A dignidade da mulher negra na teledramaturgia

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A dignidade da mulher negra na teledramaturgia
Foto: Globo/João Miguel Júnior

Por Ivair Augusto Alves dos Santos

A bela e heróica história da teledramaturgia brasileira abriu um capítulo novo com a novela “Amor Perfeito”: a participação das mulheres negras. O que me impressiona é que a mídia não se deu conta da importância dessa novela. A invisibilidade das pessoas negras é tão naturalizada que quando rompe deve ser celebrada com muitas festas, rojões e muito barulho.

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“Amor Perfeito” destacou-se por ter pessoas negras entre os personagens principais na trama, e por ter mais da metade do elenco rico de personagens com mais profundidade narrativa, mais trabalhados, mais complexos em suas variações humanas sobre comportamento das pessoas.

Fomos condicionados a ver na telenovela, empregadas domésticas, sem família, sem paixão, cuja única função era servir, sorrir, ser engraçada. Chorar, se emocionar com as dores do patrão. Falar um português estereotipado de um serviçal com poucos vocábulos.

O elenco constituído por mulheres negras subverteu a ordem naturalizada da subserviência respondendo o que o público pedia por novos rostos e novas interpretações. São histórias ricas de possibilidades, que podem nos aproximar da realidade, do nosso país, com um elenco riquíssimo de talentos como Isabel Filardis (Aparecida Madureira), Maria Gal (Neiva Batista), Juliana Alves (Wanda), Kenia Barbara (Lucília), Luci Ramos (Livia Albuquerque), Iza Moreira (Tania) e Malu Dimas ( Adélia Batista).

Cada uma dessas mulheres trouxe um universo de beleza, delicadeza, luta pela vida, busca por aperfeiçoamento profissional, o encontro com o amor e a paixão.

Maria Gal, na personagem Neiva, trouxe uma história que corresponde à vida de muitas mulheres abandonadas, submetidas à solidão, com a responsabilidade de educar duas filhas. Que não se dão por vencidas. Com muita garra, heroísmo, resistência, em uma luta árdua que vai para além do sustento da família, precisa passar dignidade de ser uma mulher solitária.

Neiva é resgatada para o amor por intermédio da literatura, no convívio com um homem branco de mais idade, e se apaixona iniciando uma nova vida a dois. Quantos preconceitos, tabus, barreiras teve que vencer para se permitir amar de novo.

A vida é mais dura do que na ficção. A maioria das mulheres conquistam sua independência econômica, formam seus filhos, mas permanecem solitárias e o amor fica distante. A história da Neiva tem um final feliz e alimenta a esperança que mulheres podem sonhar e acreditar que voltar a amar é importante e possível.

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