Há tempos observo um fenômeno incômodo e preocupante. Bastou entrarmos no mês de novembro, logo aparece uma minoria negra com comportamentos questionáveis abordando o conteúdo da Consciência Negra, em tom professoral. Elas devem acreditar que ninguém percebe as contradições escorrendo dos discursos, entrevistas e postagens, quando comparadas à prática.
Coisas do tipo: defesa do amor afrocentrado, mas o próprio histórico de relacionamento inclui pessoas brancas; falam na necessidade de apoiar o trabalho de pessoas negras, no entanto, só gastam dinheiro com gente branca, incluindo lojas e supermercados com históricos de crimes racistas. Sem contar aqueles que ignoram o racismo dos amigos brancos e celebridades brancas que admiram. Aliás, andar com os brancos é o passatempo preferido, nas redes sociais até postam orgulhosos os eventos em que são os únicos negros. E não para por aí. Essas situações correm paralelas com outras que também são bastante problemáticas.
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Possivelmente, você já percebeu que a pauta racial tornou-se um negócio. E que baita negócio! Pessoas da nossa comunidade andam tão obcecadas em fazer dinheiro (palestras, cursos, publicidades) que nem dão atenção aos direitos negados ao nosso povo. Aproveitam o tema para alcançar fama e dinheiro. Nem retornam o mínimo concreto que contribua com a luta antirracista. Isso me leva a acreditar que, se o racismo fosse abolido, muitos precisariam reaprender a elaborar currículos.
A Consciência Negra passou longe dessas pessoas; é apenas uma comemoração no dia 20 de novembro. Quiçá, mais uma oportunidade de encher os bolsos.
Eu entendo que seja legítimo procurarmos crescer socialmente, conquistar uma vida confortável. Em vida passamos por tantas mazelas que não podemos sufocar os sonhos. Lélia Gonzalez abordando a dialética entre o coletivo e o individual, escreveu: “Você enquanto pessoa tem que buscar crescer, desenvolver-se também”. Só não pode ser um vale tudo. Precisamos ser éticos no interior do movimento negro, não é correto utilizar as dores dos negros como trampolim. Os esforços coletivos para a emancipação política, social e econômica precisam ser parte desses sonhos. A dica que deixo é que não caiamos na lábia dos negros oportunistas, consciência negra da boca para fora não interessa para o nosso povo.
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