Texto: Ricardo Corrêa
Revolucionários Negros não caem do céu. Somos gerados por nossas condições. Moldados por nossa opressão.
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– Assata Shakur
João Cândido Felisberto nasceu em 24 de junho de 1880, Encruzilhada do Sul, interior do Rio Grande do Sul. Também conhecido como Almirante Negro, liderou a revolta da Chibata, um dos episódios mais significativos da história brasileira e inspiração a todos que lutam pelos direitos humanos. João Cândido nunca recebeu qualquer chibatada durante os 17 anos que esteve na Marinha, e, mesmo assim, compreendeu a necessidade de lutar contra essa prática que ocorria dentro da instituição “Quando não eram as varas de marmelos, era uma… uma corda intitulada corda de… de barca, linha de barca, e sempre os carrascos colocavam agulhas e pregos, preguinhos pequenos na ponta, coberto.” Na noite do dia 22 de novembro de 1910, revoltados com os castigos físicos que recebiam dois mil e trezentos marujos, a maioria pretos e pardos, descendentes diretos de ex-escravizados, insurgiram contra a Marinha.
Liderados por João Cândido, assumiram o controle dos navios de guerra e ameaçaram bombardear a capital federal. No meio das reivindicações, exigiam a melhoria dos soldos, plano de carreira e abolição da chibatada como forma de punição. O Brasil parou! O estopim da revolta aconteceu pelo castigo que o marinheiro, Marcelino Rodrigues Menezes, recebeu no dia 16 de novembro: 250 chibatadas. A revolta se estendeu até o dia 26 de novembro, após o governo conceder anistia aos corajosos marinheiros. No entanto, no dia seguinte, o presidente marechal Hermes da Fonseca assinou um decreto que possibilitava a expulsão dos envolvidos.
João Cândido e outros líderes foram presos na solitária do Batalhão Naval, Ilha das Cobras. Dezoito morreram, exceto dois marinheiros. Como se não bastasse sair com vida daquele “matadouro”, João Cândido foi considerado louco e internado no Hospital de Alienados, onde permaneceu por quase dois meses. Depois o mandaram novamente para o presídio. No final de 1912, recebeu a expulsão da Marinha.
A vida do Almirante Negro prosseguiu repleta de dificuldades econômicas, e tragédias familiares, mas a dignidade e a coragem continuaram inabaláveis. Em entrevista para o Museu da Imagem e do Som (1968), ao ser questionado qual seria a atitude se pudesse voltar no tempo, respondeu “Teria agido da mesma forma”.
O nosso herói faleceu aos 89 anos, no Rio de Janeiro, vítima de câncer de intestino.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Arias Neto, J. M. (2009). João Cândido 1910-1968: arqueologia de um depoimento sobre a Revolta dos Marinheiros. História Oral, 6.
MOREL, Marco. João Cândido e a luta pelos direitos humanos. Livro fotobiográfico. Brasília: Fundação Banco do Brasil, 2008. v. 1.
PASSOS, Eridan. João Cândido: o herói da ralé. São Paulo: Expressão Popular, 2008
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