A filósofa e militante brasileira Sueli Carneiro, uma das principais vozes do feminismo negro no Brasil, recebeu oficialmente o título de cidadã beninense na última terça-feira, 17, em uma cerimônia realizada na cidade de Cotonou, capital econômica do Benim. O evento contou com a presença de autoridades do governo local, como Olushegun Adjadi Bakari, Ministro das Relações Exteriores, e Yvon Detchenou, Ministro da Justiça e Legislação, além de representantes do ativismo e da cultura, incluindo Luanda Carneiro Jacoel, filha de Sueli, e a diretora do documentário “Mulheres Negras em Rotas de Liberdade”, Urânia Munzanzu.
Sueli é a primeira brasileira a ser agraciada com a cidadania beninense, concedida como parte de uma política de reparação histórica do governo local voltada para a comunidade afrodiáspora. O reconhecimento reflete um gesto simbólico que busca reparar as feridas deixadas pela escravização e reconectar descendentes africanos espalhados pelo mundo às suas origens no continente.
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“A outorga contraria o vaticínio da porta do não retorno. As mulheres negras que estão fazendo essa travessia voltam para dizer que não esqueceram as suas raízes, o seu pertencimento e a sua ancestralidade”, afirmou Sueli durante a cerimônia.
A medida é embasada em uma legislação recente do governo do Benim, que busca promover a reconciliação histórica entre o continente africano e os descendentes das vítimas do tráfico transatlântico de escravizados. A ação foi destacada pelo presidente do Benim, Patrice Talon, durante sua visita ao Brasil em maio deste ano, como um compromisso de estreitar os laços entre África e a diáspora.
O momento histórico foi registrado pelas lentes do documentário “Mulheres Negras em Rotas de Liberdade”, que acompanha figuras como Sueli Carneiro, Conceição Evaristo e Erica Malunguinho em uma jornada pela África Ocidental — incluindo Senegal, Benim e Nigéria. O filme revisita rotas de tráfico de pessoas escravizadas e reflete sobre os conceitos de liberdade e ancestralidade por meio da perspectiva de mulheres negras brasileiras.
Para Sueli, que carrega décadas de ativismo pela equidade racial e de gênero, a cidadania beninense transcende o reconhecimento individual e reforça a importância de um diálogo entre Brasil e África. “Voltam também para reivindicar: não aceitamos que vocês nos esqueçam!”, concluiu.
A iniciativa abre precedentes para que outros países africanos sigam o exemplo do Benim, sinalizando um novo capítulo nas relações políticas e culturais entre os dois lados do Atlântico.
Com informações de Geledés
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