A epopeia de um ator negro

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A epopeia de um ator negro
Foto: Globo/Paulo Belote

Texto: Ivair Augusto Alves dos Santos

Quando vejo um ator negro na televisão, me emociono e penso no quanto ele trabalhou, buscou por uma oportunidade, sofreu decepções, perdeu a esperança e recuperou energias e se reinventou.

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A telenovela “Amor Perfeito” tem dado um show ao mostrar faces negras que não estamos habituados a ver. Cada vez que uma atriz negra, um ator negro, ocupa o cenário penso em Milton Gonçalves e Ruth de Souza.

Ruth de Souza nasceu grande desde as primeiras aparições no Teatro Experimental do Negro na década de 1940. Abdias do Nascimento foi um visionário ao criar o Teatro Experimental do Negro. Foi discriminado, ignorado, mas resistiu com muita dignidade e beleza.

Agora vemos nas telenovelas das 18 horas e das 19 horas atrizes e atores com muito talento, que nos obrigaram a refazer nossos compromissos, para antes e depois das novelas. Esperamos por muito tempo que isso pudesse acontecer.

Um deles me impressiona pela dura caminhada, cheia de percalços, com muitas montanhas, desfiladeiros e planícies de esperas, que só a cultura é capaz de alimentar.

Mestre Ivamar tem uma trajetória de vida que começa na cidade de São Paulo, passa por Luanda, Angola, Londres, Inglaterra e renasce em Macapá, na figura de artista maduro e com experiência de palco.

Olímpia (Analu Prestes), Adélia (Malu Dimas), Neiva (Maria Gal), Popó (Mestre Ivamar), Tânia criança (Gabriela Motta).

Na figura de Popó, pai de Neiva (Maria Gal) e com duas netas Adélia (Malu Dimas) e Tânia (Gabriela Motta/Iza Moreira), concièrge do hotel, se gaba de conhecer intimamente todas as “personalidades” que por lá se hospedam, suas manias e peculiaridades. É um griôt romântico, viveu um lindo casamento com Olímpia (Analu Prestes) e nunca mais se envolveu com ninguém, até se aproximar da professora da cidade e reencontrar o amor.

O personagem é singelo, mas carregado de muitas histórias de vida. Mestre Ivamar é amado e as pessoas de Macapá- AP, Amazônia, se orgulham de ver um ator na TV Globo. A sua presença no enredo começa a ganhar forma e leva milhões de negros a sonhar em um dia fazer parte de um grande espetáculo.

E vem à memória de milhares de atores que em nome da arte lutam diariamente por uma oportunidade, por participar de um espetáculo. Quem vê aqueles rostos pretos na TV, não imagina quanto usaram o verbo esperançar.

Para existirem atores negros em diversas novelas da Globo, houve a necessidade de existirem figuras como Abdias do Nascimento, Grande Otelo, Milton Gonçalves, que ousaram quebrar paradigmas e tornar realidade o que era simplesmente um sonho. Salvem os atores negros brasileiros!

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