O aumento das apostas esportivas em plataforma online, conhecidas como bets, tem alarmado para um impacto negativo nas famílias mais pobres do Brasil, influenciando o consumo de bens e serviços, comprometendo a renda com o endividamento e a saúde mental.
Os gastos com apostas esportivas já superam outros tipos de despesas, aponta a avaliação da empresa PwC Strategy& do Brasil Consultoria Empresarial Ltda, divulgada em agosto. “Em 2018, as apostas representavam 0,27% do orçamento familiar da classe D e E; hoje, esse percentual saltou para 1,98%, quase quatro vezes mais do que há cinco anos. Por outro lado, os gastos com lazer e cultura diminuíram de 1,7% para 1,5% do orçamento, enquanto os gastos com alimentação se mantiveram estáveis”, disse o economista e advogado Gerson Charchat, sócio e líder da Strategy& do Brasil, em entrevista para a Agência Brasil.
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Além disso, a pesquisa “Futuro das Apostas Esportivas Online: onde estamos e para onde vamos”, levantada pela plataforma Futuros Possíveis, em parceria com a Opinion Box e em colaboração com a Afro Esporte, em 2023, comprovava que pessoas pretas e pardas são as que mais apostaram via site ou app no Brasil, representando um índice maior do que de pessoas brancas, 40% e 33% respectivamente.
Já em maio deste ano, uma pesquisa de opinião feita pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), trouxe outros dados preocupantes. Entre as pessoas que apostam, 64% afirmaram que usam parte da renda principal para tentar a sorte; 63% relatam que tiveram parte da sua renda comprometida com as apostas online; 23% deixou de comprar roupa, 19% itens de mercado, 14% produtos de higiene e beleza, 11% cuidados com saúde e medicações.
O levantamento também revela que 58% dos brasileiros que fazem apostas esportivas são homens, enquanto 42% são mulheres. Quanto à distribuição socioeconômica, 54% dos apostadores pertencem à classe C, 33% à classe B, 5% à classe A e 8% às classes D/E. A maioria dos apostadores está no Sudeste, representando 50% do total. A outra metade é composta por 20% do Nordeste, 17% do Sul, 8% do Norte e 5% do Centro-Oeste.
Saúde mental e publicidade
Segundo uma pesquisa do Instituto Locomotiva, 51% dos brasileiros que apostam relatam um aumento nos sintomas de ansiedade. Além disso, 42% dos apostadores enxergam o hábito como uma forma ilusória de escapar dos desafios do dia a dia. No entanto, em vez de aliviar o estresse, essa prática acaba intensificando sentimentos de impotência e isolamento.
Para o Ian Black, fundador e CEO da agência New Vegas, o vício em apostas devem ser tratados da mesma forma que cigarro e bebidas, com proibição de publicidade e alta taxação. “Os brasileiros têm literalmente na palma da mão uma infinidade de cassinos acessíveis em qualquer lugar, a qualquer minuto. Para piorar, são bombardeados por um arsenal publicitário multibilionário que recruta de celebridades a clubes de futebol para vender ilusões de ganho fácil”, escreveu no editorial do Estadão recentemente, ao criticar o poder público pela regulação das bets.
“Regras de programação podem limitar a exposição dos jogadores a tecnologias desenhadas para excitar emoções autodestrutivas. Para os casos patológicos, os sistemas de saúde podem ser estruturados para promover intervenções psicossociais e farmacológicas, assim como o ordenamento jurídico pode prever intervenções de parentes para impedir a destruição do patrimônio familiar. Mas o poder público permitiu que os bolsos dos brasileiros fossem inundados por máquinas de torrar dinheiro, sem qualquer coordenação para traduzir medidas como essas em políticas públicas”, completa.
Para finalizar, Ian Black ainda reforça que o poder público deveria agir com políticas de redução de danos. “Os neurônios de milhões de brasileiros não têm defesas contra a voracidade dos algoritmos de apostas. O SUS não está preparado para aguentar essa pressão. As famílias não estão preparadas. Só quem está preparado são os agiotas, que estão esfregando as mãos”.
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