Às vésperas do Mês da Consciência Negra, a exposição inédita “Ancestral: Afro-Américas – Estados Unidos e Brasil” será inaugurada na próxima terça-feira, 29 de outubro, no MAB FAAP, em São Paulo, com entrada gratuita. A mostra convida à uma reflexão profunda sobre as conexões entre esses dois países sob a ótica da diáspora africana, da escravidão e do colonialismo.
Sob a direção artística de Marcello Dantas, e com curadoria compartilhada entre a artista norte-americana Lauren Haynes e a brasileira Ana Beatriz Almeida, “Ancestral” reúne o trabalho de 73 artistas afrodescendentes. Esta será a maior exposição de artistas afrodescendentes do Brasil e Estados Unidos já realizada no país.
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Serão apresentadas 132 obras de artistas brasileiros e norte-americanos, celebrando não apenas aqueles que desafiaram as brutalidades e o apagamento do colonialismo, mas também promovendo um diálogo sobre a relevância das raízes africanas ancestrais na formação cultural desses países.
“Ancestral” é uma realização da Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, com o apoio da Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil. O evento conta com diversos patrocínios, entre eles o Bank of America, que cedeu 52 obras de sua coleção para a mostra. O Museu Afro Brasil também contribuiu com peças de seu acervo. A exposição estará em cartaz até 26 de janeiro de 2025.
A mostra homenageará pioneiros na arte afro-brasileira:
Abdias Nascimento (1914-2011), poeta, dramaturgo, artista plástico e ativista panafricano, foi deputado federal, senador da República e Professor Emérito da Universidade do Estado de Nova York (EUA). Como parlamentar, ele foi autor das primeiras propostas
ao Estado brasileiro de políticas públicas de combate ao racismo (1983). É autor do conceito político-cultural de Quilombismo. Fundou o Teatro Experimental do Negro em 1944. Organizou em 1950 o 1o Congresso do Negro Brasileiro, que propôs a criação de um Museu
de Arte Negra. Curador do projeto de 1950 até 1968, quando realizou sua exposição inaugural, ele continuou o trabalho no exílio (1968-1981), onde desenvolveu sua própria pintura e exibiu em museus, galerias e universidades dos Estados Unidos. Na volta ao Brasil,
fundou o Ipeafro, que hoje tem a missão de preservar, gerir, articular e difundir em múltiplas linguagens o acervo e o legado dele e das organizações que ele criou.
Deoscóredes M. dos Santos nasceu em Salvador em 1917. Além de escultor e escritor, Mestre Didi foi um importante pesquisador e líder religioso, e realizou trabalhos de grande relevância para os estudos sobre a arte sacra ligada às religiões Afro-Brasileiras. Toda a sua obra está ligada ao universo Nagô, povo de origem Iorubana. Suas esculturas, feitas predominantemente com materiais orgânicos, palha, madeira, metal, bambu, búzios e contas, são herdeiras da arte tradicional do povo Iorubá e dos objetos litúrgicos, bem como das representações simbólicas de entidades do culto aos ancestrais. Elementos da cultura visual iorubá, como pássaros, cobras, lanças e chamas são retrabalhados pelo autor em peças que evocam a ancestralidade, as entidades e as narrativas da religião deste povo africano.
Isa do Rosário (1966) realiza contações de histórias e outras atividades, como palestras e exposições voltadas para a divulgação e preservação da cultura afro-brasileira há mais de 15 anos, tanto na cidade natal de Batatais (SP) como em algumas cidades
da região. Entre 2011 e 2012, realizou estágio no Museu Histórico e Pedagógico Dr. Washington Luís de Batatais, onde desenvolveu inúmeras atividades voltadas para monitoria de exposições e ações educativas. Seu trabalho já foi exposto nas escolas e espaços
culturais de Batatais, Franca, Brodowski e outras cidades da região.
Heitor dos Prazeres (1898-1966) foi um multiartista carioca, conhecido por sua atuação no samba e nas artes visuais. Iniciou sua carreira musical na década de 1920, participando da criação de escolas de samba como Mangueira e Portela. Em 1937, aos 40
anos, começou a pintar de forma autodidata, retratando a vida cotidiana da população negra do Rio de Janeiro. Sua obra caracteriza-se pelo ritmo e movimento, refletindo sua conexão com a música. Foi premiado na 1ª Bienal de São Paulo (1951) e participou da
Bienal de Veneza (1952). Em 2023, o CCBB RJ realizou uma retrospectiva reunindo mais de 200 trabalhos seus. Suas obras estão em diversas coleções públicas, como Museu Afro Brasil (São Paulo), Museu de Arte de São Paulo – MASP, Museum of Modern Art – MoMA (Nova
York), entre outros.
Arthur Bispo do Rosario (Japaratuba, Sergipe, 19111 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1989) destaca-se por ter desenvolvido, com objetos cotidianos das instituições em que viveu internado após o diagnóstico como esquizofrênico-paranoico, uma produção
em artes visuais reconhecida nacional e internacionalmente. Os trabalhos de Bispo variam entre justaposições de objetos e bordados. Nas obras do primeiro tipo, geralmente usa itens de seu cotidiano, como canecas de alumínio, botões, colheres, madeira de caixas
de fruta, garrafas de plástico, calçados e materiais comprados por ele ou pessoas amigas. Para os bordados, usa tecidos disponíveis, como lençóis ou roupas, e obtém os fios ao desfiar o uniforme azul de interno. Além de ter se tornado uma das referências para
as gerações de artistas brasileiros dos anos 1980 e 1990, a obra de Bispo lega ao Brasil um fazer artístico que retrata e ressignifica, com uma estética e temática particulares, os objetos e experiências do mundo e da vida cotidiana.
Serviço:
Exposição “Ancestral: Afro-Américas – Estados Unidos e Brasil”
Período: de 29 de outubro de 2024 a 26 de janeiro de 2025
Local: MAB – FAAP – Rua Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo
Funcionamento: de terça a domingo, das 10h às 18h. Fechado às segundas-feiras.
Entrada gratuita. Mais informações: (11) 3662.7198
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