A multinacional Heinz foi alvo de críticas severas nos últimos dias devido a dois anúncios publicitários lançados internacionalmente, ambos acusados de perpetuar estereótipos racistas sobre a população negra. As campanhas, veiculadas no Reino Unido e em outros países europeus, foram rapidamente removidas após protestos públicos, e a empresa emitiu pedidos de desculpas formais, reconhecendo o impacto das peças.
O primeiro incidente ocorreu com uma campanha criada pela agência VML, destinada a promover molhos em embalagem “família” da Heinz no Reino Unido. Um dos principais anúncios da campanha foi distribuído em diversos pontos do metrô de Londres e apresentava um cenário familiar: um casal recém-casado saboreando uma refeição ao lado dos pais do noivo, que são brancos, e da mãe da noiva, uma mulher negra.
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O detalhe que não passou despercebido nas redes sociais foi a ausência do pai da noiva, o que provocou uma enxurrada de críticas ao retrato familiar. Muitos viram na peça publicitária uma perpetuação do estereótipo de que pais negros são frequentemente ausentes na criação dos filhos.
A crítica mais notável veio do jornalista e escritor britânico Nels Abbey, que apontou o problema em seu perfil no X (antigo Twitter), onde escreveu: “Acredite ou não, mulheres negras também têm pais”. A fala de Abbey rapidamente ganhou força entre os usuários, gerando um debate sobre como estereótipos raciais ainda permeiam campanhas de grandes marcas. Com a pressão aumentando, a Heinz decidiu retirar a campanha do ar e divulgar um pedido de desculpas, afirmando que não houve intenção de ofender, mas reconhecendo o impacto negativo da mensagem.
“Compreendemos que esse anúncio possa ter reforçado estereótipos negativos de forma não intencional. Nossas desculpas são sinceras, e vamos continuar a escutar, aprender e melhorar para garantir que isso não volte a ocorrer”, declarou a Heinz em comunicado oficial.
Entretanto, essa não foi a única controvérsia que a marca enfrentou nos últimos dias. Em uma segunda campanha, dessa vez voltada para o Halloween, a Heinz voltou a ser criticada por reproduzir estereótipos raciais, com foco na representação de pessoas negras.
A campanha, desenvolvida pela agência Gut e veiculada em vários mercados europeus, trazia o slogan “It Ha-Ha-Has to be Heinz”, em referência ao personagem Coringa. A ideia central era mostrar consumidores com os lábios cobertos de ketchup, em uma clara alusão ao sorriso do vilão icônico dos quadrinhos.
No entanto, uma das peças mais polêmicas retratava um homem negro com o rosto coberto de ketchup, gerando acusações de que a imagem remeteria ao “blackface” — uma prática racista historicamente usada para ridicularizar pessoas negras. O uso exagerado do ketchup nos lábios foi comparado às antigas caricaturas racistas, que distorciam as características físicas de pessoas negras, especialmente os lábios, para reforçar estereótipos desumanizantes.
A reação foi imediata. Diversas pessoas denunciaram a campanha nas redes sociais, apontando que, embora a proposta pudesse ser inofensiva à primeira vista, a associação visual feita com o blackface não podia ser ignorada, especialmente em um contexto cultural tão sensível. “É preciso entender que a história por trás dessas caricaturas é dolorosa e está intimamente ligada à opressão racial. Mesmo que não tenha sido intencional, o impacto é inegável”, comentou um ativista nas redes sociais.
Com o aumento das críticas, a Heinz mais uma vez recuou, removendo a campanha de circulação e emitindo um novo pedido de desculpas: “Estamos sempre buscando ouvir e aprender com nosso público global. Lamentamos profundamente o impacto causado por essa campanha e vamos trabalhar para garantir que erros como esse não voltem a acontecer”, disse um porta-voz da Heinz.
Os dois episódios refletem uma realidade cada vez mais presente no mundo corporativo: as marcas precisam estar atentas às questões sociais e culturais ao desenvolver suas campanhas. O público, especialmente nas redes sociais, está mais crítico e vigilante, cobrando posturas que reflitam maior responsabilidade e sensibilidade diante de questões raciais e de identidade. No caso da Heinz, as duas polêmicas servem como um lembrete de que a comunicação deve ser mais inclusiva e atenta à diversidade, para evitar a perpetuação de estereótipos nocivos.
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