Texto: Rachel Maia

Temos falado continuamente sobre a importância de reverberar práticas de inclusão para que profissionais negros tenham acesso a uma vida laboral mais humana e produtiva, uma vez que a cor da pele ainda seja pauta para este tema. Vemos também que tem aumentado à admissão de pessoas negras nos cargos de alta gestão. No entanto, os números ainda não correspondem à sociedade brasileira. 

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Com isso, temos o que podemos chamar de ‘preto único’ que coincide ao que enxergamos na estrutura social do nosso país, já que apenas 4,7% das lideranças femininas negras (recorte para este artigo) segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) condizem com a realidade das 500 maiores empresas do Brasil.

Flávia Martins faz parte dessa força histórica que tem um significado ancestral na luta contra a segregação do povo negro. Ela também é da geração em que o acesso ao ensino superior, plano de carreira e bens de consumo não eram assuntos para pessoas pretas. Graduada em comunicação social pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) em 1999, pós-graduada em marketing pela Escola Superior de Propaganda & Marketing (ESPM) em 2006 e com especialização em Marketing Analytics em Harvard em 2024.

Flávia é o retrato do percurso exaustivo e de resiliência de uma profissional negra que acredita que o conhecimento, aliado a acesso, relacionamento e compromisso de toda uma sociedade, podem mudar o sistema que hoje ainda é regido por marcadores, a começar pela cor da pele. 

“Meu maior desejo é que eu seja a última primeira, porque isso vai ser a certeza de que muitas outras já chegaram. Meu maior desejo é que essa dor que preenche a alma no lugar do orgulho resultante da conquista, não seja repassado ao DNA de minha descendência. O acolhimento de ver várias pessoas iguais na sala, ocupando essas cadeiras é a melhor sensação que pode existir. Que esse sentimento reverbere, enquanto formos poucas, formando um manto de proteção e força para que persistam nessa jornada ainda tão solitária.” 

Sua trajetória exemplifica o que resulta do acesso à educação e empregabilidade, algo que ainda não é a realidade de todos. Atualmente ocupando o cargo de CMO – Chief Marketing Officer e Diretora de Engajamento do Pacto Global da ONU – Rede Brasil, responsável pelas áreas de marketing, comunicação, eventos, CRM e UX – User Experience, e com quase 30 anos de experiência em gestão de marketing e comunicação, ela é considerada – para os padrões da sociedade – como uma profissional de sucesso; o que a coloca em lugar de destaque quando comparada a outras.

A pesquisa apresentada pelo ranking Étnico-Racial do GPTW de 2023 expõe dados que evidenciam o sentimento de Flávia, que entende que as empresas precisam estar engajadas para uma mudança efetiva, e que a liderança de diversidade entenda de fato sobre as questões raciais de modo que o fomento à educação de qualidade e ao conhecimento chegue à totalidade da população, considerando a equidade como ponto chave para esta inclusão. 

Voltando para a pesquisa, GPTW, que disponibiliza para as empresas um selo de acordo com suas práticas de diversidade desde 2017, só em 2018 contemplou o ranking Étnico-Racial, com a participação de 110 empresas. Neste ano foram apresentados os dados de 2023 que já contabilizam 331 empresas participantes. Percebam: um aumento de mais de 300%. Tenho falado insistentemente que é importante verbalizarmos sobre as mudanças que queremos para que as ações sejam concretizadas, e os resultados mostram que estamos no caminho certo.

Tenho em comum com a Flávia, assim como com tantas outras colegas, a esperança, que vem repleta de condutas para abrir portas para as novas gerações. Nossos saberes são multiplicados quando compartilhados, e é nisso que nos empenhamos – propiciar oportunidades para que o acesso ao protagonismo tenha novas faces.

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