A invisibilidade do PrEP entre pessoas negras: uma reflexão sobre o acesso e a informação

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A invisibilidade do PrEP entre pessoas negras: uma reflexão sobre o acesso e a informação
Foto: Reprodução/Freepik

Texto: Rodrigo França

Minha provocação neste texto nasce de uma inquietação pessoal: entre meus amigos negros e amigas negras, sejam eles LGBT ou não, poucos sabem da existência da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV, o famoso PrEP. Isso me leva a questionar, por que essa informação não chega às pessoas negras? Por que, mesmo após anos de políticas públicas e avanços no campo da saúde, ainda temos um abismo tão grande em termos de acesso e conhecimento sobre métodos de prevenção como o PrEP entre a população negra?

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A Profilaxia Pré-Exposição, conhecida como PrEP, é uma estratégia eficaz para prevenir a infecção pelo HIV. Trata-se de um comprimido que, tomado diariamente, impede que o vírus se instale no organismo de pessoas expostas ao risco de contrair o HIV. A eficácia do método, somada à sua inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2018, deveria ser um grande trunfo na luta contra a disseminação do HIV, especialmente em grupos vulneráveis. No entanto, o que vemos é um cenário no qual o acesso à informação e ao próprio tratamento ainda está limitado para a população negra.

De acordo com dados recentes do Ministério da Saúde, embora as mortes por AIDS tenham diminuído no Brasil, a disparidade racial persiste de maneira alarmante. Pessoas negras, em particular, ainda sofrem mais com a doença em comparação com a população branca. Parte dessa disparidade pode ser atribuída ao difícil acesso a tratamentos adequados, mas também à ausência de informações sobre métodos de prevenção como o PrEP, que poderia salvar vidas. O estudo da UFMG sobre desigualdade racial no acesso ao tratamento de HIV/AIDS, por exemplo, evidenciou o quanto a população negra está mais suscetível a enfrentar barreiras institucionais e sociais para obter esse tipo de tratamento.

Essa falta de informação tem raízes profundas. Como mostrado em diversas pesquisas, o racismo estrutural afeta diretamente a saúde da população negra, limitando tanto o acesso a cuidados médicos quanto à educação em saúde preventiva. A invisibilidade das pessoas negras em campanhas de conscientização sobre HIV/AIDS também contribui para essa realidade. Poucas são as iniciativas que falam diretamente a essas populações, seja nas ruas, nas redes sociais ou nos centros de saúde, o que reforça a lacuna entre os direitos conquistados no papel e sua aplicação na prática.

O PrEP é uma ferramenta importantíssima no controle do HIV, mas ainda é pouco difundido entre pessoas negras e grupos vulneráveis. O impacto dessa ausência de informação é claro: uma população que já está sob maior risco de contrair o HIV, por razões históricas e sociais, se vê ainda mais desprotegida diante da falta de conhecimento sobre como se prevenir. Nesse cenário, cabe refletir: como podemos reverter esse quadro? A inclusão do PrEP no SUS foi um avanço importante, mas não basta disponibilizar o medicamento se a população negra não tem acesso à informação sobre ele. Precisamos de campanhas que dialoguem diretamente com essas comunidades, levando a informação onde ela realmente é necessária, em linguagens que façam sentido e por meio de lideranças que possam mediar essa conversa.

O tratamento preventivo para o HIV, especialmente em uma era de tantas inovações na medicina, deveria ser um direito acessível a todos e todas, independentemente de sua cor, classe ou orientação sexual. Contudo, enquanto não formos capazes de quebrar as barreiras estruturais que impedem esse acesso, estaremos perpetuando um ciclo de vulnerabilidade e exclusão. É preciso enxergar que o racismo também adoece, e, mais do que isso, mata, ao negar o básico: a informação e o cuidado.

Em última instância, a solução passa por uma mudança de postura não só das políticas públicas, mas também de toda a sociedade. Precisamos de mais representatividade, mais vozes negras liderando campanhas de saúde e, acima de tudo, mais compromisso em garantir que o PrEP e outros métodos de prevenção sejam verdadeiramente acessíveis a todos e todas. Isso inclui combater os estigmas e a desinformação que ainda cercam o HIV e suas formas de prevenção, especialmente dentro das comunidades negras, que, historicamente, já foram tão marginalizadas nesse debate.

Que essa reflexão sirva como um convite à ação. Se o PrEP pode salvar vidas, devemos garantir que todas as pessoas, principalmente aquelas mais vulneráveis socioeconomicamente, saibam que ele existe.

Se informe! Procure o posto de saúde. 

Se ame! Se cuide, preto.

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