Abolição: O 13 dos 130, nada a celebrar

0
Abolição: O 13 dos 130, nada a celebrar

O Brasil está, desde o ano de 1500, em franco processo de amadurecimento civilizatório. E a dinâmica dos fatos históricos tem sido, ano a ano, testemunhada, vivida e (porquê não dizer?) construída pela imensa população de brasileiras e brasileiros descendentes dos muitos povos aqui chegados da África, por volta dos primeiros anos do século 16. Até o ano de 1888, através da côrte portuguesa (e também transversalmente pela Inglaterra, França e Holanda), o Brasil fez uso do contigente humano de outro continente de forma vil, abusiva e exploratória.

Foram mais de 350 anos de concentração de riquezas e estruturação de elites familiares que, através dos tempos, haveriam de acumular fortunas e privilégios os quais ainda são perceptíveis e socialmente desproporcionais em pleno século 21.

Notícias Relacionadas


Não há exagero algum em propor que as bases do PIB (Produto Interno Bruto – o resumo anual das atividades econômicas do país) do Brasil, foram lançadas pelo trabalho escravizado de africanas e africanos e suas descendências, uma vez que foi o “financiamento” da mão de obra GRATUITA E SEM SALÁRIO dos povos sequestrados da África (e também temporariamente com a exploração da mão de obra dos povos nativos da terra) que permitiu ao Brasil estabelecer minimamente uma estrutura de extração e de produção agrícola, a qual veio a viabilizar o confinamento do poder oligárquico, de patrimônio e de receitas por parte das famílias quatrocentonas brasileiras de norte a sul e leste e de leste a oeste do país.

Com exceção do ciclo do Pau Brasil, cuja extração braçal foi exclusivamente protagonizada pelos povos nativos da terra, os ciclos posteriores; a saber, da cana-de-açúcar, do ouro, do algodão, do café, da borracha… todos estes segmentos da história econômica do Brasil foram mantidos com o suor e o esforço físico NÃO REMUNERADO dos seres humanos sequestrados do outro lado do oceano Atlântico.

Passados 130 anos e nós, os frutos daquele imenso baobá africano desembarcado no Brasil, e há menos de 10 gerações desde aquele dia 13 de Maio, ainda subsistimos e resistimos sob as vicissitudes de uma cidadania de segunda classe.

Nossas mulheres ainda são os alvos majoritários de todas as formas de violências afetivas, emotivas, físicas e não tem o reconhecido valor e a devida reparação social. Nossa terceira idade ainda é ignorada em políticas públicas de saúde desprovidas do recorte étnico em suas formulações. A nossa comunidade Afro-LGBT é alvo da hiper-discriminação generalizada em praticamente todos os segmentos da sociedade. Os homens de fenótipo negro continuam sendo mortos, encarcerados e marginalizados pelo olhar excludente de quem detém o poder legal e o comando financeiro nas esferas estratégicas do país. E nossas crianças continuam sendo segregadas e estigmatizadas nos ambientes sociais e educacionais de nossa sociedade.

Mas os exemplos de Zumbi dos Palmares e de Dandara, entre outras e outros, são o nosso norte!

Com todo este cenário adverso, resistimos. Somos mais de 50% da população deste país.
Se o projeto de civilização de quem quer almeje conduzir o Brasil for fazer deste pedaço de chão um imenso QUILOMBO democrático, desenvolvido e justo, VAI TER QUE INCLUIR o seu contigente “afro” em suas estratégias de Nação.

Sem o seu POVO PRETO feliz, com saúde, dignidade humana, emprego, reconhecimento e reparação histórica e dinheiro no bolso, a conta do Brasil NÃO FECHA!

Abolição da Escravatura: NADA, ABSOLUTAMENTE NADA A CELEBRAR!

O dia 13 de Maio, para as filhas e os filhas da África, nunca chegou à meia-noite.

E o dia 14 de Maio, para nós, ainda não amanheceu.

E nós NÃO VAMOS esperar outros 130 anos…

Notícias Recentes

Participe de nosso grupo no Telegram

Receba notícias quentinhas do site pelo nosso Telegram, clique no
botão abaixo para acessar as novidades.

Comments

No posts to display