Trump e o fim do DEI: Professor vê paralelos entre ataque à diversidade e segregação das Leis Jim Crow

0
Trump e o fim do DEI: Professor vê paralelos entre ataque à diversidade e segregação das Leis Jim Crow
Foto: REUTERS/Brian Snyder

Nos Estados Unidos, políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) estão sob forte ataque. Em declarações recentes, o ex-presidente Donald Trump afirmou que pretende desmantelar essas iniciativas e compensar financeiramente estudantes brancos que, segundo ele, foram prejudicados pelas políticas de equidade. Essa postura é reforçada pelo Project 2025, um plano conservador elaborado pela Heritage Foundation que visa erradicar o DEI em instituições federais e educacionais, criando o que críticos consideram um retrocesso nos direitos civis. Para Linn Washington Jr., professor de jornalismo na Temple University e experiente analista de questões de raça e justiça nos Estados Unidos, o movimento lembra a era das Leis Jim Crow, que institucionalizaram a segregação racial no país e promoveram divisões sociais e econômicas com impactos duradouros na população negra.

Washington Jr. destaca que as políticas de DEI foram desenvolvidas para enfrentar desigualdades estruturais e incluir grupos historicamente marginalizados. Ele acredita que o desmantelamento dessas iniciativas representa uma ameaça aos avanços conquistados na igualdade racial e social. “Eles querem acabar com todo o DEI. DEI agora se tornou a pior coisa do mundo, como se estivessem ‘vindo atrás dos seus filhos’, querendo mudar suas ideias,” afirmou o professor. Para ele, o ataque ao DEI reflete um padrão histórico de exclusão, e ele traça paralelos entre o momento atual e a implementação das Leis Jim Crow no final do século XIX.

Notícias Relacionadas


Segundo Washington Jr., as Leis Jim Crow foram criadas em uma época de crise econômica, quando fazendeiros brancos e negros pobres começaram a se unir contra a opressão econômica. “Na década de 1890, com a depressão no país, fazendeiros pobres do sul — negros e brancos — começaram a perceber que tinham algo em comum: a pobreza. Eles entendiam que o problema não era entre eles, mas o capitalismo do norte, que os explorava,” explicou o professor. Para evitar essa união, foram instituídas as Leis Jim Crow, estabelecendo divisões raciais. Washington Jr. vê um padrão semelhante na retórica conservadora contra o DEI, onde a questão racial é usada para fomentar divisões e impedir a união das comunidades.

A fala recente de Trump, em um vídeo de 2023, reafirma sua postura anti-DEI ao prometer medidas punitivas contra instituições que promovam iniciativas de equidade. “As escolas que persistirem na discriminação explícita e ilegal, sob o pretexto de equidade, não apenas terão suas dotações tributadas, mas… serão multadas em até o valor total de suas dotações,” afirmou Trump. Ele ainda acrescentou: “Vamos tirar essa insanidade antiamericana de nossas instituições de uma vez por todas.”

O Project 2025, elaborado pela Heritage Foundation, formaliza esse movimento ao propor a eliminação de termos como “diversidade”, “equidade” e “inclusão” de regulamentações federais, e até o fechamento do Departamento de Educação, apontado como disseminador dessas políticas. A Teen Vogue criticou o plano, destacando que ele representa um “retrocesso perigoso” e um “apagamento das conquistas na luta contra a desigualdade racial e social nos EUA.”

Na visão do professor, a oposição ao DEI não é apenas uma questão de ideologia, mas uma ameaça estrutural que pode comprometer décadas de progresso em direitos civis e inclusão.

(Nota: A entrevista com o professor Linn Washington Jr. foi realizada por nossa equipe durante o Reporting Tour nos EUA, um programa que reúne jornalistas internacionais para cobrir questões de relevância global.)

Notícias Recentes

Participe de nosso grupo no Telegram

Receba notícias quentinhas do site pelo nosso Telegram, clique no
botão abaixo para acessar as novidades.

Comments

No posts to display