Por Prof. Dr. Ivair Augusto Alves dos Santos

Na maior cidade do país, São Paulo, os monumentos públicos em sua maioria são de pessoas brancas e masculinas. Das 210 obras em homenagem a pessoas da capital paulista, 74% relembram pessoas brancas e apenas 5,5% retratam figuras negras. Os dados divulgados nesta quinta-feira (9) são do Instituto Pólis, organização sem fins lucrativos.

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Ser um negro num país racista é ter que construir e reconstruir a sua autoestima dia a dia pela falta de representatividade nos meios de comunicação em massa e nos símbolos de poder. Uma sociedade que não reconhece a contribuição da população negra para a cidade de São Paulo, não vai exibi-la com destaques nas ruas da cidade.
A Associação Cultural do Negro (ACN), organização que surge em 1954 e cessa atividades em 1976, tem a gênese é decorrente da reação às comemorações do quarto centenário paulistano, que deliberadamente excluíram negros e indígenas das celebrações. Graças à mobilização da ACN, conseguiu-se inaugurar um busto no Largo do Paissandu, em homenagem à mãe preta, inserindo no espaço da capital paulista.
A Associação também foi pioneira na homenagem ao escritor Cruz e Souza no seu centenário, em 1960, com construção de um medalhão colocado na praça Dom José Gaspar, ladeando a Biblioteca Mário de Andrade com os bustos de Camões e Dante. Tal fato foi exemplar na síntese do esforço coletivo empreendido pelo movimento negro em São Paulo. O medalhão foi destruído e não existe mais lembrança daquele importante feito da ACN.

Estátua de Mãe Preta. Foto: Ricardo Matsukawa/UOL.

É uma luta de há muito tempo contra a invisibilidade negra na cidade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, pretos e pardos são 37% da população paulistanas A cidade escolheu contar sua história sob o ponto de vista branco e de violência contra às as populações negra e indígena, um exemplo do racismo institucional.
Um exemplo disso é a controversa estátua de Borba Gato, instalada em Santo Amaro, zona sul da cidade, na década de 1960. Em 2021, a peça chegou a ser incendiada porque o bandeirante é associado à caça e escravidão de negros e de indígenas.
Segundo historiadores, muitos dos bandeirantes mataram índios em confrontos que acabaram por dizimar etnias. Também estupraram e traficaram mulheres indígenas, além de roubar minas de metais preciosos nos arredores das aldeias, conforme o livro “Vida e Morte do Bandeirante”, de Alcântara Machado.
As obras engrandecem figuras controversas, segundo a pesquisa, e os monumentos que representam brancos são maiores em sua dimensão em comparação com a dos negros. Figuras que retratam negros têm em média 2,2 metros, 33% menores do que os de monumentos brancos, que têm em média 3,3 metros.
5,5% de monumentos negros na cidade de São Paulo é uma negação absoluta da importância dada à população negra e que pouco reflete a composição racial de São Paulo. As autoridades municipais precisam agir no sentido de resgatar a história e a participação dos negros na cidade de São Paulo.

É preciso rever e retirar as obras que referendam um passado de violência e continuam oprimindo povos negros e indígenas, porque são imagens que engrandecem os algozes de seus antepassados.
Em nota, a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo diz que, entre 2021 e 2022, foram inauguradas cinco esculturas em homenagem a personalidades negras paulistanas elaboradas por artistas negros. Ainda é pouco. Precisamos ser mais céleres em reconhecer a história de trabalho das pessoas negras na construção do país.
O medalhão do poeta e escritor Cruz e Souza que foi destruído, que existia na Pça Dom José Gaspar, ao lado da Biblioteca Municipal , necessita ser reconstruído e exaltado, valorizando a rica e intensa luta de homens como José Correia Leite, Henrique Cunha e Henrique L Alves, da Associação Cultural do Negro na década de 1960.

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