negras, no Brasil, sofrem, ainda, com a reprodução de um modelo eurocêntrico, enraizado a partir do processo histórico de escravidão. A naturalização da branquitude leva as crianças negras a negarem sua negritude.
A presença da professora Celeste resgata o respeito à mulher negra e rompe com a prática quotidiana da invisibilidade e combate à discriminação racial e de gênero. O tratamento estético da novela “Amor Perfeito” está nos detalhes das roupas da época, no cuidar do cabelo de pessoas negras, no reconhecimento do afeto nas famílias negras. É um processo de reparação e de revisão histórica dos anos das décadas de 1930/1940, principalmente no que diz respeito ao tratamento racial, como também uma novela de época sob o olhar atento da perspectiva do hoje.
Esse processo é de reparação e trouxe um frescor inédito e uma nova dimensão à narrativa nunca antes vista nas novelas de época do horário das 18h. A dramaturgia brasileira com personagens como Popó, interpretado pelo Mestre Ivamar, e atrizes negras como a Cyda Moreno ficarão eternamente em nosso imaginário.
A novela caminha para o desfecho final, mas a trama dos personagens coadjuvantes ganha o interesse maior. Todos nós esperamos o acerto de contas entre o bem e o mal, como todo encerramento de uma novela das 18 horas. Desta vez, está em jogo o debate sobre a solidão da mulher negra e do homem negro, o amor entre pessoas negras idosas e o papel que a educação tem nas vidas das pessoas jovens e adultas. Não fomos educados para ter o amor como um direito. Especialmente quando envelhecemos.
A educação é parte importante da novela e incentiva que jovens e adultos, que deixaram a escola no passado, retornem à sala de aula.
A inciativa de criação de cursos noturnos parte da mobilização de uma jovem negra: Tânia, interpretada de maneira brilhante pela atriz paraense Iza Moreira. Nos anos da década de 1930 e 1940, o movimento negro investiu em escolas para crianças, jovens e adultos negros, com experiências diversas no Brasil, como a da Frente Negra Brasileira, e o Teatro Experimental do Negro.
A professora Jeruse Romão, nascida na cidade de Florianópolis, que é uma referência nacional em educação e na luta por igualdade, diz o seguinte: “a resistência consciente não é confortável, porque existe muita violência e o movimento negro – que é plural e multifacetado – sabe que sempre haverá enfrentamentos, porque o racismo é estrutural.(…). Nossa educação teve uma expansão quantitativa, mas seu grande desafio é reeducar a sociedade. Ela escolariza, mas não educa, não descoloniza. Dá poucas habilidades para as relações sociais e o convívio com o diferente. Há barreiras estabelecidas pela linha da cor, com repercussões no acesso ao mercado de trabalho.”.
Jeruse Romão sintetiza os esforços do movimento negro em defesa da educação que durante mais de um século o negro vem lutando para sua transformação.
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