
As buscas arqueológicas iniciadas nesta quarta-feira (14) no estacionamento da Santa Casa Bahia, em Salvador, podem revelar o maior cemitério de escravizados da América Latina. Estima-se que até 150 mil corpos de pessoas escravizadas, pobres, suicidas e outros marginalizados tenham sido enterrados no local entre os séculos 18 e 19.
De acordo com a pesquisadora Silvana Oliveiri, responsável pela identificação do cemitério no terreno da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, estudos preliminares indicam a possibilidade de 80 mil a 150 mil corpos no local. A equipe arqueológica pretende encontrar pelo menos parte das ossadas nos próximos dez dias. A arqueóloga Jeanne Almeida, integrante do projeto, afirmou ao jornal Correio da Bahia que o cemitério pode ser o maior da América Latina e o mais antigo do Brasil, datando do século 18. “Já escolhemos locais pontuais com maior potencial arqueológico para as intervenções. Vamos trabalhar até localizar os indivíduos que buscamos”, disse.
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Se confirmada a existência do cemitério, outras áreas de Salvador poderão ser investigadas, como o Largo do Campo da Pólvora, onde escravizados muçulmanos foram assassinados durante a Revolta dos Malês (1835). A Conen (Coordenação Nacional de Entidades Negras) já pede a renomeação da estação de metrô local para “Estação Campo da Pólvora Malês”.
Na manhã de quarta, líderes religiosos, pesquisadores e autoridades participaram de um ato inter-religioso no local. A promotora de Justiça Lívia Sant’Anna Vaz (MP-BA) destacou a importância simbólica da iniciativa: “Não temos notícia de nenhum achado como esse que tenha incluído um ato religioso para pedir licença e agô [permissão espiritual]. Essa é uma forma de resgatar nossa história. Hoje, 14 de maio, é considerado o dia que nunca acabou pelos movimentos negros, porque não houve libertação efetiva em termos de dignidade. Nossa libertação está por vir.”
Samuel Vida, professor de Direito da UFBA, ressaltou a dimensão espiritual da descoberta: “Essas pessoas foram enterradas sem ritos funerários ou dignidade. Entendemos que também nesse plano cabem reparações.”
As escavações ocorrerão de segunda a sábado, das 7h às 16h, com expectativa de resultados preliminares em até dez dias.
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