Uma pesquisa conduzida por Matheus Henrique Dias, biomédico e especialista em biologia molecular, promete revolucionar o tratamento do câncer colorretal, o segundo mais comum no Brasil, afetando milhares de pessoas, como é o caso da cantora Preta Gil, que enfrenta uma batalha contra a doença. A descoberta, realizada no Instituto do Câncer da Holanda, propõe uma abordagem inédita: em vez de frear a multiplicação das células cancerígenas, a nova técnica busca superestimulá-las até que entrem em colapso, causando um “tilt” (termo em inglês que significa inclinar ou inclinação e que no universo dos videogames, ‘tilt’ é usado para dizer que o jogo teve um erro e ficou travado) celular que leva à sua destruição.
Dias, que há quase 20 anos se dedica à pesquisa biomédica, relatou que a descoberta ocorreu durante estudos sobre a divisão celular. Ao aplicar um estimulante para acelerar esse processo, ele notou que as células entravam em colapso devido ao estresse causado pela superestimulação. “Quando esse sinal para a célula se multiplicar aumenta, gera um estresse tão intenso que ela não consegue mais lidar com isso, e então, ela se divide menos”, explicou o pesquisador em entrevista para o portal g1.
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Essa nova estratégia vai na contramão dos tratamentos tradicionais, como quimio e radioterapia, que visam frear o crescimento das células. O estudo, publicado na revista científica Cancer Discovery, indica que o método pode oferecer uma resposta mais eficiente ao câncer colorretal, atacando diretamente as células cancerígenas sem gerar resistência, um problema comum nas terapias atuais.
Como funciona o tratamento?
O tratamento combina duas medicações que superestimulam as células tumorais, levando-as ao tilt. Em seguida, a célula é impedida de se recuperar, resultando em sua morte. De acordo com a pesquisa, essa abordagem também minimiza os efeitos colaterais típicos dos tratamentos convencionais, que acabam atacando células saudáveis.
Os testes clínicos da nova técnica, previstos para começarem até o fim deste ano, serão aplicados em pacientes com câncer colorretal que não respondem mais aos tratamentos disponíveis. Apesar do foco inicial nesse tipo de câncer, Matheus Dias acredita que a técnica pode ser aplicada a outros tipos de tumores em diferentes estágios da doença.
Impacto no tratamento do câncer colorretal
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer colorretal já é o segundo tipo mais comum no Brasil. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o número de procedimentos para pacientes com essa doença subiu de 91 mil, em 2014, para 131 mil em 2023. Especialistas apontam que a mortalidade pode aumentar em 10% até 2030, com uma estimativa de 27 mil mortes anuais.
A cantora Preta Gil, diagnosticada com câncer colorretal em 2023, chegou a anunciar a remissão da doença em dezembro, após o término do tratamento. Contudo, em agosto deste ano, ela revelou que o câncer havia retornado, atingindo quatro áreas diferentes do corpo, ressaltando a agressividade e a resistência do tumor.
Especialistas avaliam descoberta
O chefe do grupo de Gastrointestinal da Oncologia Clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), Jorge Sabbaga, considera a descoberta promissora, mas destaca que a técnica ainda precisa passar por várias fases de testes clínicos antes de se tornar disponível. “É uma pesquisa de extrema relevância, uma descoberta revolucionária que trará novas perspectivas para o tratamento do câncer no futuro”, afirma Sabbaga.
João Viola, coordenador de Pesquisa e Inovação do Inca, também vê a pesquisa com otimismo, mas ressalta a necessidade de mais estudos. “Embora os resultados pré-clínicos sejam sólidos, ainda estamos longe de um tratamento disponível no curto prazo. São necessárias novas rodadas de testes para garantir a segurança e eficácia do método”, explica.
Se bem-sucedido, o tratamento desenvolvido por Matheus Henrique Dias pode representar uma nova esperança para milhares de pacientes com câncer colorretal e outros tipos de câncer, abrindo um novo capítulo na luta contra a doença.
Com informações do g1.
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